Cultura

Da década de 1930

Arqiuvo Público de Alagoas recebe doação de 14 cartas inéditas de Graciliano Ramos

Por Da Redação com Secom/AL 30/03/2022 07h07 - Atualizado em 30/03/2022 13h01
Arqiuvo Público de Alagoas recebe doação de 14 cartas inéditas de Graciliano Ramos
Acervo de manuscritos entregue ao estado de Alagoas - Foto: Marco Antônio/Secom-AL

Traços da personalidade e intimidade até agora inéditos estão em 14 cartas escritas à mão por Graciliano Ramos foram doadas nesta semana ao acervo do Arquivo Público de Alagoas (APA) pelo jornalista André Abreu Motta Lima, que é sobrinho-neto de Joaquim Pinto da Mota Lima, amigo de infância do ‘Velho Graça’. As cartas devem, sob a tutela do estado, serem transformadas em um livro. 

Os manuscritos revelam, entre tantas facetas do autor de clássicos como Vidas Secas e Memórias do Cárcere, assuntos de sua vida mais particular como namoro e família, e mais abrangentes como trabalho.

"É um material precioso que, muitas vezes, não é possível compreender ou traduzir algumas palavras, mas a assinatura final é inconfundível e o conteúdo incomparável. Por exemplo, em um trecho de uma das cartas, Graciliano confessa que ‘talvez a sua verdadeira vocação fosse ser padre, porque tinha mais a ver com o espírito dele’, imagine? Tanta riqueza histórica não poderia ficar nas mãos de uma só pessoa, por isso decidimos doá-las. É muito interessante perceber a mudança na grafia dos textos, que podem significar a tradução do seu estado de espírito ou, simplesmente, os diferentes tipos de caneta bico de pena utilizadas na época”, detalha André Motta.

Ainda conforme o jornalista, o tio Joaquim Pinto da Mota lima Filho e Graciliano Ramos foram amigos desde a infância, quando viveram em Viçosa e o material é fruto da troca de correspondência dos dois registradas entre 1911 e 1930. André Motta ainda conta que os dois tinham uma ligação tão forte que chegaram a viajar juntos, no mesmo vapor, até o Rio de Janeiro, onde buscariam mudar da vida como revisores do Jornal Correio da Manhã, mantendo contato por toda vida.

“As cartas trocadas pelos dois ficaram guardadas por anos com um dos filhos de Joaquim, Sérgio Motta Lima, até chegar em minhas mãos, quando pesquisávamos documentos para compor um livro sobre a nossa família”, explicou o jornalista que mora no Rio de Janeiro.

Cessão de folha originais


Além das cartas de Graciliano Ramos, o jornalista André Motta também cedeu aos cuidados e preservação do APA as folhas originais, manuscritas e datilografadas, do romance Zamor, escrito pelo seu avô Pedro Motta Lima, alagoano de Viçosa, como o irmão Joaquim, no período de 1º de janeiro a 9 de maio de 1936, e publicado em duas edições, que já estão esgotadas e já indisponíveis no mercado literário.

A superintendente do APA, Wilma Nóbrega, destacou a importância de doações como a do acervo de cartas de Graciliano Ramos para a memória histórica e cultural do estado, e já começa a fazer planos para viabilizar, o quanto antes, o melhor jeito de divulgar e disponibilizar o material no acervo.

“Só temos a agradecer por esse material tão especial. Sem dúvida são arquivos fantásticos, que vamos preservar e providenciar o devido acondicionamento. Vamos em busca de colaboradores capacitados que possam ler e transcrever as cartas, para torná-las totalmente legíveis. O primeiro passo será digitalizá-las, depois organizar tudo, para facilitar o acesso do grupo de trabalho que terá o privilégio de manipular um material inédito do grande Graciliano Ramos. Que essa doação sirva de exemplo para outros colecionadores
e familiares que têm acervos de intelectuais alagoanos, que possam também ter essa iniciativa de doar para a APA e contribuir com novos estudos”, disse Wilma Nóbrega.

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