Elias Fragoso

* Este texto não reflete necessariamente a opinião do Em Tempo Notícias

Chegou a hora da verdade

Por Elias Fragoso 22/10/2023 10h10
Chegou a hora da verdade

Durante os últimos e longos cinco anos e meio o que se observou em relação ao megadesastre que a Braskem provocou em nossa cidade, com reflexos na região metropolitana e para todo o estado, foi um estranho vazio de decisões. Exceto na área judiciária que – estranhamente – se colocou em lado diametralmente oposto aos afetados ao negar sistematicamente todos os seus pleitos feitos até agora. Hoje sabemos – graças ao levantamento que acabou de ser finalizado que foram 148.400 pessoas diretamente afetadas e quase 49 mil imóveis.

Sem apoio, os mais de 55 mil ex-moradores na área do epicentro do evento que perderam seus imóveis, mas e também, os mais de 74 mil moradores na área do entorno que tiveram seus 24.620 imóveis desvalorizados e, até hoje estão impedidos de acessar financiamento para transações de compra e venda dos mesmos uma vez que as seguradoras obtiveram na justiça o direito de não aportar recursos para os bancos operarem num raio de 1 km da área mais diretamente afetada.

São ainda os 2.400 moradores do Flexais e seus 812 imóveis que foram (95% deles) espoliados pela Braskem com uma proposta que beira o surreal: 25 mil reais como dano moral e pelos imóveis dos desvalidos residentes da área. Que poderiam ficar morando na área de isolamento que se tornou a região. Um absurdo total que precisa, tem que ser reparado. Responsabilidades precisam ser cobradas por mais esta calamidade praticada pela empresa na região com o conluio de órgãos que a rigor deveriam cumprir com suas obrigações.
São também os mais de 15 mil moradores do Bom Parto (área fora da área de inclusão da Braskem), de parte da rua Marquês de Abrantes e da Vila Saem que sequer foram até hoje objeto de uma ação mais incisiva para resolver a situação daquela gente sofrida e degradada pelo ambiente em que estão sendo obrigadas a permanecer.

E o que dizer dos 124 moradores-heróis que permanecem em suas residências na área do epicentro do desastre por não ter aceitado os valores vis ofertados pela empresa por seus imóveis? E que se encontram na surreal situação de viverem no meio do nada em que se transformaram os antigos bairros de Bebedouro, do Pinheiro, do Bom Parto, do Mutange e de parte do Farol. E as 8 prefeituras da região metropolitana também afetadas pelo megadesastre que foram obrigadas a acolher – sem que tivessem recursos financeiros para isso – milhares dos 55 mil ex. moradores das regiões do epicentro do evento?

Todos tem uma coisa em comum: zero apoio da justiça aos seus pleitos e zero contato da empresa para iniciar tratativas que levassem à equalização do passivo da empresa em Alagoas. Mas a coisa agora começa a mudar de figura. Primeiro temos os números e os dados para apoiar os pleitos dos credores de Alagoas em relação ao passivo da Braskem em nosso estado, por outro lado, o estado se organiza para atuar de forma profissional nas negociações com a Braskem, representando a todos os afetados e também os seus interesses já que o passivo com o governo também está em aberto (o slogan para essa ação é altamente sugestivo: ninguém fica para trás. Ou seja, ou se resolve o problema de todos ou nada feito.

Não faltam armas para fazer a empresa assumir suas responsabilidades (e são muitas e duras). Todas serão usadas caso haja tergiversações, tentativas de postergação ou mesmo recusa em negociar por parte da empresa. Chegou a hora da verdade.