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Ciclos

Por Rainey Marinho 26/11/2024 07h07
Ciclos

A vida é feita de ciclos. Enquanto uns os ignoram, outros se consomem na dor
que eles trazem, e há ainda aqueles que, na conquista, acreditam que a
verdade ou o sentido de sua existência não dependem da história que
carregam. Mas a verdade é que nada começa agora. O presente, por mais que
se desenhe como uma folha em branco, é tecido pelas pontas do passado, que
se entrelaçam no hoje e dançam no ritmo incerto do amanhã.


Os anos foram duros, mastigados pela incerteza, marcados por noites sem
respostas e dias de fardos pesados. Mas diante do definitivo, precisamos nos
entregar à esperança. Porque, no fundo, ninguém sabe a extensão da dor
alheia. Não há lugar de fala para quem não carrega o peso de um peito
apertado, sufocado por lutas invisíveis. A dor é silenciosa, solitária, e muitas
vezes incompreensível.

Os impulsivos veem as coisas como simples matéria, desconectadas, vazias de
significados maiores. Esquecem-se de que o legado é um fio contínuo, que não
se rompe nem se esquece. E, nesse fio, ora nos deparamos com a dor que
dilacera, ora com a oportunidade que brilha como um vislumbre de redenção.
Mas quem encara o abismo muitas vezes perde a dimensão do futuro, como se
a grandeza do que está por vir fosse eclipsada pela escuridão do agora.

Deus conecta. Somente Ele resolve. No ciclo infinito de estar aqui, neste vale
onde lágrimas são semeadas e colhidas, pergunto-me: por que não falar
também das alegrias que despontam no horizonte? Eu entrego minha vida
nas mãos d’Ele, e apenas d’Ele. Cumpro meu papel neste grande tabuleiro
onde o tempo embaralha as cartas e nos desafia com suas jogadas
imprevisíveis.

Sei quem amei, sei do sofrimento que carreguei, sei o quão longe fui. E, apesar
de tudo, confesso: vivi! Porque viver é isso — um jogo de ciclos, onde o ontem
ecoa no hoje, e o amanhã dança à espera de nosso próximo passo