O impacto da IA no mercado de trabalho
Nas últimas duas semanas o mundo novamente voltou seus olhos para os Alpes suíços. Como de costume desde 1971, a cidade de Davos realizou mais uma edição do Fórum Econômico Mundial, um encontro anual que tem como proposta reunir líderes governamentais e sociais, executivos, acadêmicos e jornalistas para discutir problemas e soluções para o planeta.
Além da pauta climática, a inteligência artificial (IA) foi outro tema de destaque no Fórum de 2024. Dentre as necessidades de regulação da IA e outros desdobramentos polêmicos, um deles chamou muita atenção: o impacto no mercado de trabalho e a forma que os CEOs olham para a IA.
A PwC conduziu uma pesquisa com 4.702 em 105 países no último trimestre de 2023. Os resultados da pesquisa foram publicados durante a reunião anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça, onde revelou-se que cerca de 25% dos CEOs entrevistados planeja cortar suas equipes em pelo menos cinco por cento "devido à AI generativa" ainda em 2024.
As áreas mais afetadas pelas demissões, de acordo com o levantamento, serão entretenimento, mídias, bancário e mercado de capitais. A expectativa é um aumento de receitas, combinado com aumento de eficiência e aumento da qualidade dos produtos oferecidos. Pelo que se pode entender, os CEOs apostam que será mais barato e eficiente implementar soluções baseadas em IA e diminuir a contratação de mão de obra humana, o que causa instabilidade e receio no mercado de trabalho.
No entanto, pode ser que esses executivos tenham que esperar um pouco mais para ver resultados positivos nos balanços de suas empresas. Uma publicação recente feita pelo MIT (Massachussetts Institute of Technology) revelou que, em muitos casos, substituir trabalhadores humanos por AI ainda é mais caro do que manter as pessoas empregadas, uma conclusão que vai contra os medos atuais sobre a tecnologia acabar com todos os postos de trabalho.
É fato que toda mudança tecnológica que quebra paradigmas importantes para a humanidade, como aconteceu na Revolução Industrial e vem acontecendo desde a Revolução Tecnológica, muda nossa forma de nos relacionarmos com o trabalho. Algumas atividades naturalmente deixam de existir, e é necessário adaptação e resiliência para se ajustar às novas regras do mercado de trabalho.
O que assusta com a grande revolução das inteligências artificiais é a velocidade exponencial com que essas mudanças chegam ao nosso cotidiano como trabalhadores, causando ansiedade sobre a sobrevivência dos postos de trabalho que ocupamos. Embora outros especialistas tenham concluído que esses medos não são infundados, muitos deles falham em "considerar diretamente a viabilidade técnica ou a atratividade econômica dos sistemas de AI," argumentam os pesquisadores do MIT.
Tendo como foco da análise tarefas chamadas de end-to-end (“ponta a ponta”), o estudo mostra algumas situações práticas de tarefas que poderiam ser substituídas por IA mas, por enquanto, ainda seriam inviáveis economicamente.
Um dos exemplos apresentados é de uma padaria que pretenda se automatizar com uma visão computacional, adicionando uma câmera e ensinando a máquina a detectar alimentos estragados ou vencidos. Normalmente os padeiros têm como uma de suas atividades checar a validade dos produtos e a sua quantidade, o que, pelo menos na teoria, poderia ser delegado para uma inteligência artificial.
No entanto, ao considerar que essa tarefa corresponde apenas a 6% das atribuições do profissional e o custo para implementação da solução, verifica-se que a economia com a substituição seria menor do que os custos para implantar o sistema. Nesse caso, ainda seria mais viável economicamente manter os trabalhadores humanos.
“As máquinas vão roubar nossos empregos" é um sentimento frequentemente expresso durante períodos de mudança tecnológica rápida. "Tal ansiedade ressurgiu com a criação de grandes modelos de linguagem (por exemplo, ChatGPT, Bard, GPT-4) que mostram habilidades consideráveis em tarefas onde anteriormente apenas seres humanos mostravam proficiência", afirma o artigo.
Em outras palavras, o artigo do MIT apresenta com uma conclusão importante: as coisas vão, sim, mudar - mas não tão rápido quanto pensamos, e de forma gradual. O que nos dá tempo de adaptação, preparação e treinamento para os novos tipos de trabalho que passarão a existir.
Por fim, estudo evidencia a importância da implementação de políticas e regulamentações que diminuam os impactos do desemprego causado pelo uso de novas tecnologias disruptivas. É necessário que as próximas reuniões nos Alpes suíços tratem da relevância dessas novas políticas, incentivando governos e instituições a arquitetarem juntos os novos paradigmas dos empregos do futuro e a segurança de seus trabalhadores humanos.
*Gabrielle Ribon é advogada e entusiasta de inovação. Atua no mercado financeiro com foco em novos produtos e tecnologias.
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