Oito baixos alagoano com Hermeto, ideia gigante!
Recebi o argumento do filme “De Gerson Filho a Hermeto Pascoal – O ‘Oito Baixos’ alagoano”, cujo foco – como o título ulula – é a velha, e hoje rara, sanfona de oito baixos, uma das marcas da música popular alagoana e nordestina, que brilhou nacionalmente com Gerson Filho e que tem o bruxo de Lagoa da Canoa como um dos devotos do “fole” que também foi tocado pelo pernambucano Januário, pai de Luiz Gonzaga.
Esse é o roteiro mais instigante e promissor, desde que Pedro da Rocha e Léo Villanova se lançaram no filme sobre o tiroteio na Assembleia Legislativa de Alagoas (travado em 1957, quando do impeachment contra o governador Muniz Falcão). Esta sacada de juntar Hermeto com a memória e a contemporaneidade do acordeão de oito baixos em Alagoas é simplesmente genial.
IDEIA NA CABEÇA, CÂMARA NA MÃO
Tocada pelo cineasta Mário Vinícius “Marola” – com um excelente filme sobre a história do surfe em Alagoas no currículo, além de importante obra publicada sobre as fachadas antigas de Maceió – a proposta foi selecionada pela Comissão de Mérito da Lei Paulo Gustavo, e se prepara para ter aprovado o financiamento, por sinal de pequena monta, considerando o gigantismo da ideia e os cinematográficos valores de patrocínio que é marca do segmento cine/vídeo em todo país.
Nos recursos da Paulo Gustavo para Alagoas, esse filme pleiteia R$ 500 mil, como longa-metragem documental, enquanto estão destinados R$ 2,8 milhões para duas séries (R$ 1,4 milhão para cada) e R$ 6 milhões para cinco longas-metragens de ficção (R$ 1,2 milhão para cada). Lamentável é que a grana disponibilizada por essa lei para outros segmentos, como o literário, por exemplo, seja magérrima. Mas não é o caso dessas linhas criticar isso (agora), mas aplaudir uma ideia de filme documentário que merece ser financiado.
DETALHES TÃO GRANDES
Pelo levantamento feito por Marola, apenas nove (9) tocadores alagoanos mantêm – profissionalmente falando – viva a tradição da sanfona de oito baixos, e destes, cinco moram em solo natal, resistido a duras penas com sua arte. Esses depoimentos se anunciam como um documento de enorme importância cultural e sociológica.
Enredo simples e objetivo, com a sustentável leveza de ser testemunhal, registrando grandes artistas marginalizados pelas tendências musicais da moda, ignorados pelo mercado e distanciados do streaming; registro esse conduzido por Hermeto Pascoal, um dos músicos brasileiros de maior prestígio internacional em todos os tempos
.BOTIJAS AINDA ESCONDIDAS
Como nas lendas dos tesouros que nunca foram descobertos, histórias de grandes artistas alagoanos são botijas enterradas na vida real. Quem conhece Gerson Filho? Peterpan? Clemilda? Só perguntando sobre forró, segmento pesquisado pelo saudoso Zé Lessa – que lutou a vida inteira para que essa memória não morresse.
No esquecimento estão – além dos citados no parágrafo anterior – Jacinto Silva, João do Pife, Zinho, Tororó do Rojão, Luiz Wanderley, Jocy da Silva –alguns dos nomes lembrados por Zé Lessa em artigo antológico no Almanaque Alagoas em junho de 2017 (publicação especial quando do Bicentenário da Emancipação Alagoana).
APLAUDINDO DE PÉ, ANTECIPADAMENTE
Um filme desses é para aplaudir de pé, antes mesmo da projeção. Esse tipo de proposta faz crer na justeza da destinação de recursos públicos para a sétima arte. Do projeto até a finalização existe um caminho que nunca é fácil, pois toda obra tem imprevistos, mas essa proposta Hermeto & Oito Baixos é mágica e cidadã.
Ansiosamente, espera-se pela estreia do “De Gerson Filho a Hermeto Pascoal – O ‘Oito Baixos’ alagoano”. Pipocas reservadas.
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