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O debate sobre o desemprego na economia no Brasil: o que dizem os neoclássicos, keynesianos e outros

09/08/2024 07h07
O debate sobre o desemprego na economia no Brasil: o que dizem os neoclássicos, keynesianos e outros

A taxa de desemprego no Brasil caiu para 7,1% no trimestre finalizado em maio de 2024. Assim, o nível de desemprego atual se configura como menor nível em dez anos.

Nesse artigo iremos descrever as principais explicações teóricas sobre o fenômeno do desemprego na economia.

Há quase um século a teoria do desemprego vem sendo debatida por duas correntes econômicas dominantes: a escola neoclássica (liberal) e a escola keynesiana (intervencionista). Entre 1929 e 1973, ocorreu o triunfo dos economistas keynesianos. Depois dos anos 1980, os teóricos liberais veem dominando o debate.

Neoclássicos

Até a crise de 1929, o credo liberal considerava que o mercado de trabalho funcionava como qualquer outromercado e seguia a lei da Say. Os salários podiam variar livremente e estavam sempre em equilíbrio.

A oferta de trabalho seria ofertada pelos trabalhadores, enquanto que as empresas, que contratam as pessoas, são responsáveis pela demanda por trabalho. Quanto maior for os valores dos salários, menor seria a demanda das empresas por trabalhadores. Por outro, quanto menor for o salário pago, maior seria a demanda por trabalho e, assim,menor o nível do desemprego. Para os neoclássicos, a oferta de trabalho e procura por pessoas se equilibraram em um determinado preço de equilíbrio, que seria o salário ideal da economia. Se existe desemprego na economia é porque ele é voluntário, ou seja, a pessoa rejeita trabalhar pelo salário oferecido. A economia está sempre em pleno emprego.

Keynesianos

A crise de 1929 mostrou que o postulado neoclássico estava controverso. Coube ao economista Keynes trazer uma nova visão sobre o mercado de trabalho. Para ele, o desemprego não é amenizado pela prática de salários baixos, mas através do nível global de demanda dos bens e serviços formados na economia. As empresas não contratam porque os salários são baixos, mas por considerarem que precisam produzir mais, pois existe uma demanda para comprar seus produtos. Para Keynes, não basta baixar os salários para se gerar empregos. A criação de salário-mínimo e de seguro desemprego, por exemplo, vai permitir que as pessoas que ganham rendas extras econtinuem consumindo e movimentando a economia.

Essa teoria perdurou até o primeiro choque do petróleo, em 1973.

O monetarismo de Friedman

Nos anos 1970, durante a crise do petróleo, Milton Friedman utilizou a famosa curva de Phillips para mostrar que o receituário keynesiano não mais respondia ao fenômeno do estagflação vivido pela economia global. Os países passaram a viver com crises econômicas graves, mesmo não ocorrendo aumento da demanda, nem da oferta. A inflação desse período continuou crescente e o desemprego em alta.

Novas correntes passam a dominar as políticas de emprego.

Dois regimes de desempregos

E. Malinvaud trouxe uma discussão nova sobre o dilema de oposição entre os discursos neoclássico e keynesiano. Para ele, existe uma rigidez de preços na economia, o que permite coexistir os dois tipos de regimes de desemprego: keynesiano e neoclássico.

O desemprego Keynesiano aparece quando a demanda de bens e serviços do mercado é limitada e as empresas, por serem racionais, procuram produzir menos e, consequentemente, passam a gerar desemprego.

Por outro lado, o desemprego Neoclássico surge na situação em que os preços dos bens e serviços da economia são baixos e não produzem o lucro desejável para a empresa. Neste caso, para manter seu nível de lucratividade, a empresas é instada a demitir seus funcionários.

O modelo insiders/outsiders

Durante os anos 1980, os economistas A. Lindbeck e D. Snower trazem à tona a teoria insiders/outsiders. Para eles, o desemprego nas economias ocidentais aparece devido à natureza de dualidade que ocorre no mercado de trabalho. Nesse caso, o mercado de trabalho comporta duas situações diametricamente oposta: insiders e outsiders. Com isso, o conflito entre insiders e outsiders repousa sobre o argumento de que as empresas incorreriam em custos ao tentar substituir os trabalhadores empregados (insiders) por trabalhadores desempregados (outsiders).Esse custo de rotatividade da mão-de-obra estariaassociado às questões do desemprego.

Salário eficiente

Vários economistas advogam o papel do salário eficiente para explicar o desemprego na economia. A ideia do prêmio nobel J. Stiglitz é que as empresas, visando obter ganho de produtividade, em geral, praticam salários acima do ponto de equilíbrio entre a oferta e a demanda por trabalho. Ofertando um nível alto de salário, a empresa deixa de contratar contratar novos quadros e pagar horas extras, descanso remunerado, entre outros benefícios, gerando o fenômeno do desemprego.

Fim do trabalho

Em 1995, o economista americano J. Rifkin publicou uma importante obra sobre a economia do trabalho: O fim do Trabalho. Nessa obra, J. Rifkin defende a ideia que o desemprego não é um sintoma de uma crise econômica, mais uma consequência do seu sucesso. O homem nunca foi movido pelo prazer de trabalhar, sempre trabalhou em virtude de suas necessidades. Para ele, a automação, a robotização e o uso de inteligência artificial, por exemplo, irão conduzir a uma sociedade livre do trabalho.

E você? Se identifica em alguma dessas escolas?