Elias Fragoso

* Este texto não reflete necessariamente a opinião do Em Tempo Notícias

O futuro da Braskem passa por aqui

Por Redação 19/11/2023 11h11
O futuro da Braskem passa por aqui

A frase é provocativa e até parece presunçosa, uma vez que um microestado pobre, subdesenvolvido e onde a Braskem ancora tão somente 5% da sua operação global não teria, em condições normais de temperatura e pressão, como ser óbice para que o grupo multibilionário venha a trocar de mãos. Mas não é bem assim. Ao destroçar 5 bairros de Maceió, destruindo sonhos e expectativas de quase 150 mil pessoas, separando famílias e amigos, provocando uma das maiores migrações forçadas de que se tem notícia no mundo moderno em um país sem guerras e desequilibrando as finanças e a vida em 8 dos principais municípios da região metropolitana de nossa capital, a empresa viu sua imagem e marca se esgarçar, mesmo com o gigantesco trabalho de desinformação que ela, desde a eclosão do megadesastre, vem fazendo via mídia nacional e local.

O mega desastre provocado pela Braskem transtornou a vida de 1 milhão de maceioenses, que da noite para o dia viram o trânsito da cidade se transformar de caótico em um dos piores do país, as unidades de saúde se abarrotarem de afetados emocional e psicologicamente pelo desastre, milhares de estudantes serem prejudicados pela destruição de suas escolas, o preço dos imóveis explodirem (Maceió, uma cidade pobre habitada por mais de 70% de miseráveis, tem hoje um dos metros quadrados mais caros do país), e seguepor aí as mazelas que a empresa provocou.

É por isso que Alagoas pode se tornar central para o futuro da empresa (faz parte de um segmento que está entre os mais poluidores do mundo: o doplástico) que está em processo de venda da participação da sua controladora Novonor para o fundo ADCOM de Abu Dhabi.
A Braskem pode ver frustrada – mais uma vez – a venda das ações da
controladora pelo simples fato de que, ao tomar conhecimento do tamanho do passivo não resolvido da empresa em Alagoas, do clima belicoso que ela inabilmente construiu junto aos afetados e da ameaça potencial que ações reivindicatórias de ressarcimento – inclusive fora do país - representam para a saúde financeira e para a estabilidade operacional da empresa (num momento de mudança estrutural dos mercados do segmento), os interessados, ao menos até agora, têm desistido da empreitada.

O momento atual pode ser definidor do futuro da empresa. Os credores em Alagoas (antes de apelarem para a justiça holandesa), organizados em torno do governo do estado, cujo mote é “ninguém fica pra trás”, se preparam para apresentar proposta “ganha-ganha” que pode não apenas mudar o rumo das tratativas locais, como provocar uma reviravolta no “animus” dos futuros compradores da petroquímica. Depende apenas da empresa essa virada.

Agora, se insistirem pelo caminho – errado – de ignorarem Alagoas, achando falsamente que “resolvem isso depois”, empresa e compradores podem estar embarcando numa gelada nestes tempos de calor escaldante do nosso país.
Braskem, ADCOM, Petrobrás, não insistam nessa rota de  colisão desnecessária com Alagoas. Vocês podem se surpreender com a resiliência, vontade férrea e a dignidade dos alagoanos..