MCZ-BSB (releitura de um texto antigo)
O corredor estendia-se, solene e indiferente, como quem já viu muitos passarem por ali. À direita e à esquerda, pequenas luzes pareciam tentar orientar o destino de quem, como eu, aguardava. Acima, dois grandes luminosos brancos, com letras vermelhas, sussurravam avisos que ninguém mais escutava. E ao fundo, os velhos símbolos de sempre: um homem, uma mulher, em verde e vermelho. A vida dividida entre partidas e chegadas.
Sentado, eu esperava o instante em que o avião romperia o chão e subisse ao céu.
As pessoas entravam aos poucos, como que pisando em um tempo suspenso. Um casal jovem, embalando seu bebê que mal conhecia o mundo, tomou lugar à frente. Um senhor idoso, à minha direita, cruzava o corredor com o peso dos anos. Ao meu lado, um casal que parecia caminhar pelo meio do caminho da vida. Atrás, a energia incessante de uma família, com um menino de nome Paulinho, que mal sabia o que o aguardava.
O voo começou.
Tentei encontrar refúgio nas páginas de um livro, mas, após uma hora, as letras se desmancharam no cansaço. Foi quando notei o senhor ao lado. Chorava baixinho, um pranto discreto, como quem se desculpa por estar triste. Quis aproximar-me, oferecer alguma palavra, mas, antes que pudesse, um grito infantil rasgou o ar:
– Yes!
Paulinho, imerso em sua pequena euforia, vibrava com o jogo em suas mãos. A energia que dele brotava era impossível de conter. A mãe e o pai, impotentes, tentavam baixá-lo à realidade:
– Fala baixo, Paulinho.
Ao meu lado, o casal de meia-idade era uma ilha em seu próprio mar. Abraços e beijos se derramavam no pequeno espaço entre nós, como se fossem os últimos amantes sobre a Terra. Um romantismo exagerado, de filme antigo, quase poético na sua intensidade.
Mais à frente, o jovem casal lutava contra o choro insistente de seu bebê, um lamento talvez provocado pela pressão atmosférica, talvez pelo próprio mundo. A tensão entre eles era palpável, como se a exaustão fosse uma terceira presença naquele cenário.
E assim, Maceió ficou para trás enquanto Brasília esperava. Quando pensava que teria um momento de descanso, Paulinho, sempre ele, anunciava:
– Yes!
Fazemos julgamentos. Julgamos as vidas ao nosso redor, como quem assiste a um filme sem ter lido o roteiro. Eu fazia os meus, observando aquele teatro improvisado, acreditando entender os personagens.
Ao chegar em Brasília, preparei-me para o desembarque. O casal ao meu lado se despediu com uma intimidade final. Ele seguiria para o Rio. Ela, ao lado da porta, deixou uma despedida que me surpreendeu:
– Foi bom te conhecer. Me liga, se quiser. Você tem meu número.
Fiquei confuso. Percebi meu preconceito, o julgamento apressado sobre a relação deles, baseando-me apenas em suas idades, como se o tempo tivesse o direito de ditar as regras do amor.
Ao sair, o jovem casal que antes brigava agora se beijava na escada rolante. O bebê, sereno, olhava para eles, um sorriso tímido no rosto. Tentava, com as pequenas mãos, tocar o nariz do pai, como se dissesse: “Está tudo bem agora.”
Mais à frente, vi o senhor, ainda com o rosto molhado. Achei que seria o momento certo para oferecer-lhe consolo. Mas, ao me aproximar da área de bagagens, fui surpreendido por gritos de alegria. Uma família inteira o esperava com faixas, abraços e uma festa de reencontro. O que eu julgara ser tristeza era, na verdade, uma alegria tão profunda que transbordava em lágrimas. Ele estava de volta após muitos anos.
Caminhei sozinho em direção ao táxi, o peso dos meus julgamentos sobre os ombros. Lembrei-me das palavras de *Macbeth*: “A vida é uma sombra que passa; uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, significando nada.”
Eu era o idiota. Quem acredita enxergar o todo pode, no fundo, ser o mais cego de todos.
De repente, ao meu lado:
– Yes! Ganhei!
– Fala baixo, Paulinho. Fica quieto, menino – disse a mãe, mais uma vez.
Talvez, apenas talvez, eu não estivesse totalmente errado. Boa sorte, Paulinho.
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