Alagoas
Depósito que explodiu tinha substâncias altamente explosivas não utilizáveis em artefatos pirotécnicos
Perícia constatou que o proprietário do estabelecimento não seguia a norma regulamentadora 19 do Ministério do Trabalho e Previdência, sobre os procedimentos de armazenamento, fabricação e depósito de material explosivo.
Um laudo principal, quatorze exames e doze laudos complementares -- o primeiro deles entregue 15 dias após a perícia feita no local da explosão. Esse foi o resultado da perícia criminal realizada pelo Instituto de Criminalística (IC) de Alagoas no terreno onde funcionava o depósito de fogos de artifícios no bairro de Guaxuma, em Maceió.
As conclusões dos laudos contaram com a participação de oito peritos, sendo três de química forense, uma na área de meio ambiente, dois engenheiros, um perito lotado no setor de genética forense e o chefe do IC Wellington Melo e foram divulgados na manhã de hoje, pela Polícia Científica. Além dos peritos criminais, houve também a contribuição dos técnicos explosivistas que foram responsáveis pelos exames de eficiência, desativação e coleta dos artefatos explosivos.
No dia da perícia realizada, 08 de março, em meio aquele cenário de destruição em uma área gigantesca, a equipe coordenada pelo perito criminal Gerard Deokaran, especialista em explosivos, conseguiu encontrar e catalogar diversas evidências e coletar 14 vestígios.
A perícia de local constatou que o proprietário do estabelecimento não seguia a norma regulamentadora 19 do Ministério do Trabalho e Previdência, que estabelece todos os procedimentos quanto ao armazenamento, fabricação e depósito de material explosivo. Durante os trabalhos paralelos para saber a causa e a dinâmica da explosão, os peritos constataram que no local alguns elementos de segurança não estavam no local adequado, e que o depósito era inapropriado para evitar qualquer tipo de acidente com explosivo.
Linhas de investigação
Através dos exames e análise de todo o material, os peritos criaram três linhas de investigação para a causa das explosões e os peritos criminais apontaram que a causa mais provável da explosão foi por indevido armazenamento dos materiais que não obedeceram a legislação vigente, associados a natureza química de alguns explosivos encontrados.
A primeira linha de investigação identificada foi por acionamento indevido de dispositivos eletrônicos encontrados no local, e que eram utilizados para fazer shows pirotécnicos pela empresa responsável pelo depósito. Também foi constatado um quadro de energia utilizado no local onde poderia haver a possibilidade de acúmulo de energia estática responsável pelo acionamento dos dispositivos eletrônicos ou dos explosivos.
Nessa primeira hipótese de indevido acionamento eletrônico, o perito Diozenio Monteiro, especialista na parte de eletrônica, gerou três laudos complementares que descreveram a eficiência dos dispositivos. Ele realizou exames de constatação e eficiência dos dispositivos eletrônicos.
A segunda linha de investigação foi referente a três amostras de cigarros encontradas no local. Esse material foi encaminhado ao Laboratório de Genética Forense que realizou o confronto de DNA com uma das pessoas investigadas no caso.
O perito criminal Marek Ekert, responsável pelo exame explicou que o confronto de material genético não apontou que essa pessoa fez o uso indevido de cigarro no local. Mas, que as pontas de cigarro ficaram acauteladas no IC, sendo condicionadas a possíveis futuras análises, caso as investigações policiais apontarem novos suspeitos.
Exames de laboratório
A terceira causa, considerada de maior contribuição para o inquérito policial e que teve mais relevância para os resultados que os peritos obtiveram foram os exames realizados no Laboratório de química forense. Após analisar oito amostras de diferentes explosivos encontrados no local, os peritos Thalmany Goulart, Ken Ichi Namba e Gerard Deokaran concluíram que uma dessas amostras apresentou uma substância atípica na composição dos artefatos que era o nitrato de manganês.
Eles explicaram que ao investigar sobre o uso de nitrato de manganês, descobriram que essa substância encontrada no artefato é utilizada em fabricação de altos explosivos para garantir maior eficiência e poder destruição do explosivo. Quando o nitrato de manganês é misturado a hidrocarbonetos, essa combinação se comportaria como uma emulsão encartuchada utilizadas em pedreiras.
Os peritos concluíram que esse material ao entrar em contato com vapores de aguarrás existentes em galões encontrados no local ocorreu o fenômeno da explosão. A mistura de nitrato de manganês com o hidrocarboneto precisa de uma pequena elevação de temperatura para explodir, por isso esses altos explosivos não podem ser utilizados em artefatos pirotécnicos de acordo com a legislação brasileira.
O perito criminal Victor Portela, que também assina o laudo, além de auxiliar na determinação da dinâmica das explosões a partir das avarias e vestígios nos contêineres e no ambiente, e realizar essa demonstração em croqui 3D que ilustra o laudo, também relatou outro grave problema no armazenamento dos artefatos. O contêiner onde ocorreu a primeira explosão (epicentro) não possuía uma coberta e nem estruturas más condutoras de calor, conforme prevê a norma que regulamenta as medidas de proteção para o processo de fabricação, armazenamento e transporte de explosivos.
O coordenador da equipe Gerard Deokaran esclareceu que a falta dessa estrutura permitiu maior absorver de radiação eletromagnética provocando um aumento de temperatura no contêiner. Com isso aconteceu uma reação típica de fabricação de baterias de lítio, onde uma pequena elevação de temperatura no nitrato de manganês com os vapores de hidrocarbonetos causou uma reação explosiva.
“Foi uma reação similar à fabricação desse tipo de bateria, sendo que quando ocorreu essa primeira explosão em um dos contêineres, ela teve energia suficiente para proporcionar a deflagração dos outros explosivos que estavam no demais contêineres, ocorrendo a explosão da forma como foi observada nos vídeos gravados no dia do fato”, explicou o Deokaran.
A perícia ambiental realizada pela perita criminal Jana Kelly, que é veterinária e especialista na área também foi concluída. No documento consta a análise dos prejuízos causados à fauna e à flora, com a identificação da extensão da mata e do pasto destruído pelos focos de incêndio e também os danos a criação de ovinos e equinos existentes na chácara onde aconteceu a explosão.
Outra contribuição fundamental para realização da dinâmica foi o uso de drone no local que permitiu fazer registros de longo alcance e no interior dos contêineres. Os registros foram realizados pelo perito criminal Wellington Melo Filho que é especialista nesse tipo de registro.
Todos os laudos periciais contendo os resultados dos exames e um farto conjunto de provas técnicas foram encaminhados para o 6º Distrito Policial. O material já está sendo analisado pelo delegado Robervaldo Davino e toda a equipe dele para concluir o inquérito policial que apura o caso.
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