Elias Fragoso

* Este texto não reflete necessariamente a opinião do Em Tempo Notícias

Maceió de luto

Pinheiro, bairro atingido pela mineração da Braskem

Por Elias Fragoso 06/12/2022 12h12
Maceió de luto

Entre atônita e estupefata, Maceió – de luto - assiste a entidade criada para cuidar dela, preservá-la, defendê-la contra predadores e trabalhar para fazê-la crescer, se desenvolver, comemorar ruidosamente os seus 207 anos. Enquanto a cidade sofre e chora a perda irreversível de partes importantes do seu “corpo” e seus “filhos” atingidos pelo mega desastre provocado pela Braskem em suas entranhas, passarem pelos perrengues que estão passando.

Em luto, perplexa e aturdida pelo comportamento vil daqueles que deveriam dela cuidar, a cidade chora em silêncio sua dor causada pela implosão de parte de suas vísceras pela atividade delinquente de uma mineradora multinacional – a Braskem - que, criminosamente, extirpou parte do seu “corpo”, a região Noroeste, e até hoje se recusa terminantemente a ressarci-la pelos prejuízos que causou. Que estimamos na casa dos 10 a 15 bilhões de reais, números até certo ponto considerados conservadores.

O luto de Maceió também é pela perda de quatro dos seus amados “filhos”. Os tradicionalíssimos bairros de Bebedouro, berço dos primórdios de Maceió, e do Mutange, do CSA um patrimônio imaterial de Alagoas e de seu casario do século XIX/inicio dos XX; o Bom Parto, de onde surgiu um dos mais importantes bairros operários da cidade e com uma carga simbólica sociológica e histórica gigantesca; o novíssimo Pinheiro, tipicamente de classe média e media alta e, parte significativa do Farol, a mais importante referência quando se trata de construir a história social e econômica de Maceió e de Alagoas.

O luto da Capital também se estende por seus 60 mil filhos expulsos de casa e obrigados a “entregá-las” a preços vis à mais nova e maior imobiliária da cidade: a Braskem, que está virando dona de todos os bairros afetados por conta do acordo absolutamente desequilibrado (precisa ser urgentemente revisto) celebrado irregularmente e que lhes dá poderes superiores até aos da própria Prefeitura nas áreas afetadas POR ELA! Uma jogada que pode aumentar o seu patrimônio nuns 12 bilhões de reais (quase exato o que ela deve e não paga à Maceió).

O sofrimento da Maceió enlutada alcança ainda os cerca de 70 mil “filhos” residentes no entorno do megadesastre que viram o valor dos seus imóveis virarem pó e não estão inclusos no programa de “ressarcimento” da empresa e que caminham para arcar sozinhos com os seus prejuízos, abandonados que estão – como todos os demais – pelas autoridades dessa cidade e desse estado.

De luto fechado, a cidade assiste triste, acabrunhada e melancólica os movimentos prevaricantes daqueles que deveriam defendê-la: as autoridades constituídas em todos os níveis do executivo, do judiciário e do legislativo, que simplesmente a abandonaram à mercê da sanha da multinacional que a destruiu.

Enlutada, Maceió vê o seu Alcaide se aproveitar politicamente da data do seu nascimento para “vender” seu peixe aos incautos e desavisados que não sabem que ele negocia às escondidas entregar de vez Maceió à Braskem em troca de 1,2 bilhões de reais, quando se sabe que esse valor não corresponde sequer a 10% do que é o devido a nossa Capital pela Braskem.

A cidade até teve um fio de esperança dias atrás, quando cinco (dos raros) profissionais qualificados de Alagoas para tratar do tema (autores da recente coletânea Rasgando a Cortina de Silêncios – o Lado B da exploração do sal-gema de Maceió), se colocaram a disposição – gratuitamente - passa assessorar o Alcaide nas tratativas com a Braskem, na expectativa de evitar outro prejuízo gigantesco para Maceió e de lutar pelos direitos de todos os atingidos pelo tsunami Braskemniano que afetou parte significativa da vida das pessoas, ceifou a de outras e atingiu mortalmente o património material e imaterial da Capital.

Para sua tristeza, o Alcaide sequer se deu ao trabalho de responder à oferta de consultoria gratuita dos cinco qualificados profissionais. O que a deixou ainda mais enlutada que agora tem certeza: vai ser novamente vilipendiada. E por isso avisa: não quero festas de quem me faz o mal. Quero justiça para mim e para os meus filhos!

O Luto de Maceió – que é o de todos os cidadãos que sofrem direta ou indiretamente os efeitos cotidianos do gigantesco prejuízo que a Braskem causou à cidade – parece não ter fim. E os que podem mudar essa trajetória de infâmias e corrupções foram seduzidos pelo canto de sereia da multinacional e sua desmedida insensibilidade com as dores de toda uma comunidade de 1 milhão de pessoas. Para estes, Maceió de luto manda um recado: Não achem que estão me enganando. Eu e os meus filhos sabemos o que vocês estão fazendo!