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O valor do conhecimento: A teoria do capital humano de Theodore Schultz e Gary Becker

20/12/2024 14h02
O valor do conhecimento: A teoria do capital humano de Theodore Schultz e Gary Becker

Desde os primórdios da história, o valor do capital humano, representado pelo conhecimento, evoluiu conforme as necessidades de cada época. Com o advento do sistema capitalista, o conhecimento adquiriu importância fundamental.

Muitos economistas, como Adam Smith, Karl Marx e Alfred Marshall, já buscaram explorar o impacto do capital humano nos processos socioeconômicos, porém não conseguiram desenvolver um modelo analítico sistemático. No entanto, foi apenas na década de 1960 que a Teoria do Capital Humano ganhou forma e sistematização. Theodore Schultz (Prêmio Nobel de 1974) e Gary Becker (Prêmio Nobel de 1992), da Universidade de Chicago, desenvolveram o primeiro modelo econômico, destacando a educação como fator crucial no desenvolvimento socioeconômico.

Este artigo visa abordar a Teoria do Capital Humano por meio de um breve levantamento histórico, realizado por uma revisão bibliográfica de literatura publicada sobre o tema.

A Teoria do Capital Humano: De Adam Smith a Gary Becker


Em 1776, Adam Smith discorre pela primeira vez sobre o tema quando escreve “A Riqueza das Nações”, sem utilizar o termo ele se aproxima do que futuramente passaria a considerado a teoria do capital humano. Nessa obra, o capital humano assume a forma de fator de produção, juntamente com o capital, sendo considerado o principal instrumento de mensuração do valor das mercadorias. A capacitação dos indivíduos é fonte de prosperidade, todavia deve ser iniciativa individual, pois Smith assume que o estado deve exercer poucas funções.

Para Adam Smith, a busca de conhecimento é fundamental para melhorar a condição do indivíduo, levando-o à prosperidade. No entanto, ele atribui poucas funções ao Estado, defendendo a liberdade individual na escolha profissional. Smith sustenta que o mercado de trabalho deve ser livre, permitindo aos indivíduos escolherem suas profissões sem restrições. Essa liberdade é regulada pela "mão invisível", que equilibra a oferta e demanda de empregos e mão de obra.

Alfred Marshall, em sua obra "Principles of Economics" (1890), abordou o conceito de capital humano. Ele afirmou que "toda riqueza consiste em coisas desejáveis" e classificou-a em dois grupos: bens materiais e imateriais. Os bens imateriais incluem qualidades e habilidades, que Marshall considerou como capital humano. Ao adquirir conhecimento, o trabalhador aumenta sua confiança e eficiência na execução de suas atividades laborais.

Alfred Marshall destaca também que, a falta de oportunidades entre crianças da classe trabalhadora limitava o potencial de descoberta de talentos excepcionais, prejudicando o desenvolvimento da riqueza nacional.

Karl Marx, em sua obra "O Capital" (1867), apresenta uma perspectiva crítica sobre o conceito de capital humano. Marx argumenta que a divisão do trabalho é utilizada pela classe dominante para explorar a força de trabalho assalariada e consolidar o poder dominante da burguesia. Ele critica Adam Smith por considerar suas ideias sobre oferta
e demanda de mão-de-obra como superficiais e ideologicamente motivadas pela classe burguesa. Para Marx, o investimento em educação é fundamental para transformar as relações sociais e empoderar os trabalhadores, permitindo-lhes assumir o controle do Estado.