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Protegendo as crianças e os idosos: fortalecendo a segurança da informação em grupos vulneráveis

Preservar crianças e idosos em um mundo que se torna mais tecnológico a cada dia que passa é dever de todos. Como podemos então criar um ambiente online mais seguro para garantir a proteção dessa parcela da população?

Por Ricardo Rios * 23/02/2024 13h01
Protegendo as crianças e os idosos: fortalecendo a segurança da informação em grupos vulneráveis

No mundo digital, enquanto aumenta a preocupação com a segurança da informação por parte das organizações, especialmente por termos nos tornado uma sociedade cada vez mais dependente de tecnologia, vemos métodos e sistemas avançados de segurança sendo desenvolvidos para proteger dados. Porém, mesmo que sejam aplicadas camadas e mais camadas de proteção, o ser humano ainda permanece como um fator negligenciado e, nesse contexto, dois grupos em particular se destacam: as crianças e os idosos. Este artigo aborda algumas das melhores formas de proteger esses grupos e fortalecer a segurança da informação para toda a sociedade.

Crianças e idosos são dois grupos distintos, mas com uma vulnerabilidade em comum no mundo digital: a suscetibilidade a ameaças de segurança cibernética. No caso das crianças, isso acontece por ainda estarem em desenvolvimento e por não terem o discernimento completo para identificar perigos online, como cyberbullying, conteúdo impróprio e golpes, e com os idosos pois são menos familiarizados com as tecnologias modernas e podem ser facilmente enganados por táticas online, como phishing e malware.

Todos estamos sujeitos a percalços no mundo virtual, porém crianças e idosos estão suscetíveis a riscos como:

- Golpes, com perda de dinheiro ou informações pessoais;

- Compartilhamento de informações sensíveis, roubo de identidade, constrangimento ou até mesmo crimes;

- Acesso a conteúdo impróprio, que pode causar traumas psicológicos e, inclusive, prejudicar o desenvolvimento.

Como vemos, esses grupos podem estar mais propensos a cair em golpes, compartilhar informações pessoais sensíveis ou clicar em links maliciosos sem compreender as implicações. Portanto, tomar medidas proativas para protegê-los é primordial. Algumas ações são simples e podemos tomar de imediato:

- Educar, ou seja, ensinar as crianças sobre segurança online e orientar os idosos sobre as tecnologias digitais;

- Supervisionar, acompanhar o uso da internet por crianças e idosos, especialmente em sites de redes sociais e jogos online;

- Proteger, com o uso de ferramentas de segurança cibernética, como antivírus e firewalls;

- E, especialmente, dialogar e manter sempre um canal aberto para conversar sobre experiências online e discutir as preocupações.

A educação digital e a conscientização são as maneiras mais eficazes de proteger crianças e idosos. Para crianças, isso deve começar em casa, com a promoção de boas práticas online, como não compartilhar informações pessoais com estranhos, não clicar em links suspeitos e não baixar aplicativos ou arquivos sem a permissão dos pais ou responsáveis. Também as escolas precisam adotar algum programa desse tipo. Aos pais cabe educar e às escolas dar continuidade. Os pais também precisam estar conscientes de que nem todas as crianças das escolas em que seus filhos estudam possuem a mesma base de educação familiar.

Também para as crianças, é fundamental estabelecer controles parentais em dispositivos e serviços online. Essas ferramentas permitem que os pais limitem o acesso a conteúdo inadequado, rastreiem a atividade online e estabeleçam limites de tempo para o uso de dispositivos.

Existem várias ferramentas que permitem aos pais limitar o acesso a conteúdo inadequado, rastrear a atividade online e estabelecer limites de tempo para o uso de dispositivos. Abaixo estão algumas delas e suas características. É importante ressaltar que não endossamos ou recomendamos nenhuma em particular. A lista foi elaborada apenas para fins de referência e as marcas são de propriedade de cada detentor:

- Google Family Link: Permite aos pais monitorar as atividades, limitar o acesso a conteúdos online e definir limites de tempo para aplicativos específicos em dispositivos Android e iOS;

- Opções da Família da Microsoft: Ferramenta embutida no sistema operacional Windows que permite aos pais controlar o tempo de tela, bloquear conteúdo inadequado para a idade, ter acesso a relatórios de atividade e monitorar a localização dos filhos;

- Qustodio: Permite aos pais supervisionar toda a atividade online das crianças. Possui uma versão gratuita e outra mais completa para assinantes;

- Kaspersky Safe Kids: Permite aos pais gerenciar o tempo de tela, monitorar a localização dos filhos e até saber se a bateria do celular está acabando;

- AppBlock: Permite aos pais definir limites de tempo para aplicativos específicos em dispositivos Android;

- Tempo de Uso do iPhone: Ferramenta nativa do sistema operacional da Apple que permite aos pais definir limites de tempo para aplicativos e categorias de aplicativos, além de acompanhar o tempo de uso diário ou semanal;

- Norton Family: Fornece aos pais as informações necessárias para ajudar a manter seus filhos mais seguros e focados quando estiverem online. Os pais podem ver os termos pesquisados por seus filhos e também os vídeos assistidos, monitorar para que o conteúdo seja adequado à idade, definir limites para tempo de tela e muito mais.

