DNA golpista
Manobras diversionistas, termo militar, poderia definir esse período de agitação bolsonarista? Muita gente argumenta que não seria possível alguém experiente como o ex-capitão, político profissional desde 1988, falar tantas estupidezes ao mesmo tempo e por tanto tempo, se o objetivo não fosse desviar a atenção para esconder outras falcatruas.
Falcatruas em excesso existem, as principais passam pelo Congresso Nacional através do Centrão governista. O tal Orçamento Secreto é um golpe, e nem precisou de tanques nas ruas. A transparência governamental federal está encarcerada nos porões da desinformação, PGR emudecida, Polícia Federal manietada e assim por diante. Mas a corrupção é de tal ordem que sempre algum escândalo escapa da cortina do silêncio.
Golpe militar, como hipótese, não pode ser descartado até por pronunciamentos como o do Ministro da Defesa contra o sistema eleitoral e pelo conjunto de falas do ex-capitão que ocupa a presidência da República. Pode ser um teste do tipo “se colar, colou”.
Escandalosamente toscas são as atitudes de Jair Messias, é verdade. Mas isso não pode ser interpretado necessariamente como ação de inteligência política do tipo diversionista, pois Jair e seus áulicos, fardados ou não, são toscos de verdade, legítimas almas sebosas, como os rappers pernambucanos gostam de cantar.
Revisitar 1964 e suas entranhas é essencial para enxergar melhor o momento atual. Na presidência está um representante de segmento subalterno e subterrâneo dentre os golpistas. Bolsonaro é o esgoto do golpe de 64, mesmo sem ter tido participação relevante naquele tempo, por conta da idade. Mas ele ama o porão e não é sem motivo sua idolatria ao mais célebre dos torturadores, o famigerado Ustra.
Militares estrategistas, como Golbery, generais-presidentes como Castelo Branco e – muito especialmente – Geisel, todos de direita, não figuram entre os nomes merecedores de homenagens por parte do ex-capitão.
E noções como “Brasil potência”, que envolvem um complexo conjunto de objetivos estratégicos não fazem parte dos interesses do bando reunido em torno de Jair Messias.
Dinheiro, viagra, próteses penianas, tônicos capilares e coisas do tipo são o centro das atenções e dos desejos dessa turma. Esses são os herdeiros dos porões de 1964.
Em 1968, com o golpe dentro do golpe, via Ato Institucional nº 5, o submundo militar um pulo de poder dentro da quartelada. Todo tipo de crime passou a ser tolerado e incentivado nesse esgoto formado pela repressão semiclandestina e violentíssima.
Os porões, a partir de 1974, passaram a provocar a linha oficial da “Abertura lenta, gradual e segura”, com o recrudescimento das torturas e assassinatos.
O general-presidente Geisel reagiu aos radicais de direita demitindo o comandante do 2º Exército, General Ednardo, em janeiro de 1976, e em 1977 exonerou o ministro do Exército, General Frota, que ainda tentou um golpe.
Doutor Tibiriçá era o codinome usado pelo major Carlos Alberto Brilhante Ustra, único oficial militar reconhecido pela Justiça como torturador, denunciado por violências cruéis contra quem quer que lhe caísse às mãos. Jair Messias desavergonhadamente anunciou a promoção póstuma desse monstro a Marechal.
Jair Messias não elevou ao marechalato Geisel, nem Golbery, nem Figueiredo – todos de direta – pois esses generais brigaram com os ratos dos porões e ganharam o ódio dessa gente, mesmo sem os ter mandado para a cadeia.
Essas ideias criminosamente toscas chegaram ao governo central em 2018 pela via democrática – com a ajuda de uma inverossímil facada. E essa gente não quer sair.
Hoje na História
23 de julho de 1932 – Morre Alberto Santos Dumont, gênio brasileiro e inventor do avião. Apesar de 14 outras pessoas reivindicarem essa primazia, a mais conceituada entidade aeronáutica do mundo à época, o Aéro-Club de France reconheceu no voo do brasileiro, realizado no campo de Bagatelle, Paris, 1906, a vez primeira que um objeto mais pesado que o ar conseguiu, de forma autônoma, alçar voo e permanecer voando por distância satisfatória.
Nascido de família muito rica, na cidade de Palmira/MG, em 1873, investiu fartos recursos herdados dos pais em pesquisas e invenções, doando a maioria dos prêmios recebidos em dinheiro para os operários que trabalhavam com ele.
Chegou a sugerir o uso militar do avião, mas com o tempo passou a abominar as ações de guerra e, depressivo, teria cometido suicídio em Guarujá/SP depois de ver aeronaves brasileiras indo bombardear compatriotas durante a revolta paulista de 1932.
Segundo biógrafos, por conveniência política, o atestado de óbito foi lavrado apontando um enfarte como causa mortis.
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