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TAIWAN: ENTRE SOPAPOS, GRACEJOS E TRAPALHADAS

Por Jorge Barros 08/08/2022 17h05
TAIWAN: ENTRE SOPAPOS, GRACEJOS E TRAPALHADAS
Nancy Pelosi antes de embarcar em avião no aeroporto de Taipei, em Taiwan

HISTÓRIA & EVOLUÇÃO

Taiwan é um país de regime democrático, localizado numa bela ilha que fica a 160 km da costa sudeste da China. Tem 395 km de comprimento e 145 km de largura. Originalmente lar da cultura própria e marcante dos malaio-polinésios, a ilha tem 23 milhões de habitantes e é considerada uma diáspora institucionalizada.

No século XVI, portugueses passaram por Taiwan e a batizaram de “Ilha Formosa”, nome até hoje usado por muitas pessoas. No século seguinte, a Cia. Holandesa das Índias Orientais (mesmos holandeses que vieram ao Brasil e fundaram as cidades de Recife e Natal) estabeleceu uma base em Taiwan, iniciando transformação qualitativa na produção de grãos e açúcar, abrindo portas para o comércio mundial.

Espanhóis iniciaram bases no norte de Taiwan, mas também foram expulsos pelos holandeses em 1642. Dois anos depois, chineses da dinastia Ming expulsaram os holandeses e estabeleceram sua autoridade, mas foi a dinastia chinesa Qing que governou Taiwan até o início do século XX (1912).

Depois da derrota dos chineses na Guerra Sino-Japonesa em 1900, o governo Qing cedeu Taiwan ao Japão, país que governou a ilha até 1951, quando o Tratado de San Francisco da Califórnia, assinado por 48 nações da ONU, encerrou oficialmente a guerra entre Japão e China, deixando Taiwan com status indefinido.

Em 1958, a ilha iniciou e venceu uma guerrilha contra novos invasores chineses num conflito sangrento que durou 40 dias, com os taiwandeses reivindicando sua independência, mas foi somente em 1991 que Taiwan realizou uma eleição de representantes do seu congresso nacional, obtendo plena institucionalidade e representação internacional; o país se tornou membro da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico.

Em 2002, Taiwan dá um passo mais arrojado e se torna país-membro da OMC. A China continuou a oprimir o povo de Taiwan com ataques e terrorismo. Em 2009 o país participa da Assembleia Mundial da Saúde como país-observador, sua primeira participação oficial numa atividade da ONU. Quatro anos depois, eles assinam um acordo econômico com Nova Zelândia e Cingapura. Apesar de todos os anos de instabilidade, até hoje o Partido Comunista Chinês se recusa a aceitar Taiwan como país livre e independente.

PLANEJAMENTO & AÇÃO FOCADA


O povo de Taiwan sempre foi consciente de suas imensas dificuldades para crescer economicamente. Desde cedo identificaram vocações e singularidades competitivas, planejaram-se estrategicamente e conseguiram inserirem-se no mercado mundial, proporcionando progresso ao país. No início de 1980, Taiwan iniciou um programa focado de educação básica, com ênfase profissional focada em engenharia, medicina e agronomia. Hoje, o analfabetismo é inferior à 3% da população.

PUJANÇA & IMPORTANCIA ECONÔMICA


A pequena Taiwan tem PIB anual de US$ 650 Bilhões, quase metade do PIB do Brasil de US$ 1.450 trilhões. O país é hoje um grande formador de capital intelectual, líder mundial na produção de semicondutores e peças eletrônicas. Diferentemente da China, Taiwan não enveredou pelo caminho criminoso de copiar produtos ou de se apropriar de patentes alheias; o mercado mundial das tecnologias digitais tem apreço e uma relação comercial saudável com a indústria taiwandesa.


LOCALIZAÇÃO ESTRATÉGICA


A Ilha de Taiwan fica abaixo do Japão e da Coréia, acima das Filipinas, Malásia, Cingapura e Indonésia. Sua posição geográfica é privilegiadíssima e porta aos mercados dos tigres asiáticos; é rota de passagem do transporte no Oceano Pacífico e também militarmente estratégico para o mundo livre ocidental.

CRISE, OPORTUNISMO E CONTRA-SENSO NOS EUA


O atual governo dos EUA, liderado pelo Partido Democrata que tem forte viés de esquerda, encontra-se imerso em problemas e com popularidade em franco declínio: descontrole de gastos, desfidelização partidária, altíssima taxa de inflação, estagnação econômica e desemprego galopante. “Há algo de podre no Reino da Dinamarca...”, diria Shakespeare.

Em 2018, Trump sancionou uma lei que incentivava cidadãos americanos a viajarem, conhecerem, estabelecerem relacionamentos e fazerem negócios com Taiwan, enquanto a China se esforçava para sabotar os taiwandeses. Trump recebeu inimagináveis críticas e virulentos ataques à aprovação dessa lei, num movimento liderado por sua mais ferrenha adversária, a deputada democrata Nanci Pelosi.

Pelosi é hoje Presidente da Câmara dos Deputados dos EUA e tenta desesperadamente reverter o quadro político desfavorável ao desastroso governo atual do Presidente Biden, sendo ela também considerada politicamente uma “carta fora do baralho”.

Nessa última terça-feira, 02 de Agosto de 2022, Pelosi desviou o avião em que viajava oficialmente para à Malásia e pousou em Taiwan. Para os chineses, foi invasão de domicílio e a China entrou em alerta de guerra.

Nos EUA, opor-se hoje à política da China é um prato cheio para os americanos. Pelosi espera, com esse gesto tresloucado, angariar apoio de seus patrocinadores (a indústria de TI) e reverter o quadro desfavorável, mas acabou criando uma crise diplomática de consequências incalculáveis com a China.

A ironia desse gesto irresponsável da Deputada Pelosi é que, para pousar em Taiwan, ela usou justamente a lei criada pelo ex-presidente Trump, a quem ela fortemente se opôs há 4 anos.

A mídia mundial está confusa: não sabe se apoia, se condena ou se simplesmente esquece de explorar a trapalhada diplomática da excelentíssima deputada.



Jorge Barros, Ph.D

03 de Agosto de 2022.

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