Tic Tac Tic Tac / Por Enio Lins

* Este texto não reflete necessariamente a opinião do Em Tempo Notícias

Sávio foi um sábio, grande sábio

Por Enio Lins 11/02/2023 08h08
Sávio foi um sábio, grande sábio

Sávio de Almeida foi jornalista. Também. E do tipo que não precisa de diploma, nem carteirinha, jornalista-raiz, repórter da história e da cultura, editor de primeira qualidade, atento aos fatos, cuidadoso com a forma e conteúdo, com o tamanho dos textos, com a qualidade das ilustrações e com o design da página.

Um dos trabalhos que lhe dava mais prazer nessa sua quadra final de tempo era o suplemento Campus, inserido (numa iniciativa muito feliz) neste O Dia. Num trabalho minucioso, ele pautava, ligava para as pessoas, escalava colaboradores, discutia os temas. Aguardava ansiosamente cada edição, guardava um exemplar de cada número.

Esse veio jornalístico não foi coisa recente, achado de final de vida, essa prática comunicadora fez parte da vida dele, apenas transmutada a cada momento. Num tempo ele era fonte, noutro era articulista, noutro era entrevistado; e, num determinado período foi entrevistador, conduzindo, ao lado de Gal Monteiro, a edição local do TV Mulher (Rede Globo), na TV Gazeta.

Em minha lide jornalística, contei muito com ele, o tempo todo. Orientava, sugeria ótimas pautas; atendia a consultas e entrevistas a toda hora. Desde os tempos da primeira Tribuna de Alagoas até meus quase 20 recentes anos de Gazeta, Sávio era parceiro presente e solícito, e era um prazer quando ele, retornando, pedia alguma ilustração para algum texto.

Como editor voluntário, Sávio foi além das pautas nos periódicos e sempre incentivou que jornalistas transpusessem seus textos, suas reportagens, para livros. O derradeiro desses trabalhos seus foi a publicação “Jornalistas e a pandemia”, editada pela EdUneal em 2021, numa coedição com a jornalista Elen Oliveira.

Como acadêmico, reforçou a prática de considerar os textos jornalísticos como fontes legítimas e privilegiadas para as pesquisas em todos os níveis. Muitas reportagens foram usadas por ele como base para vários de seus livros, como “Cova Rasa: O Assassinato de Ceiça”, este baseado no noticiário policial de 1905.Vale ressaltar seu talento em orientar publicações de outros além de seus alunos e alunas, como no caso da autobiografia do próprio pai, Manoel de Almeida, obra romanceada de grande valor histórico e criatividade literária, onde está resumida, através da vivência pessoal, parte importante do estilo de vida da Alagoas açucareira.

Bem, além de jornalista, comunicador pródigo, Luiz Sávio de Almeida foi professor universitário, historiador, sociólogo, etnólogo, antropólogo, teatrólogo, romancista, ensaísta, secretário estadual de Educação, pesquisador, consultor, agitador cultural... Sávio foi um gênio múltiplo, diversificado, um lutador incansável por um futuro melhor e mais justo.- Valeu, Mestre Sávio!