Economia
Indústria de Cana-de-açúcar e biomassa temem renovação da insenção tributária
Medida se mostrou um pesadelo para setores produtivos de biocombustíveis, em especial do etanol
Desde julho de 2022, os combustíveis no Brasil são vendidos sem a cobrança de impostos federais. A isenção foi parte de uma emenda constitucional com um pacote de medidas do governo anterior incluindo uma tentativa de deter o aumento do preço dos combustíveis. Prevista para durar até o final de dezembro, a isenção foi prorrogada pelo novo governo, na forma de uma medida provisória (MP) com prazo para expirar na terça-feira (28). A indústria de biocombustíveis teme que outra prorrogação possa abalar todo o setor.
Apesar de beneficiar o mercado de combustíveis fósseis, a isenção se mostrou um pesadelo para a indústria de biocombustíveis, em especial do etanol. O combustível derivado da cana-de-açúcar requer um tratamento tributário diferenciado para conseguir competir com a gasolina, de maior potencial energético por litro. Sem nenhum tipo de imposto federal sobre os dois, o etanol caiu em desvantagem.
A solução adotada para compensar a desvantagem do etanol foi a criação de um subsídio aos estados e municípios dispostos a replicar a diferenciação tributária federal em nível local. A previsão legal para distribuição desse subsídio durou apenas até o final de 2022, não havendo continuidade quando a isenção foi prorrogada. Com isso, os dois tipos de combustíveis passaram a competir como iguais.
De acordo com Evandro Gussi, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), o setor sofreu um prejuízo de R$ 3 bilhões desde o início de janeiro. Ainda sem um anúncio oficial por parte do governo, a indústria teme que uma nova prorrogação da isenção de impostos traga prejuízos ainda maiores ao setor. Além do impacto financeiro, Gussi afirma que também há a preocupação relacionada ao impacto ambiental decorrente do aumento no uso de combustíveis fósseis: a queima da gasolina emite 300% da quantidade de dióxido de carbono (CO2) do etanol.
Compensação
A solução proposta pela Unica é retomar os impostos federais sobre os combustíveis, mantendo a política de compensação entre gasolina e etanol conforme definido na Emenda Constitucional 123/2022, que define a criação de uma lei complementar para estabelecer um regime fiscal que favoreça os biocombustíveis sobre os combustíveis fósseis.
Apesar de se tratar de uma pauta impopular graças ao impacto sobre o preço final, Gussi afirma estar otimista quanto à decisão do governo sobre o que fazer no dia 28. “Estamos dialogando, e acreditamos que o governo vá acatar nossa posição, principalmente por se tratar de uma gestão com um viés ambientalista. O governo demonstra estar sensível às nossas preocupações, e sabe que ao manter as isenções, acabam retirando recursos que poderiam ir para saúde ou educação”.
A Emenda 123/2022 foi proposta justamente em um momento em que o antigo governo culpava os impostos sobre os combustíveis pela alta nos índices de inflação, fenômeno que ainda preocupa seus defensores. Evandro considera o temor infundado. “O preço da gasolina foi acusado de ter sido o grande vilão do aumento da inflação, mas nunca houve comprovação disso. O governo Bolsonaro nunca apresentou as contas que comprovem esse impacto. Além disso, estamos falando de um momento em que o patamar do preço do petróleo estava muito diferente de como está agora”, relembrou.
O presidente da Unica também chama atenção para os dados ambientais referentes ao impacto do fortalecimento do mercado de gasolina. De acordo com o Observatório de Conhecimento e Inovação em Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Brasil aumentou, no terceiro trimestre de 2022, a emissão de CO2 em 6,52% em comparação com o mesmo período de 2021.
A decisão sobre manter ou não as isenções tributárias sobre combustíveis são, para a Unica, uma decisão sobre a capitalização ou não ao redor de uma questão ambiental tratada como econômica. “Questões ambientais não são monetizáveis. Não podemos deixar a proteção ambiental de lado em nome de alguns centavos a menos no preço do combustível”, defendeu Gussi.
Por se tratar de uma equiparação prevista na Constituição, Evandro Gussi adianta que, caso a isenção seja renovada na próxima semana, a questão será levada ao judiciário. O Congresso em Foco procurou o Ministério da Fazenda para saber sobre a possibilidade ou não de renovação da MP no dia 28, bem como sobre seus planos para garantir o regime fiscal diferenciado para os biocombustíveis. Ainda não houve resposta, e o espaço segue aberto.
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