Para quem tem depressão, atividades diárias simples podem se transformar em desafios imensos. Cozinhar, limpar e socializar podem parecer como caminhar na lama, segundo Lindsay Standeven, psiquiatra e professora da Johns Hopkins Medicine. Entre essas dificuldades, a higiene pessoal é particularmente comum.

"A falta de higiene pode ser associada à preguiça ou até à imoralidade", diz Standeven. Isso leva muitas pessoas a terem medo de discutir esses sintomas com o médico. A vergonha e a baixa autoestima, muitas vezes desencadeadas pela falta de banho, podem piorar ainda mais os sintomas depressivos.

Especialistas enfatizam a importância de tratar a si mesmo e aos outros com gentileza. Christine Judd, psicoterapeuta e assistente social de saúde mental na Austrália, explica que a fadiga, um sintoma comum da depressão, pode fazer com que a pessoa simplesmente não tenha energia para tomar banho, mesmo que queira.

Patrick Bigaouette, psiquiatra da Mayo Clinic, acrescenta que a depressão afeta a capacidade de resolver problemas, tomar decisões e estabelecer metas, complicando ainda mais tarefas que envolvem várias etapas, como tomar banho. "Se você analisar, há na verdade muitas etapas envolvidas no banho", diz Bigaouette. "Despir-se, ligar a água, ensaboar, lavar o cabelo, barbear, enxaguar, secar e escolher o que vestir."

Standeven compara o processo a assistir uma animação de flip book, onde as transições são quase invisíveis para quem não tem depressão. Já para quem sofre da doença, cada etapa é como virar uma página de cada vez, tornando o processo assustador.

Sentimentos de inutilidade e desesperança, acompanhados por pensamentos negativos como "Eu não mereço estar limpo" ou "Se nada importa, por que se incomodar?", dificultam ainda mais a capacidade de tomar banho, diz Bigaouette. Essa incapacidade pode reforçar a crença de que a pessoa não consegue fazer nada certo, gerando um ciclo vicioso em que a má higiene agrava os sintomas depressivos que impediram o banho inicialmente.

Para romper esse ciclo, especialistas recomendam compreensão e apoio, reconhecendo que essas dificuldades são parte da complexidade da depressão e não uma falha de caráter.