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Crescimento com propósito: O que Alagoas pode aprender das teorias econômicas?

29/11/2025 12h12
Crescimento com propósito: O que Alagoas pode aprender das teorias econômicas?

Falar de crescimento econômico é falar de escolhas . Não basta observar números do PIB ou celebrar variações positivas: é preciso compreender o que está por trás deles e, principalmente, que tipo de trajetória estamos construindo. O IBGE divulgou recentemente os resultados do PIB estadual de 2023 e, embora todas as 27 unidades da federação tenham crescido — em média, 3,2% em relação a 2022 —, o desempenho não foi homogêneo , tampouco garantirá avanços sustentáveis ​​no longo prazo se não houver estratégia.

PIB e PIB per capita

Acre (14,7%), Mato Grosso do Sul (13,4%) e Mato Grosso (12,9%) foram os destaques do período, impulsionados principalmente pelo agronegócio . Na outra ponta, Rio Grande do Sul (1,3%) e São Paulo (1,4%) , afetados pela retração da indústria de transformação , ficaram abaixo da média nacional.

No caso do Nordeste, os dados mais recentes disponíveis para o PIB estadual ainda se referem a 2023. Naquele ano, o PIB de Alagoas alcançou R$ 89,7 bilhões , com expansão real de 3,5% — um pouco acima da média regional (2,9%) e também do resultado nacional (3,2%) . Ainda assim, a região continua com o menor PIB per capita do país , de R$ 27.681,97. Todos os nove estados nordestinos ocupam as últimas posições no ranking nacional. A média brasileira , de R$ 53.886,67 , é quase o dobro da regional. O Maranhãopermanece na última colocação, com R$ 22.020,63 por habitante, enquanto Alagoas aparece próximo da média nordestina, com R$ 28.675,84 .

Esses números, embora técnicos, levantam um debate necessário: de que tipo de crescimento Alagoas precisa — e qual abordagem teórica ajuda a orientar essa escolha?

Opções de modelos de crescimento

Não faltam caminhos. Desde a década de 1930, os economistas procuram explicar o motor do crescimento. O modelo exógenode Solow, por exemplo, ajudou a compreender a expansão no curto e médio prazo, associada ao aumento do capital produtivo e da força de trabalho . No entanto, ao tratar o progresso tecnológico como um factor externo e espontâneo , o modelo deixa de explicar justamente o elemento que mais determina o futuro das economias.

Foi para preencher essa lacuna que surgiu, a partir dos anos 1970, como teorias do crescimento endógeno . Pesquisadores como Paul Romer e Robert Lucas revelaram que o avanço tecnológico não é um aleatório, mas resultado de escolhas políticas e institucionais: investimento em educação, ciência, inovação e criação de ambientes institucionais sólidos e confidenciais . Em resumo, crescimento é decisão — e também investimento social .

Há ainda leituras mais críticas, como o modelo de Richard Goodwin . Inspirado na dinâmica presa-predadora de Lotka-Volterra , ele destaca que o capitalismo opera em meio a esforço permanente: os trabalhadores buscam melhores lucros, as empresas buscam preservar margens de lucro. Dessa disputa surgem ciclos, instabilidades e barreiras ao crescimento equilibrado. A economia , nessa visão, não avança de forma linear , mas em meio a conflitos estruturais.

Qual abordagem faz mais sentido para Alagoas?

Se seguir o modelo exógeno , o estado precisará ampliar capital físico e força de trabalho — estratégia válida, mas insuficiente. Repetir apenas esse caminho seria replicar limitações já observadas em diversas economias regionais brasileiras.

Adotar uma lógica endógena implicaria investir intensamente em educação, pesquisa, inovação, ambiente regulatório confiável e políticas de atração e retenção de talentos. É um caminho mais desafiador, mas também o único capaz de gerar crescimento persistente e competitivo.

Já a perspectiva de Goodwin exige consideração sobre os reais da economia alagoana: informalidade elevada, baixa produtividade média, desigualdades internas e conflitos distributivos. Ignorá-los é permitir que ciclos de avanço sejam continuamente seguidos por retrocessos.

A conclusão é clara, ainda que politicamente complexa: não existe crescimento sustentável sem enfrentar simultaneamente os desafios do capital, da inovação e da estrutura social que molda esses processos . Alagoas não precisa escolher apenas um modelo, mas integrar o que cada abordagem ensina.

O desafio não é simplesmente crescer, mas crescer melhor , com estratégia, com base produtiva planejada, com qualificação da força de trabalho e com instituições independentes que reduzem incertezas. Sem isso, qualquer alta do PIB será apenas uma estatística — não uma transformação real.