Educação em casa pode influenciar o comportamento adulto na empresa
Existem dois temas que me interessam muito, nos quais invisto bastante tempo, que são de contextos bem distintos e, aparentemente, distantes. Porém, só aparentemente. Um dos temas é de âmbito pessoal e até íntimo, por assim dizer, e o outro da vida profissional.
Primariamente, meus desafios junto às organizações tratam de problemas de comunicação, alinhamento, foco e obtenção de resultados. E para resolver vários destes desafios, existem diversos outros temas “ocultos”, que precisam ser destravados para que alcancemos o que desejamos. Entre eles estão: assumir responsabilidades e trabalhar por resultados.
Esse é um tópico desafiador, porque temos sistemas de incentivos que estimulam estes comportamentos e que, na verdade, não são desejados. Confuso, não? Pois é, explica, em parte, a dificuldade que enfrentamos dentro das organizações para trabalhar de maneira colaborativa, por resultado e cada um assumindo a responsabilidade onde lhe cabe.
Bem, eu disse que uma parte vem dos sistemas dentro da própria organização, mas agora temos que trazer o outro âmbito, que pode ou não, acabar afetando bastante o ambiente de trabalho, que eu mencionei no início do texto. Estou falando da educação que recebemos em casa.
Quando estamos educando os nossos filhos é muito natural que precisemos ensiná-los a assumir responsabilidades sobre as tarefas, e cada filho consegue assumir uma tarefa de cada tamanho, que varia de acordo com a idade que possui, pois está relacionada com a compreensão sobre a ação.
Por exemplo, filhos pequenos não vão conseguir colocar e tirar a mesa, mas ao crescerem, esta tarefa será possível. Se você tem mais de um filho, também é importante incentivá-los a trabalharem juntos ou dividir as tarefas da casa, aprendendo a se responsabilizar, lembrar de fazer, executar bem feito, aceitar uma orientação e uma correção quando necessário.
Percebo que a atribuição de responsabilidade é exercida de maneira individual, seja porque as famílias têm um ou, no máximo, dois filhos ou porque realmente não consideram o ambiente profissional, onde futuramente as crianças, que se tornarão adultos, vão precisar trabalhar junto com pessoas com temperamentos, habilidades e conhecimentos diferentes e que se complementam.
Aqui está um desafio de percepção para os pais e mães e acaba sendo um desafio para os líderes nas organizações. Uma criança que não foi ensinada a assumir responsabilidades, a trabalhar em equipe e cumprir regras, provavelmente será um adulto que não terá essas noções como obrigatórias dentro de uma empresa, o que acabará dificultando muito a sua performance em qualquer emprego.
No entanto, é possível contornar esse comportamento no ambiente profissional, mas se torna um processo mais complicado, afinal, este jovem que entra no mercado de trabalho já passou 20 anos pensando e atuando de uma maneira, sem estar exposto a estes outros aspectos. Então a mudança é mais árdua, estamos sentindo isso na pele.
De um lado, é preciso mudar os sistemas nas organizações e, do outro, também executar treinamentos on the job, preferencialmente, que tragam awareness destes temas. Pois um sem o outro vai tornar o esforço de mudança mais lento, demorado e que vai entregar resultados parciais.
*Pedro Signorelli é um dos maiores especialistas do Brasil em gestão, com ênfase em OKRs.
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