Sofismas e mitos na questão do sionismo de direita
Em boa hora, a revista Veja, em seu site, publicou uma declaração de Bibi Netanyahu defendendo Hitler, no mesmo dia em que o primeiro-ministro israelense deu um piti por conta da comparação (corretíssima) feita pelo presidente do Brasil entre o nazifascismo histórico e o sionismo de extrema-direita.
“Netanyahu já se envolveu em polêmica por declarações sobre Holocausto” estampou a Veja em edição digital, anteontem, 18 de fevereiro. “Premiê israelense disse em 2015 que Hitler não tinha intenção de matar judeus e teria sido convencido por ex-líder islâmico de Jerusalém a executá-los” – Leia em: https://veja.abril.com.br/mundo/netanyahu-ja-se-envolveu-em-polemica-por-declaracoes-sobre-holocausto.
É certo que nada pode cassar o direito do povo judeu em ter um país para chamar de seu. Mas tal condição não pode ser conquistada e mantida imitando Hitler. Para o sionismo de extrema-direita, o nazismo parece ter sido uma escola ideológica – insisto – em relação a pontos fundamentais, na prática e na teoria, em concepções como “Espaço Vital”, “Povos Inferiores” e a genocida “Solução Final”.
CORAJOSAS VOZES JUDAICAS
Repito: Lula não foi original na comparação entre nazifascismo e a extremada direita israelense. Além dessa denúncia ter sido formulada em 1948, por notáveis judeus (Einstein, Arendt..., conforme lembrado aqui ontem), incontáveis pessoas de origem judaica denunciam – há décadas – a política racista, desumana, expansionista e genocida (uma política nazifascista) dos sionistas direitistas e racistas.
Norman Finkelstein, judeu, arqueólogo e Doutor em Ciência Política pela Universidade de Princeton, filho de pais sobreviventes dos campos de concentração nazistas, autor do livro “A Indústria do Holocausto”, foi perseguido, proibido de voltar a Israel, e perdeu cargos de professor em universidades americanas, por conta de sua coragem em ser denunciante contumaz – e fundamentado – da política genocida sionista.
Noam Chomsky, judeu, um dos intelectuais mais importantes do mundo, professor emérito de Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, autodefinido como “sionista de esquerda”, é outro gênio hebreu considerado “persona non grata” em Israel por suas críticas à hegemônica extrema-direita israelense.
No Brasil, o jornalista judeu Breno Altmann está sendo perseguido por entidades sionistas em função de suas denúncias contra o nazifascismo de Netanyahu e quadrilha. São exemplos eloquentes do terror intelectual orquestrado por Telavive.
QUANTIDADE NÃO É A QUESTÃO
Algumas penas brilhantes têm escrito argumentos pueris do tipo “criticar a violência de Israel, sim – mas comparar com o nazismo, ah, não”, e/ou “o holocausto promovido pelos nazistas matou seis milhões de judeus, e Israel só matou algumas dezenas de milhares de palestinos”, e/ou “se é judeu não pode ser nazista” e pérolas semelhantes, abusando dos sofismas nas análises.
Ora, os nazistas não começaram matando seis milhões de judeus, iniciaram a matança em número talvez inferior ao alcançado nos dois primeiros meses do atual massacre israelense contra os palestinos. Segundo estimativa da BBC, entre 7 de outubro e 19 de dezembro de 2023, pelo menos 20 mil palestinos haviam sido assassinados em Gaza – e, dessas mortes, 14.200 eram crianças e mulheres (!). Segundo a Enciclopédia do Holocausto, no primeiro campo de extermínio nazista, Chelmno, o morticínio (holocausto) iniciou com grupos de 50 a 70 vítimas.
Diz-nos a Enciclopédia Significados: “Genocídio significa a exterminação sistemática de pessoas tendo como principal motivação as diferenças de nacionalidade, raça, religião e, principalmente, étnicas. É a prática que visa eliminar minorias étnicas em determinada região”. O governo israelense está exterminando sistematicamente civis, não-combatentes, pessoas de origem árabe, nativas da Palestina – que nome se dá a isso?
TRAGÉDIA X EMBUSTE
Mitos e sofismas não faltam a esse tema, desde o “critério” da quantidade, até a “blasfêmia” em comparar sionismo de direita com nazifascismo. Mas uma questão vital, mais direta e extremamente delicada, segue em busca de uma resposta nem dogmática, nem superficial: É possível ser judeu e nazista, inclusive sob o nazismo? Vamos visitar este tema brevemente, talvez amanhã – quem sabe?
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