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A economia brasileira durante o período do “MILAGRE” (1969-1973)

Por Arnóbio Cavalcanti 13/05/2024 15h03
A economia brasileira durante o período do “MILAGRE” (1969-1973)

O MILAGRE BRASILEIRO

O ano de 1969 dá-se início, do ponto de vista econômico, um ciclo de forte crescimento na economia brasileira. Esse ciclo de crescimento, jamais atingido pelo Brasil, finalizado em 1973, ficou conhecido na literatura econômica brasileira como o ‘Milagre Brasileiro”. Ver gráfico.



Entre 1969 e 1973, a economia brasileira registrou uma elevação no seu produto interno bruto (PIB) de cerca de 10,9% a.a. e da sua atividade industrial próxima de 12,2% a.a.

Outro aspecto importante vivido pela economia brasileira, nesse período, foi a repentina elevação registrada na taxa de investimentos, que chegou a atingir cerca de 25% do PIB, enquanto o ritmo do crescimento do PIB, por exemplo, superou a taxa da poupança interna. É importante notar que esse feito só tinha ocorrido na economia mundial no período do milagre alemão (1933-1944) e do milagre japonês (1955 e 1961).

OPORTUNIDADE DO MILAGRE


Dois fatores contribuíram, sobremaneira, para o surgimento do desempenho da economia brasileira nesse período: a reforma fiscal/tributária iniciada quando da instalação do governo militar de 1964 e o excesso de liquidez de crédito na economia mundial ocorrida no final dos anos 1960.

A reforma fiscal/tributária, promovida pelo governo militar no período 1964-1968, ajudou a criar as bases do crescimento anotado pela economia brasileira no período do milagre. O governo Castelo Branco promoveu um programa de austeridade fiscal visando os déficits fiscais, contribuindo para combater à inflação e elevação da poupança pública. Para conter a elevação dos gastos, por exemplo, editou o AI-1, que proibiu que o Poder Legislativo elevasse o total de despesas na votação do orçamento da União. Entre as inovações tributárias, foi criado o Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICM), incidente sobre o valor adicionado em cada etapa de comercialização do produto. Além disso, criou mecanismos de cobrança de reajustes pela inflação passada dos impostos atrasados. Como consequência, a carga tributária que representava 16% do PIB, em 1963, passou para 21% do PIB, em 1967.

No final dos anos 1960, o governo dos EUA, para resolver o problema do déficit da balança de pagamento, adotou uma série de medidas para conter a saída de capital de seu território, entre as quais, elevou a taxa de juros. Visando contornar essas medidas, as multinacionais americanas resolvem depositar seus ganhos de capitais nos bancos europeus, surgindo assim o chamado mercado de “eurodólar”. O excesso de depósitos de dólares nos bancos europeus contribuiu para a baixa da taxa de juros, tornando o governo brasileiro, juntamente com o argentino e o mexicano, grandes demandadores desses créditos baratos. O Brasil saiu de uma dívida externa de U$ 3.780 milhões de dólares, em 1968, para a cifra de U$ 12.572 milhões de dólares, em 1973.

FIM DO MILAGRE


A derrocada do milagre se inicia em outubro de 1973. Agindo como uma forma de protestar pelo apoio dos Estados Unidos ao governo de Israel na guerra de Yom Kippur (dia do perdão), os países árabes produtores de petróleo que faziam parte da OPEP aumentaram o preço internacional do petróleo em mais de 400%. O preço nominal do barril de petróleo internacional, que era de cerca de US$ 3, subiu para US$ 12 em apenas três meses, gerando um efeito devastador na economia mundial e, consequentemente, na brasileira.

As consequências do primeiro choque do petróleo na economia brasileira, será relatada no próximo episódio.