Porém, a ferramenta mais completa e adequada está na manutenção de uma comunicação aberta com seus filhos, incentivando-os a relatar qualquer comportamento online estranho ou desconfortável.

Já para os idosos, programas de alfabetização digital específicos para a terceira idade podem ser valiosos. Eles devem aprender a identificar ameaças comuns, como phishing e fraudes por telefone, e a importância de manter senhas seguras. Além disso, é essencial que eles saibam a quem recorrer em caso de possíveis atividades suspeitas.

Outra ação preventiva é a de configurar dispositivos com restrições de acesso para evitar que eles sejam vítimas de fraudes online. Além disso, os cuidadores e familiares devem estar envolvidos na proteção digital dos idosos, auxiliando-os na configuração de senhas fortes e atualizadas, bem como monitorando a atividade online de forma não invasiva, sempre com consentimento e respeito à privacidade.

Existem gerenciadores de senhas que podem auxiliá-los, por armazenarem senhas com segurança, facilitando o acesso e permitindo o uso de senhas fortes e exclusivas para cada conta. Também se recomenda o uso de autenticação de dois fatores (2FA), que adicionam uma camada extra de segurança ao login em contas, protegendo contra acessos não autorizados, mesmo que a senha seja roubada.

É importante ter um bom antivírus ou antispyware sempre atualizado pois eles protegem contra malware, como vírus, spyware e ransomware, bloqueando sites e downloads maliciosos.

Ensinar a eles como usar filtros de spam é essencial, para proteção contra emails de phishing e spam, e também como atualizar e manter o sistema operacional com as últimas correções de segurança.

Para a segurança de ambos os grupos, dispositivos e softwares precisam estar sempre atualizados. Atualizações corrigem vulnerabilidades conhecidas que podem ser exploradas por hackers. No caso dos idosos, ajude-os a configurar atualizações automáticas em seus dispositivos para garantir que eles estejam sempre protegidos.

Estabelecer redes de apoio comunitário também é essencial. As escolas podem oferecer palestras e workshops sobre segurança cibernética para crianças e seus pais. Além disso, grupos da terceira idade podem se beneficiar de clubes ou workshops locais que visem aprimorar suas habilidades digitais e conhecimento de segurança.

Da mesma forma, a educação e a proteção digital de grupos vulneráveis como crianças e idosos devem, necessariamente, incluir a conscientização sobre deepfakes e métodos para detectá-los.

Apenas para ilustrar, deepfakes são uma ameaça digital em constante evolução e alarmante, particularmente para esses grupos vulneráveis. Essa tecnologia possibilita a produção de vídeos e áudios falsificados, frequentemente indiferenciáveis da realidade, que podem ser utilizados de forma prejudicial. No caso das crianças, isso pode levar à exposição a conteúdo impróprio ou enganoso, afetando seu crescimento e segurança na internet. Em contrapartida, os idosos, por não estarem tão familiarizados com as técnicas de manipulação de mídia, estão mais propensos a serem vítimas de fraudes que utilizam deepfakes para enganá-los, resultando em prejuízos financeiros ou violação de sua privacidade.

Deepfakes são vídeos ou imagens manipuladas que podem ser usados para espalhar desinformação, difamar pessoas ou cometer fraudes. Com o avanço dessas tecnologias, é crucial que saibamos como identificá-los para nos protegermos de seus perigos. A educação sobre deepfakes deve abranger o que são e como são criados, os sinais visuais e auditivos que podem servir para identificá-los, mostrar quais são as fontes confiáveis de informação sobre o assunto e ser crítico em relação ao conteúdo online.

Apesar da dificuldade, deepfakes podem ser detectados por meio de inconsistências na textura da pele, por exemplo, movimento dos olhos e sincronização labial e, principalmente, com a verificação da fonte do vídeo ou imagem e sua confiabilidade. É preciso criar uma consciência crítica: se algo parece bom demais para ser verdade, provavelmente é falso ou mentira.

Ao fornecer educação e proteção digital abrangente, podemos ajudar a todos, e em especial crianças e idosos, a se tornarem usuários mais conscientes e seguros da internet.

Em resumo, cuidar das crianças e dos idosos no ambiente digital é um dever de todos. Formação, sensibilização, filtros parentais, apoio comunitário e atualizações frequentes são ações essenciais para aumentar a segurança da informação nessas populações vulneráveis. À medida que seguimos em frente na era digital, é fundamental que cada um de nós faça a sua parte para assegurar que as crianças e os idosos possam aproveitar as vantagens da tecnologia de forma confiável e protegida. A segurança da informação começa e depende de nós.

* Ricardo Rios é consultor especialista em LGPD, Segurança e Privacidade de Dados, Ricardo Rios é head de Privacidade e Governança de TI e SI da Kassy Consultoria & Gestão Empresarial