Preocupação crescente paira sobre os amantes de churrasco: a iminente escassez de cortes bovinos de qualidade superior em steakhouses, foodservices e boutiques especializadas. Pecuaristas argumentam que as bonificações oferecidas pelos frigoríficos não acompanham os crescentes custos de produção.

Em entrevista ao MF Cast do Grupo MF Rural, Roberto Barcellos, sócio da BBQ Secrets e consultor de pecuária de corte, destaca a possibilidade de um "apagão" de cortes premium nas gôndolas. "Se confirmada essa ruptura, as importações de cortes uruguaios e argentinos voltarão com força, ocupando o espaço do produto nacional. Isso faz parte do amadurecimento da cadeia produtiva", alerta Barcellos.

O desânimo dos pecuaristas é evidente diante das bonificações de 5% a 10% sobre o valor da arroba de boi gordo. Para a produção de cortes especiais, o bovino precisa ter pelo menos 28% de gordura corporal, exigindo investimentos consideráveis, especialmente em confinamento. Barcellos ressalta que o boi especial, proporcionando uma verdadeira experiência gastronômica, demanda uma ingestão de 190 quilos de matéria seca por arroba, aumentando os custos.

A preferência por fêmeas na produção de carne de qualidade também impacta os custos, uma vez que as novilhas de cruzamento industrial exigem cuidados extras, tornando a produção mais dispendiosa. A atual estrutura dos frigoríficos, segundo Barcellos, não permite maiores repasses, limitando o mix de cortes disponíveis.

O cenário reflete em quedas nas vendas de sêmen Angus, raça central em programas de qualidade de carne, projetando uma retração de 20% em 2023. Barcellos destaca a necessidade de adaptação do mercado, prevendo movimentações como o surgimento de novas marcas, expansão de estruturas de confinamento, criação de lojas próprias e maior proximidade entre foodservice e produtores. "O desafio representa uma oportunidade para leituras estratégicas e melhores articulações no mercado", conclui.

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