A cerimônia realizada nesta quarta-feira (26) para celebrar a isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil, um dos principais movimentos econômicos do governo, acabou marcada menos pelo anúncio e mais pelas ausências de duas figuras centrais do Congresso: Hugo Motta, presidente da Câmara, e Davi Alcolumbre, presidente do Senado. Ambos foram decisivos para aprovar o projeto, mas não compareceram ao ato.

Aliados tentaram atribuir a ausência ao receio de que o evento se transformasse em palanque antecipado para o presidente Lula. No entanto, nos bastidores, a avaliação é outra: os dois quiseram enviar um recado claro ao Planalto. Em Brasília, todo gesto é simbólico, e esse foi lido como uma demonstração explícita de insatisfação e reposicionamento político.

No caso de Alcolumbre, o incômodo é direto. Ele interpretou a escolha de Lula por Jorge Messias para o STF, feita sem seu aval, como um gesto de desrespeito. O presidente do Senado teria decidido, então, marcar território e mostrar força: o governo que aprenda a governar sem sua participação automática. A indicação, agora, vira moeda de negociação, e o Planalto perde previsibilidade.

Hugo Motta também vive momento de atrito com o PT na Câmara, o que ampliou o mal-estar institucional. O resultado é um cenário de isolamento crescente do governo, enquanto Câmara e Senado se aproximam em torno de pautas e insatisfações comuns.

E o impacto é imediato: o que antes parecia uma camada de proteção política, a segurança de que o Senado funcionaria como anteparo em negociações delicadas, virou uma nova frente de pressão. A governabilidade, que já vinha sendo testada, agora enfrenta um estresse adicional e mais profundo.