Ressignificando Vestígios do Sertão
Referência nacional quando se pensa em arte nordestina, a Ilha do Ferro, e seu entorno, coloca Alagoas na vitrine do mundo com trabalhos manuais, totalmente artesanais, reproduzindo o cotidiano e a cultura nativa, sentida, vivida. Objetos do dia-a-dia ganham releituras em obras únicas, exclusivas, produzidas nas comunidades da orla do rio São Francisco.
Enquanto isso, os artistas plásticos, galeristas, colecionadores, agitadores culturais e sociais, Maria Amélia Vieira e Dalton Costa, múltiplos e incansáveis, vem movimentando a região, realizando projetos que incentivam, estimulam e qualificam moradores de várias gerações na produção artística, e também compartilhando informações sobre empreendedorismo e noções de gerenciamento de comércio, transformando as obras de arte em produtos facilmente negociáveis. E tem ampliado fronteiras, expostas em importantes mostras e galerias, inclusive.
Recentemente, com muito sucesso, Maria Amélia e Dalton encerraram o 2º Percurso Criativo Ribeirinho Ilha do Ferro - Mato da Onça, e a partir de hoje, 17 de março, reunindo mestres artesãos com jovens e crianças para troca de experiências e informações, iniciam o projeto Ressignificando Vestígios do Sertão (que foco nos jovens, compartilhando técnicas artísticas aplicadas em elementos utilizados no dia-a-dia, inclusive com objetos utilitários, objetos pra casa, bijuterias...), aprovado em Edital Funarte, numa proposição do Museu Coleção Karandash de Arte Popular e Contemporânea.
E Maria Amélia adianta: “A troca de experiências dos mestres com os novos artesãos é riquíssima, tanto que apresentaremos exposição no Complexo Diteal, promovendo incrível diálogo entre essas várias linguagens, imersos na Arte Contemporânea com os pés na Popular, buscando vestígios artísticos do cotidiano de comunidades rurais, sem influência alguma das cidades”.
Arte sentida, vivida e usada, com pureza de sentimentos. Confirmada a exposição ‘diálogos essenciais entreculturas’, no Complexo Cultural Teatro Deodoro, cuja abertura acontecerá às 19 horas do próximo dia 22. Mais informações no @galeriakarandash (no IG), no Museu Coleção Karandash de Arte Popular e Contemporânea (no FB,) ou no https://www.karandash.com.br/
REDENDÊ
Na Ilha do Ferro vivem cerca de 250 famílias que se sustentam por meio da pesca artesanal, de atividades agrícolas e, sobretudo, do artesanato. Junto às esculturas e aos móveis de madeira, o bordado boa-noite é um dos pilares desse artesanato. Criado há mais de um século, o bordado é uma variação da técnica do Redendê, um ponto nórdico que chegou como herança portuguesa nas comunidades ribeirinhas do São Francisco.
Dentre as flores da localidade foi, em especial, a flor denominada “boa-noite” que serviu de inspiração para os primeiros bordados aplicados sobre os fios desfiados de linho e acabou por dar nome à nova técnica.
Como as águas do Velho Chico, que nunca estão paradas, a tradição do artesanato se renova sem perder seu curso. Assim é com a Cooperativa Art-Ilha, onde se reúnem mais de 40 mulheres bordadeiras de todas as idades. Atualmente é a maior responsável pela produção e comercialização dos artigos de cama, mesa e banho, que apresentam ricos detalhes feitos com o bordado boa-noite.
OFICINA DE OBJETOS DE USO COTIDIANO - CABIDES, SUPORTES DIVERSOS, MÓBILIS, BANQUINHOS, MESINHAS DE APOIO, ETC.
Utilizando-se de elementos encontrados no próprio povoado, como pedras, galhos de árvores mortas da caatinga, resíduos de matéria prima dos escultores (aproveitamento de restos de madeira, de diversos tipos e cores descartados por artistas ribeirinhos especializados em esculturas de pequenos, médios e grandes formatos) e bordadeiras locais, serão desenvolvidos novos assuntos nas áreas do artesanato/arte/design, com produtos inovadores e de fácil comercialização.
Essas oficinas criativas propostas, trarão um novo frescor a artesania local.
Espera-se, com a presente ação, fomentar, valorizar, respeitar essas sabedorias tradicionais que se mantém vivas, repassar para as novas gerações esses fazeres com vistas à preservação da identidade, da memória artística ribeirinha do Baixo São Francisco e do fortalecimento dessa cadeia produtiva que tem gerado emprego e renda, a partir do processo de economia criativa pra dezenas de famílias.
Fotos de Jonaci Dias/Brenda Viana
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