Cultura
Mariana Moura revela complexidade da paisagem interna humana em seu novo romance na Bienal de Alagoas
Com uma paixão inabalável pelas letras e habilidade narrativa, Mariana Moura, orgulhosamente alagoana, apresenta à 10ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas uma obra que promete envolver os leitores(as) de maneira profunda e significativa.
Sob o título intrigante de "Mas Essa Não É Toda Verdade Sobre Mim", a autora nos convida a embarcar em uma jornada literária que transborda sentimentos e reflexões sobre ser-se.
A pré-venda da obra já está aberta no site da Editora Libertinagem, oferecendo aos leitores(as) a chance de se anteciparem nessa jornada única.
Já a culminação desse trabalho literário ocorrerá nesta sexta-feira (18), na Bienal de Alagoas, que está acontecendo no Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso (Centro de Convenções), em Maceió, no bairro história de Jaraguá.
Das 19h30 às 21h30, a Praça dos Autógrafos Paraísos de Papel será o cenário onde o público poderá interagir com Mariana Moura e testemunhar sua verve e simpatia.
FORÇA INERENTE
A grandiosidade desse romance se revela já na orelha, com o carinho e elogio de Cida Pedrosa, notável escritora pernambucana agraciada com o Prêmio Jabuti em 2020 pela poesia marcante de "Solos para Vialejo".
Nas palavras de Cida, a narrativa de Mariana nos apresenta “uma história que não tem época específica, mas que pode ser uma trilha atemporal das nossas próprias vidas. Uma história para empoderar mulheres e ajudá-las a refletir sobre suas estradas e veredas".
Um chamado à introspecção, ao silêncio que alimenta a fala genuína; um despertar para a força interior que muitas vezes subestimamos.
Na moldura pitoresca de Maceió nas primeiras décadas do século 20, o romance se desdobra. A voz da protagonista ressoa em primeira pessoa, um relato íntimo que nos pega pela mão e nos guia por suas angústias, alegrias, perdas e triunfos.
O mosaico de emoções é exposto sem reservas, com contradições que tornam a personagem mais real, mais humana. As páginas mergulham nas profundezas da vida, dos medos à esperança, da raiva ao amor.
O relato de Mariana é pontuado por recortes temporais, um engenho literário que nos permite acompanhar a evolução da narradora-personagem.
A cada página virada, somos testemunhas da construção de sua verdade, uma verdade que nasce das experiências vividas e das reflexões traçadas ao longo do tempo.
Falando em tempo, no ano de 2014, a autora marcou sua estreia no cenário literário com o lançamento de seu primeiro romance, intitulado "Duas Taças, Um Vinho, os Dois". O livro contou com a contribuição do poeta alagoano Breno Airan na orelha e um cativante prefácio do também alagoano, Aldo Rebelo, à época Ministro dos Esportes. Além dessa realização, ela também brilhou como coautora no livro "Comunicação e Poder: Transparência Pública, Pós-Verdade e Inovação no Mundo Digital".
É importante notar que Mariana Moura não é apenas uma escritora, mas uma mulher de múltiplas dimensões. Psicanalista, comunicóloga e mestre em Sociologia Histórica da América Latina, ela une diferentes esferas de conhecimento para pintar e traçar com palavras a paisagem complexa da existência humana.
CONFIRA ENTREVISTA EXCLUSIVA COM A AUTORA:
1) Como foi a sensação de ter seu novo romance, "Mas Essa Não É Toda Verdade Sobre Mim", elogiado pela escritora pernambucana Cida Pedrosa, vencedora do Prêmio Jabuti?
MARIANA MOURA: Uma honra tê-la comigo. Na verdade, sou honrada desde o livro anterior, quando tive Aldo Rebelo no meu prefácio. A Cida é muito generosa e muito atenciosa. Além de poeta, ela tem uma intensa agenda como vereadora de Recife e, mesmo assim, falava comigo às 23h da noite sobre o livro e suas impressões dele. Sou muito grata a ela por fazer parte disso. Talvez eu nunca consiga dizer “obrigada” o suficiente, mas sempre vou dizer.
2) O que os leitores(as) podem esperar da protagonista do seu romance, que narra sua própria história em primeira pessoa?
MARIANA MOURA: Podem esperar as contradições do ser humano. Minha protagonista não tem pretensão de ser mocinha, mas também não é uma vilã. Ela pode ser manipuladora, mas o que eu tenho a dizer em sua defesa é que ela foi capaz de tudo para se proteger. Tudo mesmo. Muito passional, resgata suas lembranças em diversos momentos da sua vida, que ajudam o leitor a entender que existe uma raiz para determinadas atitudes dela. O leitor vai ser levado pela narrativa dela, então, é preciso um trabalho atencioso para entender que as coisas acontecem também fora desse discurso. O desafio do leitor, eu acredito, é se sentir como ela. E ser capaz de entender as motivações dela, que reúne dois elementos verdadeiramente humanos: crueldade e generosidade.
