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A história e as farsas dos “massacres justificados”

Por Enio Lins 10/11/2023 11h11
A história e as farsas dos “massacres justificados”


Eduard vom Rath, nazista, foi assassinado por Herschel Grynszpan, judeu, e os nazistas usaram isso como justificativa para o massacre de judeus na “Noite dos Cristais”, há 85 anos
Paris, 9 de novembro de 1938: Ernst Eduard vom Rath, diplomata alemão, morre em decorrência de um atentado sofrido dois dias antes. Tinha 29 anos, era filiado ao Partido Nazista e membro da milícia SA (SturmAbteilung), os “camisas-pardas”, a primeira das tropas de choque de Adolf Hitler.
Na manhã de 7 de novembro de 1938, segunda-feira, Herschel Grynszpan, judeu de 17 anos, foi à embaixada alemã em Paris e pediu para falar com um oficial responsável; depois de confirmar que seus familiares na Polônia e Alemanha haviam sido presos e deportados, alvejou o diplomata com cinco tiros.
TERROR JUSTIFICANDO MAIS TERROR
Hitler, imediatamente após o atentado, turbinou o fato na mídia nazista, apresentando seu correligionário como vítima inocente do terrorismo judeu; despachou imediatamente para Paris seu médico pessoal, Dr. Brandt, e o Dr. Magnus, famoso cirurgião, para tentar salvar vom Rath – no que não tiveram sucesso.
Em consequência do ato do jovem Grynszpan, os judeus – antes já cruelmente perseguidos pelos nazistas – foram apontados como “terroristas”, agentes do “comunismo internacional”, e a onda de violência antijudaica virou tsunami nos dias seguintes ao atentado, aprofundando a política de espoliação e extermínio.
Ao ser confirmada a morte de Ernst Eduard vom Rath, os nazistas, de forma organizada, desencadearam a violenta campanha conhecida como “Kristallnacht” (Noite dos Cristais, em tradução livre), com a famigerada SA invadindo áreas judaicas de moradia e comércio, destruindo, batendo e matando.
TERROR DA NOITE DOS CRISTAIS
Reichskristallnacht (Noite dos Cristais do Reich), Reichspogromnacht (Noite do Pogrom do Reich), são termos usados também para definir o ataque aos judeus na noite de 9 de novembro de 1938, terror que se estendeu por mais um dia de destruições, mortes e humilhações nas principais cidades do III Reich.
Vingando a morte de um único nazista, os nazistas mataram oficialmente (apenas na Noite dos Cristais) 91 judeus. Se estima que 30 mil pessoas de origem hebraica foram enviadas para campos de concentração como castigo pelo ato de Herschel Grynszpan, e destes não se sabe quantos foram assassinados.
Óbvio que a vingança dos nazistas nada teve de emocional, nem nada justifica o “placar inicial” de 1x91. Simplesmente, o gesto do jovem judeu – motivado como uma resposta violenta às repetidas violências que sua família e seu povo estavam sofrendo – foi utilizado pelo verdadeiro algoz para se passar por vítima.
Há 85 anos, o “direito de autodefesa” – cinicamente – “justificou” o esmagamento de uma população vulnerável: “um de vocês me arranhou, e por isso vou massacrá-los e tomar os bens que lhes restam”. Os nazistas fizeram isso em 1938 contra os judeus, e – desde 1948 – os israelenses repetem essa lição contra os palestinos.