PADIN CIÇO ANISTIADO E PROMOVIDO
Padre Cícero Romão Batista será beatificado, finalmente, coroando com sucesso o longo trabalho para o reabilitar. Para defender sua inocência no processo canônico sofrido, ele próprio chegou a ir à Roma, em 1898, mas não teve sucesso. Morreu aos 90 anos, em 1934, sob anátema. Maior ícone religioso nordestino em quaisquer categorias e maior referência espiritual no Brasil considerando a hagiologia não-oficial, “Pade Ciço” penou nas mãos da hierarquia católica a partir de 1889, por conta de alegados milagres ocorridos em sua paróquia. Como essa história é longa e rica, sugiro a leitura da biografia escrita por Lira Neto.
Essas linhas procuram chamar a atenção para aspectos políticos do tema, e aí cabe logo um reconhecimento ao domínio do tempo por parte da Igreja Católica. A instituição, salvo exceções, não tem pressa, é senhora da ampulheta. A santa Sé soube esperar o momento que considerou certo, e lá se foi mais de um século! A devoção popular não sumiu? Segue forte e importante? Então beatifique-se. Maestria política.
Política, e muita, o Padre Cícero também fez. Prefeito do Juazeiro por quase 20 anos, foi também vice-governador do Ceará, em 1914, na chapa do general Benjamim Barroso, depois de chefiar a sedição juazeirense e ter cercado Fortaleza com sua tropa de jagunços. Articulou, pelo governo federal, o acordo com Lampião para os cangaceiros darem combate à Coluna Prestes/Miguel Costa, em 1926, ano que é eleito deputado federal (mas resolve não assumir o mandato). E Virgulino, apesar do acordo não ter sido cumprido, nunca deixou de ser devoto do Padim Ciço, assim como incorporou o posto de Capitão a partir daí.
No meio dessa longa jornada, a Igreja Católica Apostólica Brasileira (dissidência fundada pelo Bispo de Maura, em 1945) apressou-se em santificar Cícero, em 1973, e ganhar a fidelidade nordestina junto, mas não colou. O Vaticano nunca deixou espaços abertos para esse tipo de manobra, mantendo, durante 133 anos, total controle sobre o patrimônio material, político e espiritual do “Padim Pade Ciço”, como se não o tivesse excomungado em 1916.
À Luitgarde Oliveira Barros, antropóloga, responsável pela publicação dos documentos do Processo Canônico movido contra o Padre Cícero, livro-ferramenta essencial para pesquisas sobre este tema, os merecidos parabéns. Militante devota da reabilitação do Padre Cícero Romão, essa alagoana é uma segunda beata Mocinha (e ainda mais braba) em defesa da herança histórica e religiosa do Pároco do Juazeiro.
NOTAS
# O resultado da confusão no palanque de Rui deu ganho de causa para Teca Nelma, que manteve a serenidade nas redes sociais, reproduziu o vídeo com sua fala e comprovou ali não ter dito nada que provocasse Antônio Albuquerque.
# Se o mal-estar foi resolvido ou não, só o tempo dirá; mas Palmeira, com tradição de cautela na política, terá de se esforçar para recompor o clima de convivência mínima necessária para o andamento de qualquer frente política/eleitoral. O tempo “ruge”.
# Apesar de Fernando Collor declarar apoio a Arthur Lira, há três dias, não mingou ainda a safra de ataques nas redes sociais ao candidato do PTB. Um dia depois desse anúncio, sites ligados à reeleição do Bozo seguiam alfinetando Collor.
# Entre as peças mais divulgadas está um vídeo tirando onda com uma suposta desarrumação de mesas e cadeiras de praia, causada por hipotético “helicóptero de Collor” em prejuízo de comerciantes da orla de Maceió. Fogo amigo bolsonarista.
# Por outro lado, o intenso tráfego de veículos adesivados com Paulo Dantas em duo ora com Bozo, ora com Lula, indica a possiblidade de algum acidente de trânsito mais cedo ou mais tarde na Rodovia 15. Muita atenção nessa pista.
# Registro: na convenção do MDB, 2 de julho, no Armazém Pierre Chalita, bem perto da urna de votação, uma quase-briga: um bozonarista pegou com gosto de gás na beca de um lulista, mas a segurança interveio a tempo de evitar a bomba.
HOJE NA HISTÓRIA
25 DE AGOSTO DE 1580 – As tropas espanholas do Rei Felipe II, comandadas pelo Duque de Alba, derrotam as forças portuguesas lideradas pelo Prior do Crato, Dom Antônio, nas margens do Rio Alcântara, cercanias de Lisboa. A partir daí, por mais 60 anos, os espanhóis dominam Portugal. Como escrito aqui antes, esse cenário faz com que os holandeses, em guerra contra a Espanha, invadissem o Nordeste brasileiro em 1630 e aqui ficassem “tomando de conta” até 1645, quando os lusitanos reconquistam sua coroa.
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