8 DE DEZEMBRO É O DIA DA FESTA NO MAR: ODOYÁ!
Hoje é um dia especial, dos pontos de vista etnográfico, histórico, cultural e sociológico. Em Alagoas, é a data religiosa sincrética mais expressiva. Aqui, este é o único momento em que os cultos afro-brasileiros se expõem, com todas as suas cores e todo seu fervor, à luz do dia.
Ao contrário da Bahia, por exemplo, onde as celebrações afro-brasileiras, desde há muito tempo, são inúmeras e públicas festas religiosas, culturais e turísticas (como o 2 de fevereiro e a Lavagem do Bomfim), só temos – desta forma maravilhosamente miscigenada – essa data em Alagoas. Isto tem um valor muito especial, único.
Datas católicas não nos faltam. Os evangélicos têm seu dia reconhecido por lei. Sem lei a favor, os terreiros conquistaram seu dia por conta própria, com obstinação, firmeza e coragem. Esse é o valor extra do Dia de Iemanjá, mais valorado ainda por conta das violências sofridas pelo “povo de Xangô” no período do terror conhecido como “Quebra”, em 1912.
Tudo é emblemático, até a escolha, pegando bigú no Dia de Nossa Senhora da Conceição. Em 8 de dezembro de 1854, o Papa Pio IX fez publicar a bula Ineffabillis Deus, criando o dogma da Imaculada Conceição. Maria, genitora de Jesus, passava a ser considerada como concebida sem o Pecado Original, mácula comum a todas as criaturas humanas desde que Adão e Eva pisaram na maçã, conforme preceitua o mito cristão criado, no Século IV, por Santo Agostinho.
Essa novidade chega, na segunda metade do Século XIX, num Brasil escravocrata, povoado por milhões de pessoas pretas cativas e sem o direito de cultuar suas divindades, mas já experientes nos dribles contra a repressão branca. Em algum momento a partir dali, Iemanjá, divindade negra iorubá, ligada às águas, mergulhou no 8 de dezembro, e sua iconografia ganhou até versão com figura feminina pele alva e vestes azuis, conservando – entretanto – características quimbundas em sua silhueta.
Maceió é o território do Dia de Iemanjá em Alagoas. Quando teria começado? Antes ou depois de 1912? O certo é que nos anos 60 os atabaques e as oferendas buscavam beiras do mar pouco concorridas e, durante décadas, a faixa de areia entre as praias do Mata-Garrote (Lagoa da Anta) e da Ponta Verde, então desertas, eram as preferidas. Depois foram se chegando à Pajuçara. Hoje é o principal patrimônio imaterial afro-brasileiro alagoano. Merece ser mais valorizado, prestigiado – e tombado.
Salve Iemanjá! Odoyá!
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