Tic Tac Tic Tac / Por Enio Lins

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As rosas e o Dia Internacional das Mulheres

Por Enio Lins 08/03/2023 08h08
As rosas e o Dia Internacional das Mulheres

Não é má ideia presentear as mulheres com uma rosa no dia 8 de março; uma flor pode ser um belo tributo à causa feminina – se a origem da data não ficar obnubilada por tal gesto.

Gentileza gera gentileza, já dizia o Profeta Gentileza, José Datrino (1917-1996), que circulava pelas ruas cariocas espalhando mensagens de amor e consolação, e que respondia toda vez que era chamado de maluco: “Sou maluco para te amar”.

Flor é pura gentileza, beleza. É bem-vinda, sempre, mas essa rosa não pode ser um espinho a rasgar a pele habitada por uma história ancestral de lutas das mulheres em todo o mundo; não deve ser o docinho momentâneo que alivia o amargor do machismo milenar.8 de março é a data de lembrança das lutas que as mulheres têm travado contra todas as formas de opressão, dominação, humilhação, redução, empulhação. Não é uma versão florista do Dia da Criança.

Diz-nos a insuspeita BBC sobre essa data: “Suas sementes foram plantadas em 1908, quando 15 mil mulheres marcharam pela cidade de Nova York exigindo a redução das jornadas de trabalho, salários melhores e direito ao voto”.

Segue: “A proposta de tornar a data internacional veio de Clara Zetkin, comunista e defensora dos direitos das mulheres. Ela deu a ideia em 1910, durante a Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, em Copenhague”.

Mais: “Foi celebrada pela primeira vez em 1911, na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça. Mas o Dia Internacional das Mulheres só foi oficializado em 1975, quando a ONU começou a comemorar a data”.8 de março é um dia de luta. Não é comemoração dalguma vitória, mas afirmação de que a luta continua! É um recarregar de baterias para ir adiante, pois o machismo segue dominante e violento, embora distribua flores de vez em quando.

Por falar em machismo, o feminicídio cresce no Brasil e o ano de 2022 registrou uma mulher assassinada por dia. O Dossiê Mulher do ISP, com dados de 2016 a 2020, diz: “a maioria das vítimas de feminicídio é morta pelo companheiro ou ex-companheiro (59%)”.Além dessa tragédia, há quem ainda creia que a mulher deva receber menos que o homem por trabalho semelhante, que existem profissões que não são “femininas”, que a mulher instiga o próprio estupro, e outras tantas pétalas.

Enfim, fiel às minhas mestras, repito que 8 de março é um dia de luta. Mas, tudo bem, mando aqui também flores – todas rubras. Viva o Dia Internacional da Mulher!