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Por isso tô aqui!

Por Redação 19/07/2023 08h08
Por isso tô aqui!

Correu o mundo, semana passada, a notícia de que a madre superiora Teresa Agnes Gerlach, encarregada do Mosteiro Carmelita da Santíssima Trindade em Arlington, no Texas, Estados Unidos, foi acusada de enviar mensagens de texto com conteúdo sexual a um sacerdote, identificado como padre Philip Johnson.

Embora tenha confessado o envio das mensagens, ela alegou que nunca houve intimidade física entre eles. Demonstrando remorso durante uma audiência na diocese, Teresa disse que o vacilo foi motivado pelo amor que nutre pelo padre. "Eu cometi um erro terrível. Não estava em meu juízo perfeito. Até uma freira pode cair"

Por coincidência, isso me fez recordar de outro padre Johnson (deve estar bem velhinho!), um missionário canadense que viveu no Brasil em meados do século passado, que me matou a curiosidade sobre algumas hipóteses para o nome da missa celebrada na véspera de Natal. A mais aceita pela fé católica, segundo ele, diz que um galo teria cantado à meia-noite do dia do nascimento de Jesus, anunciando a chegada do Messias – a única vez que um galo cantou antes do amanhecer.

Há quem diga que um galo cantou três vezes quando o apóstolo Pedro negou conhecer Jesus. Outros afirmam que o animal simboliza o amanhecer, celebrado pelos pagãos com gratidão ao Deus-Sol. Ou que a missa leva esse nome porque acaba tão tarde que os galos já estão "tecendo a manhã", como no poema escrito por João Cabral de Melo Neto, que levou mais de oito anos e 32 versões para ser concluído.

De fato, padre Johnson era bastante curioso, interessado nos mais variados assuntos, uma verdadeira “enciclopédia Barsa”. E lidava na paróquia com muitos adolescentes cheios de cravos, dúvidas e espinhas, a quem oferecia sábios conselhos, merecendo, por isso mesmo, o respeito das famílias do bairro.

Tanto respeito, inclusive, o levava a benzer casas recém-construídas. Nada cobrava para si nem para a Igreja, mas exigia três coisas: uma barra de enxofre, um prato de sal grosso e uma lata de carvão vegetal. Só então tinham início as orações e o enaltecimento da imagem de Nossa Senhora. Depois, partiam para o quintal onde estava a cisterna ou o poço, onde ele despejava os materiais requisitados. E a casa estava abençoada.

Anos mais tarde, depois que retornou para a América do Norte, descobriu-se a lógica “espiritual” do benzimento: o sal grosso é fonte de minerais e de iodo, elementos importantes para a nutrição e a saúde; o enxofre fortalece a imunidade e participa da produção de colágeno; e o carvão, que além de eliminar cheiros e sabores desagradáveis da água, é grande aliado no tratamento de gases gastrointestinais, combate o inchaço e dores abdominais.

Curioso como poucos, numa época em que nem se cogitavam avanços científicos do porte de um chatbot online de inteligência artificial, padre Johnson sabia da vida de todos os moradores do bairro. Era estuário e cofre das confissões e segredos comunitários, dos pecadilhos veniais aos mais encardidos.

Certo dia, Teresa (outra coincidência, acreditem!), uma loirinha que morava no bairro, curtia cinema, teatro e dançar solta, livre e leve, ao ritmo de Os Embalos de Sábado à Noite, procurou o padre Johnson bem cedo, indo ao ponto:
– Padre, eu sei que pequei, mas tô arrependida. Cometi um erro terrível. Não estava em meu juízo perfeito.

– Como foi isso, minha filha?

– Nem faço ideia. Me pegou desprevenida, juro!

– Sei… E daí?

– Daí que ele me perguntou se podia botar pra fora.

– E você?

– Quase infarto. Tinha tão pouco tempo que a gente…

– Quanto?

– Três semanas.

– Só?! Já tinha acontecido algo mais sério entre vocês?

– Nada demais… Só uns abraços apertados, dançando "Je t'aime... Moi Nom Plus", Something... E um selinho na boca, vai!

– Pois é… E ele?

– Ele o quê, padre?

– Botou pra fora?

– Nem me fale…

– Botou ou não botou?

– Não me deixe mais acanhada…

– Veja, filha, foi você que veio me procurar. Só posso ajudar se souber o que ocorreu – pondera o confessor, no auge da excitação de todo curioso quando prestes a descobrir um segredo felpudo.

– Não sei se vou ter coragem de contar.

– Por que não? O pior já passou, imagino…

– Sei não… Era enorme, padre…

– Eu devia ter desconfiado desde domingo... Você aqui na missa ao lado dele, toda animada... Tinha uma coisa esquisita no ar…

– Na hora, o susto foi grande, fiquei muda. Fechei os olhos e rezei baixinho…

– Seja mais clara, filha, me conte tudo o que houve.

– Assim que ele desabotoou, aquele troço deu um pulo…

– Você chegou a apalpar?

– Como?

– Filha, das passagens bíblicas que tratam do pecado da luxúria, uma das mais incisivas é a que está em Gálatas 5:19: “Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem”. E em Colossenses 3:5-6, tem outra referência: “Assim, façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena de vocês: imoralidade sexual, impureza, paixão, desejos maus... É por causa dessas coisas que vem a ira de Deus sobre os que vivem na desobediência”. Mas, me diga uma coisa: o que você tá chamando de “troço”?

– Padre, tô falando da hérnia no umbigo dele… Parece uma bola de ping-pong de couro! – explicou, com um sorriso ambíguo.

– Eu, hein?! Pensei que…


– Também pensei, padre… Por isso tô aqui!