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Como falar da morte para uma criança?

Por Marília Lacerda 03/04/2024 14h02
Como falar da morte para uma criança?
Marília Lacerda.

Falar para uma criança que alguém próximo, que ela ama, partiu, pode parecer uma situação muito complexa. Apesar disso, não podemos permitir que os medos da vida adulta e a vontade de não deixar a criança sofrer, interfira no processo dela de lidar com o luto da perda. De qualquer maneira, haverá o rompimento do vínculo na relação que ela tinha com a pessoa que se foi. Por isso, a transparência pode ser fundamental para o presente e, muito mais, para o futuro.

É na infância que os seres humanos passam pelo principal processo de desenvolvimento e aprendizado da vida e, a morte, por mais difícil que seja, também precisa ser uma das situações que ela deve conhecer. Por esse motivo, da mesma forma que os adultos encaram o luto, a criança também tem o direito de saber, dentro dos limites que ela possa sustentar (sem tantos detalhes literais, por exemplo) o que está acontecendo e escolher como ela quer enfrentar essa situação.

Mas na prática, você deve estar se perguntando: Mas como eu conto essa história? Devo levar as crianças aos rituais funerários?

No momento da morte de um ente, os responsáveis podem, primeiro, sentar com a criança e ser transparentes com o que aconteceu, tomando cuidado para manter um discurso leve e infantil. Ao explicar que a pessoa se foi, você pode apresentar a ela que haverá um ritual para se despedirem, contando como funcionará todo o processo. Um modo de fazer isso é dizendo que a pessoa estará deitada, como se estivesse dormindo, que ela não vai falar; pontuar que algumas pessoas vão estar chorando, também é uma estratégia para que não seja um fato estranho. No final, a caracterização de que o ente está “indo para uma nova casa” pode ajudar a ilustrar o enterro ou cremação. Mencionar o tempo que vai demorar pode ajudar a criança a lidar com o processo. Ao contar como será todo o evento, você estará dando espaço para que a própria criança escolha se ela gostaria ou não de participar daquele momento.

É muito comum que nós, adultos, tenhamos o pensamento de: “Se é difícil para nós, imagina para as crianças”. Contudo, na maioria das vezes, as crianças tendem a encarar esses momentos com muito mais naturalidade que os mais velhos. Tudo ainda é muito novo, por isso, é esperado que elas apresentem mais curiosidade do que a angústia que os adultos acabam enfrentando. Todo o processo: pré, durante e pós despedida é muito importante para a construção do sentimento com menos traumas.

Apesar de ser um momento desafiador, a morte não precisa se tornar um tabu na vida familiar. A criação do vínculo entre você e a criança, será muito importante, principalmente, para o futuro. Não esconder a dor e os sentimentos que a morte de alguém traz, ajuda a criança a também expressar os seus sentimentos e se fortalecer diante da perda, passando pelo processo do luto e ressignificando aquela relação.

* Marília Lacerda é publicitária e Head da Azos.