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Pesquisador da UFAL investiga sistemas educacionais do Brasil e da Finlândia
Um estudo sobre os sistemas educacionais do Brasil e da Finlândia com olhar comparativo entre realidades distintas, visando trazer insights e aprimorar os paradigmas educacionais. Esse é o foco do trabalho desenvolvido pelo pesquisador Márcio Yabe, do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), que também foi contemplado pelo edital Prêmio de Excelência Acadêmica, lançado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), em abril deste ano.
O acadêmico explica que a comparação faz parte do cotidiano, e isso é basicamente o que foi realizado no estudo, ao comparar metodologicamente, a partir de uma perspectiva da gestão sistêmica, os sistemas educacionais dos dois países em cima de uma análise fundamentada a partir da metodologia da Educação Comparada. Ele investiga na busca por convergências e divergências entre os programas, o que contribuiu para a compreensão da realidade local.
Apesar das críticas acadêmicas às avaliações de larga escala, o estudo chega à compreensão sobre a importância do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), uma rede mundial de análise de desempenho escolar, proveniente da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e que atua na produção de indicadores e informações incipientes para posteriores estudos mais aprofundados sobre políticas educacionais.
Assim, o programa guarda algumas semelhanças com o Recenseamento Geral do Brasil, mais conhecido como Censo: “A produção de uma enorme quantidade de dados do Censo, por si só, pode não significar nada para muitas pessoas, todavia, quando esses dados são processados e transformados em informações, os resultados podem identificar diversos tipos de demandas sociais que darão origem a muitas políticas públicas, em diversas áreas da sociedade”, diz ele.
Yabe complementa, citando a literatura espanhola empregada no trabalho, que diz que categorizar narrativas simplistas a partir dos resultados do Pisa para legitimar políticas educacionais, sem considerar diferenças sociais, pode ser considerado “uma forma genuína de idiotez educativa”.
Por outro lado, ele entende que desmerecer o potencial dos big data – dados que contêm maior variedade – para a governança educacional é subutilizar o potencial das tecnologias digitais da informação, que, atualmente, são partes integrantes do cotidiano do campo da educação.
Análises e apreensões acerca da função do professor
As observações para o estudo in loco ocorreram de forma sistematizada: uma no Brasil e outra na Finlândia. Ele destacou que a profissão docente no país do norte europeu é tão valorizada quanto à medicina e que as seleções para estes cursos têm mais candidatos do que para os da área médica.
O estudioso afirma, ainda, que a pesquisa, num aspecto geral, foi relevante para a sua própria docência, o que resultou no artigo premiado, onde a sua perspectiva como profissional pode ser de fato transformada.
“Não quero ‘romantizar’ o que aprendi sobre o sistema educacional da Finlândia. Não obstante, como educador e, principalmente, como administrador, que valoriza todos os constructos desenvolvidos e ensinados por Paulo Freire, com respeito aos valores humanos enfatizados em sua obra, tais como a amorosidade e a humildade, pretendo contribuir cada vez mais para a formação de espaços propícios para se praticar uma educação crítica e emancipadora”, destaca o cientista.
Segundo Yabe, existe uma ética universal, pontuada por Freire que norteia a profissionalidade da aprendizagem. Acompanhando esta linha, os docentes não devem ser indiferentes, preconceituosos ou intolerantes. Ao mesmo tempo, o acadêmico aborda que não havia constatado tanto acolhimento como o encontrado na Finlândia. E a partir das discussões do que fora apreendido, ele cita que tem implementado tais conteúdos em suas palestras e rodas de conversa com outros amigos e professores para contribuir mais com a profissão.
Impactos sociais para a evolução da educação
Observando um viés de impacto social, o acadêmico pontua que a figura do professor está sempre entre os principais meios necessários para se atingir os propósitos das instituições de ensino, sendo parte essencial de suas atividades-fim. Ou seja, por se tratar de uma atividade essencial, a formação, a valorização e a motivação dos professores estão diretamente relacionadas à eficácia de qualquer processo ou sistema educacional.
Ele explica, igualmente, que podem ser considerados muitos outros fatores que contribuem para o êxito desses sistemas, entretanto, a desvalorização dos professores e uma formação precarizada ou insuficiente só tendem a reduzir as possibilidades de cumprimento dos propósitos da educação. Desta forma, quando ele observou a oportunidade de poder valorizar o tema através do edital da Fapeal, ele cita que não perdeu muito tempo para se inscrever:
“Eu estava em Lisboa, Portugal, no meio do meu doutorado sanduíche. O valor que receberia, se fosse premiado, representava basicamente o que eu gastava com alimentação durante um mês inteiro, algo em torno de 500 euros. A pesquisa precisa ser mais valorizada para que o Brasil possa alcançar a plenitude de seu potencial. A Fapeal tem cumprido bem esse papel. Vocês estão de parabéns”, completa o estudioso.
O docente acredita que os investimentos em pesquisa e educação são a chave para a evolução do país, representando estratégias para um crescimento sadio em diversos setores. Agradecendo os incentivos da Fapeal, ele diz que seu objetivo é continuar trilhando o caminho da ciência em busca de novos rumos para a educação alagoana, tendo em vista a multidisciplinaridade de caminhos que podem ser realizados para o seu aprimoramento.
Sobre o Programa
O Programa Mais Ciência, Mais Futuro é uma iniciativa do Governo de Alagoas, por meio da Secretaria de Estado da Ciência, da Tecnologia e da Inovação (Secti) e da Fapeal. Lançado em abril de 2023, prevê investimentos de R$ 200 milhões até 2026.
O edital de Excelência Acadêmica foi um dos primeiros investimentos a partir do aporte inicial de R$ 33 milhões, previsto para 2023, que engloba, também, outras formas de apoio a projetos científicos, bolsas de pesquisa, infraestrutura e equipamentos.
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