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A Poética da Existência na educação e na cultura
Se normalmente, educação e cultura são fundamentais, num momento como esse, adquirir e compartilhar conhecimentos são reais chances de sobrevivência. Afinal, verdadeiras informações garantem saúde, segurança, desenvolvimento e evolução humana.
E neste pandêmico caos mundial, isolamento social impede que milhares de crianças, jovens e adultos sigam estudando, produzindo e se qualificando, é motivo de plena felicidade confirmar que há movimento cultural e educacional, evitando completa paralisação da vida. Como Maria Amélia Vieira e Dalton Costa, casados entre si e com a arte, comandam o Museu Coleção Karandash e seus vários equipamentos.
Essa felicidade que citei aqui é a que senti quando soube do projeto "Coleção Karandash - Mediação do Conceito Arte Popular em Plataforma Digital para alunos da Rede Pública de Ensino", numa proposição do Museu Coleção Karandash, aprovado no Edital de chamamento público Mestra Hilda, da Lei Aldir Blanc 2021 da Fundação de Ação Cultural da Prefeitura de Maceió.
O que começou como uma coleção particular de arte popular foi crescendo e absorvendo, principalmente conhecimentos sobre saberes e fazeres. Na concepção do ativo e produtivo casal de artistas, galeristas, colecionadores e visionários, eternizar o 'como se faz' é garantir a ampliação de horizontes para muitos artistas populares que, apesar do talento, não têm consciência de sua importância para a cultura da comunidade e da sociedade.
Também tiveram outro projeto aprovado através do Edital 16/2020 - Lei Aldir Blanc, disponibilizado pela Secretaria de Estado da Cultura. "Saberes e fazeres tradicionais nos povoados Ilha do Ferro e Mata da Onça: por uma poética de existência", reúne pequenos documentários dirigidos por Maria Amélia Vieira, com imagens e edição de Yasmin Falcão, roteiro de Joana Vieira Soares Neves e Dirceu Dias na assistência de produção.
No foco dos filmes, dona Morena Teixeira, que, aos 95 anos, dedica os últimos 75 à produção de arte no Baixo São Francisco, além de suas práticas de benzimento e cura; Noemi e Teresa Sandes, que produz por 67 anos, a melhor umbuzada, é conhecida como exímia cantora de hinos religiosos, inclusive na Língua Latina. Em todas as procissões e celebrações católicas, sua voz de ouro se destaca; Mestre Valmir, que conviveu, acompanhou e aprendeu tudo com o inigualável Mestre Fernando Rodrigues dos Santos até seu falecimento em 2009, e que vem compartilhando seus instrumentos, máquinas e acessórios com crianças, adolescentes e adultos, que vão criando sob sua orientação; a Cooperativa Art-Ilha, formada por 20 mulheres que produzem o bordado "Boa Noite", existente apenas no povoado Ribeirinho do Velho Chico e que se reúnem todas as tardes para bordar em puro linho, honrando a tradição e os ensinamentos passados por gerações; Mestre Petrônio, que se notabiliza com peças de mobiliário, esculturas e suas clássicas gamelas de madeira, e vem compartilhando trabalho com Maria Amélia, denominado "Habitando o outro" (modelagem de barro vitrificado respeitando os traços do Mestre); o jovem Clemilton, sensível e estiloso, possui linda pintura e entalhe em madeira com fortes traços estéticos; Mestre Vavan, que vem se consolidando como um dos maiores escultores na madeira, sejam seus tronos cromáticos, ou suas descontruidas figuras cristalizadas da cultura judaico-cristã, como seus anjos negros, que promovem debate dos valores da sociedade eurocêntrica e conservadora; seu Jacó, que, aos 90 anos foi reconhecido como Mestre da Cultura Popular das Alagoas, pela inquestionável importância de seu repertório de histórias e vivências ao longo do Rio São Francisco, com destaque para seu universo linguístico próprio, pleno de nordestinidade e singularidades, lançando mão de suas quadras poéticas de sua própria autoria em performances de cantoria e declamação, transmitindo reminicências memorialistas para as próximas gerações; seu Beto de Meirús, verdadeiro artista da madeira e do couro, construtor de jaraguás em grandes proporções; Eraldo (Arte Popular) e Mestre Valdik, piloto de embarcação típica do Baixo São Francisco também registrados.
Dos mais velhos aos mais novos, eles reafirmam o ditado popular, que os saberes artísticos e culturais precisam ser compartilhados, garantindo a perpetuação artística cultural popular de Alagoas.
Com certeza, esses pequenos filmes-documentários serão fundamentais para ampliar ainda mais a "cadeia do conhecimento", registrando para a eternidade verdadeiros artistas populares. O cenário não poderia ser mais apropriado, principalmente para os que admiram o Sertão de Alagoas, que é muito mais rico que suas belas paisagens, é sítio de pesquisas, inclusive sobre a vida das comunidades e suas características expressões da Cultura Popular, suas emoções e lembranças.
A História e a Vida agradecem.
Texto e fotos: Felipe Camelo
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