3) O cenário do seu romance é a Maceió nas primeiras décadas do século 20. Como essa ambientação histórica influenciou a trama e a experiência dos personagens?
MARIANA MOURA: Eu gosto de me sentir pertencida. Eu queria escrever minha terra. Quando apenas ensaiava as primeiras frases do livro, senti que o lugar deveria ser muito verdadeiro para mim. Então, não me custou nada querer que Maceió fosse esse grande palco. Eu queria que os folguedos, o Jaraguá antigo, o carnaval e as festas juninas fossem moldura de acontecimentos nessa construção. Montei tudo nessas primeiras décadas, mas “não amarrei ano” para não me sentir presa no tempo histórico, porque eu queria me sentir livre para misturar com a ficção.
4) O seu livro explora uma variedade de emoções, desde angústia e dor até amor e luto. Como você conseguiu criar uma narrativa que abrange esses sentimentos de maneira autêntica?
MARIANA MOURA: Minha personagem carrega grande amargura e todas essas emoções são sentidas de um modo muito particular. Para criar essa narrativa, resgatei comportamentos de pessoas próximas e de fenômenos sobre os quais adquiri conhecimento com a minha formação em Psicanálise. Mas foi muito forte para mim estar em contato com isso, porque escrever em primeira pessoa requereu que eu mergulhasse nesse lago emocional e eu fiquei realmente afetada, afinal, não posso escrever em primeira pessoa sem me sentir verdadeira — talvez, numa terceira pessoa, afastada, isso se dê mais facilmente, mas, para mim, foi difícil e eu fiquei muito tempo carregando angústia. Muito tempo mesmo.
5) A narrativa do seu livro é construída através de recortes temporais. Como essa estrutura afeta a compreensão da protagonista sobre sua própria história?
MARIANA MOURA: Na vida, a gente sempre resgata nossas experiências, e elas estão no passado. Esses recortes são trazidos pela personagens para justificar seus momentos de fragilidade emocional e para nos presentear com a humanidade dela e a nossa própria.
6) A obra é descrita como "uma história para empoderar mulheres". Como você aborda esse tema e qual mensagem você espera transmitir às leitoras — e, também, aos leitores homens, até para se colocarem no lugar?
MARIANA MOURA: Quando a Cida me deu a orelha com essa frase nela, eu me arrepiei, pois não tinha pensado que o livro que escrevi trouxesse essa carga. Eu queria trazer a força da história e das emoções de uma mulher que enfrenta as adversidades a partir de suas habilidades. Minha personagem passou por muita coisa, desde abandono parental ao abuso sexual, e eu não percebi como esses temas podem ser acessados pela verdade de cada uma. Além disso, são as mulheres as grandes personagens do livro; todas elas com sua força e diferentes em suas jornadas, mas, ainda assim, num circuito muito próximo e relevante na construção da narrativa. Acredito que a Cida enxergou isso como uma ferramenta de crítica à cultura patriarcal que submete as mulheres à condição de sofrimento. Então, sem dúvida, concordo com ela e acredito que, a partir das vivências da personagem, não dá para se distanciar demais desse lugar.
7) Como você se sente prestes a lançar o livro na 10ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas? O que os leitores(as) podem esperar do evento de lançamento?
MARIANA MOURA: Tenho ansiedade e temo alguma coisa dar errado (risos). Mas as pessoas podem esperar um evento lindo, especialmente porque o espaço montado pela organização da Bienal está muito bacana!
8) “Mas Essa Não É Toda Verdade Sobre Mim" está disponível para pré-venda no site da editora Libertinagem. O que você espera que os leitores(as) sintam e levem consigo após a leitura?
MARIANA MOURA: Eu espero, no mínimo, que as pessoas gostem. Sei que a estrutura que criei para contar a história não permite uma leitura muito fluida. Mas espero que os leitores não desistam de destrinchar. Espero que sintam que podem respirar depois de lerem.
9) O que você acredita que torna a história da sua protagonista única e cativante, especialmente para os leitores(as) alagoanos (as) que podem se conectar com o cenário local?
MARIANA MOURA: Acho que o que cativa na história é o fato de minha personagem não ser pastiche. Ela é complicada e não dá para esperar constância dela. Acredito que esse elemento já faz dela ser única e cativante, porque, por mais absurda que ela pareça, tem algo muito humano nas emoções viscerais.
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