Tic Tac Tic Tac / Por Enio Lins

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Noite feliz, noite de festas, há milênios, para muitos deuses

Por Redação com site* 24/12/2022 09h09 - Atualizado em 24/12/2022 09h09
Noite feliz, noite de festas, há milênios, para muitos deuses
Mitra, em escultura do império romano, século II, encontrada na Vila de Adriano, na comuna italiana de Tívoli, e preservada no Museu Britânico - Foto: Divulgação

PENSE NUMA NOITE EMBLEMÁTICA, expressão maior do dito “nada como um dia depois do outro, com uma noite no meio”. A virada de 24 para 25 de dezembro é uma apropriação fantástica feita pelo cristianismo, via Igreja Católica Apostólica Romana, de uma série de referências próprias de outras crenças muito anteriores ao nascimento de Jesus.

COMECEMOS PELA VÉSPERA. Ou seja, pelo fato que as celebrações se concentram na noite anterior ao dia definido como sendo o nascimento do Messias. Isso se deve à herança do judaísmo, onde o dia – religiosamente falando – começa ao pôr do sol.

NO SITE JUDAICO CHABAD.ORG,
podemos ler: “Quando D'us [sic] criou o universo, Ele criou o tempo, espaço e matéria simultaneamente. No início exato da Criação, o relógio começou a marcar o tempo à 00:00, no instante exato em que o espaço e a matéria começaram a existir. Vinte e quatro horas depois, o Dia Um foi completado. O que diz a Torá? ‘Era noite e era manhã, dia um’. Aquele primeiro dia de vinte e quatro horas começou com a noite e terminou com o dia - e é assim que tem sido desde então”.

PARA O CRISTIANISMO ACOMODAR AS COISAS,
as celebrações começam “na véspera”. Não se esqueçam que Jesus não era cristão e praticava a Lei Mosaica com rigor. Os apóstolos, após sua morte, se organizaram como seita dentro do judaísmo e, bem depois, Paulo (que não era apostolo) criou a religião cristã propriamente dita, independente, com regras não integrantes dos princípios do judaísmo. Mas as raízes judaicas, algumas, ficaram.

A BÍBLIA NÃO DIZ, SEQUER SUGERE
, quando Jesus teria nascido. Dia, mês? Nem pensar. O ano da morte, sim, teve registro, e os cristãos primitivos descontaram 33 anos, o que corresponde o ano da Natividade ser o ano judeu de 3761. Sacaram? A conta deve ser feita, em primeiro lugar, no calendário judaico, pois – insisto – Jesus e os apóstolos eram judeus praticantes. No calendário romano da época, era o ano 525 (contado a partir da fundação de Roma). Tempos depois, os cristãos definiram o ano do nascimento como o ponto de partida, reiniciando o calendário do zero e, a partir daí, contou-se do ano um em diante, e em ré, do ano -1, ou 1 a.C. A força do Império Romano cristianizado espalhou, a partir do Século IV, essa forma de contar o tempo para o mundo. Mas e o dia? Aí não tinha jeito, pois os escritos sagrados não dizem um aleph, alaph, ou alfa, sobre isso.

AÍ PELO SÉCULO IV
não havia como convencer o povão, inclusive os cristãos, a não cair na esbórnia da Saturnália comemorada no derradeiro mês do ano. E, além de Saturno, um outro deus pagão também tinha essa época como marco cerimonial: Mitra, divindade importada da Índia, Pérsia ou Anatólia, simbolizando a sabedoria e a arte da guerra.

MITRA TINHA DIA DE ANIVERSÁRIO,
25 de dezembro. Nessa data a comida era farta, inclusive com sacrifícios de bois (depois servidos em churrasco para os fiéis), e o vinho dava no meio da canela, no mesmo período do ano no qual rolava a troca de presentes das saturnálias.

A SAPIENTE IGREJA NÃO SE FEZ DE ROGADA
e, depois de tentar resistir às festas pagãs, cravou a data de nascimento de Jesus no 25 de dezembro, provavelmente a partir do ano 350, sob o papado de Júlio I. Resolvido o problema. Com o tempo, o aniversariante original, Mitra, se recolheu, sumiu. Dele ficou uma bela escultura de mármore hoje abrigada no Museu Britânico. Já os presentes passaram da administração de Saturno para Papai Noel, inicialmente inspirado na figura de São Nicolau, vivente também no século IV (morreu em 6/12/350) e santo padroeiro da Rússia, Grécia e Noruega, famoso por distribuir presentes. Já as vestes vermelhas não são russas, mas americanas, criadas pela Coca-Cola em 1931.

APOIS PODE COMEMORAR
à vontade, sem culpas, independentemente de sua religião, caso tenha alguma. Beber, comer, amar, presentear são típicos desta época há milhares de anos, muitos séculos antes da estrela de Belém riscar o céu no Oriente Médio.ÓTIMAS FESTAS E FELIZ ANO NOVO!

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