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Supostos crimes sexuais

Palco virtual e machismo explicam caso Gabriel Monteiro, dizem psicólogos

Por Giorgia Cavicchioli Colaboração para o UOL, em São Paulo 13/04/2022 10h10 - Atualizado em 13/04/2022 11h11
Palco virtual e machismo explicam caso Gabriel Monteiro, dizem psicólogos
Especialistas: crimes sexuais mostram que Gabriel se colocou acima da lei - Foto: Flávio Marroso/CMRJ

Um "palanque virtual" permanente —com 6,8 milhões de inscritos só no YouTube— aliado ao machismo estrutural alimentaram condutas do vereador Gabriel Monteiro (PL) denunciadas por mulheres, assessores e ex-assessores, segundo avaliam psicólogos ouvidos pelo UOL. 

Para especialistas, o teor das denúncias de violência sexual —que estão sob investigação— mostram que o youtuber adotou um comportamento "acima da lei" que "não respeita o limite e o não". Essa postura, que flerta com a impunidade, também pode explicar a produção de vídeos com fortes indícios de manipulação pelo vereador, segundo profissionais de saúde consultados pela reportagem. 

A intimidação das vítimas —haja vista que as denúncias vieram à tona anos depois— torna-se mais grave à medida que envolve força policial e política, alertam os psicólogos. Eles comentaram as denúncias contra Monteiro com base nos casos publicados na imprensa. Os relatos de ao menos três mulheres à TV Globo apresentam uma mesma forma de ação —um início de relação sexual consentida que termina em estupro. 

A defesa do vereador nega que ele tenha cometido qualquer crime. Por meio de nota, Monteiro desqualificou as acusações dizendo que elas não têm nomes, datas ou indícios de materialidade. A reportagem do UOL submeteu as análises dos psicólogos ao advogado Sandro Figueiredo, mas ele não se manifestou. Se o fizer, o posicionamento será incluído nesta reportagem.  

Política como pano de fundo O ex-PM, que integrou o MBL (Movimento Brasil Livre), foi o terceiro vereador mais votado do Rio de Janeiro e se aliou a bolsonaristas. Para o psicólogo Bruno Correia da Mota, mestre em psicologia pela UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), a exposição nas redes sociais —com viés sensacionalista— tem como pano de fundo a conjuntura política e a sede por espetáculo. 

"O que se sustenta é o palanque virtual. É uma sociedade do espetáculo que se sustenta em uma superfície moralista para conseguir votos. (...) Ele usa uma máscara para atrair um público, e não tem como sustentar isso, o que vai gerando essa figura acima do bem e do mal, moralista", afirma. Mota analisa que se trata de uma forma de fazer política que constrói um "mito do herói" —figura que, segundo o psicólogo, salvará a sociedade, mas ignora a lei e se entende como impune. 

"Uma coisa é a performance midiática e outra é o que se passa nos bastidores. Quando você vê os vídeos dele, parece que é uma série de ação. É um teatro que ele constrói", diz o psicólogo, que é coordenador regional da Articulação Nacional de Psicólogas/os Negras/os e Pesquisadoras/es. Para ele, Monteiro é o protagonista de uma narrativa forjada por ele próprio.  

Reportagem da TV Globo também mostrou que vídeos produzidos para seu canal do YouTube têm indícios de fraude e manipulação. O UOL calculou que a Câmara Municipal gastou ao menos R$ 871 mil com funcionários do gabinete de Gabriel Monteiro que produziam vídeos. 

"É um tipo de personalidade que vê o outro como uma parte dele, então, não se respeita o limite e o não. É como se o outro estivesse errado, o outro é ruim, o que também se assemelha ao comportamento narcisista. Parece uma criança mimada, que tem uma narrativa persecutória", disse Bruna Correia da Mota, psicóloga. 

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