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Casal de mochileiros vive ano nada sabático

Por Da Redação com Revista Turismo & Negócio 08/03/2022 15h03 - Atualizado em 10/03/2022 11h11
Casal de mochileiros vive ano nada sabático

Entre os anos de 2017 e 2018, Iana Tenório e Francisco Lyra decidiram fazer as mochilas e conhecer o México. A aventura alimentou a ideia de seguir na busca de novas experiências, e, depois de uma breve passagem por Cuba, a decisão de desbravar o país mexicano ganhou corpo: por terra, conheceram grandes e pequenas cidades mexicanas. Aquele foi só início de uma viagem que os fez percorrer parte da América Central, América do Sul e da Ásia, registrando as melhores lembranças de um ano nada sabático.

De ônibus, o casal decidiu ir descendo o mapa do México até chegar em outros países. Foi assim que passaram por Belize, Guatemala, Honduras, Nicarágua, El Salvador, Costa Rica, Panamá, de onde atravessaram de veleiro para a Colômbia, Equador, e, depois de pegar um avião, Galápagos.

No destino ainda viria a Ásia, um retorno para o Equador, e a volta para parte meridional do continente asiático Ficaram três meses na Índia, passaram pelo Nepal, Mianmar, Malásia e Tailândia. Ainda voltaram para a Índia antes de retornarem ao Brasil.

“Viajávamos sempre por terra, da forma mais local que tivesse. Pegamos muitas caronas, fomos de carro, ônibus, carroça, bicicleta... Trocávamos nosso trabalho por hospedagem e por comida, por isso acabamos fazendo muitas coisas. Trabalhamos em escola de culinária, hostel, bar, pousada, foi tradutora. Francisco instalou câmera de segurança, construiu o telhado de uma casa... Eram as coisas mais aleatórias, mas que ajudava a nos manter em cada destino, além de nos encher de conhecimento, pois o contato com as pessoas só crescia”, disse Iana Tenório.

Nessa época, Iana começou um blog para falar das viagens. Mas, depois de um tempo, segundo ela, “aquilo perdeu o sentido” e parou. Sentia que precisava registrar as experiências na mente, não apenas nas fotos e textos que produzia para os outros. A decisão a fez aproveitar ao máximo lugares para onde poderia nunca mais voltar, o que deixou a viagem mais livre, descompromissada, e introspectiva. “Não queria mais ficar registrando datas, locais, pensando em um leitor, quando podia estar absorvendo melhor a experiência”, disse.

E as experiências foram muitas. Certa vez, enquanto trabalhava no café da manhã de um hostel, em Tulum, no México, Iana conheceu um senhor que viajava sozinho de bicicleta. Ele era espanhol, professor aposentado, e disse ter começado a pedalar do Alaska para chegar na Argentina.

“Fiquei impressionada com toda a história que me contou, porque ele não tinha planejado nada: só comprou a bicicleta e saiu. Disse que era sedentário, que não fazia sequer um exercício físico. Fiquei chocada e perguntei se ele não tinha medo, pois considerava muito perigoso (era o início da minha viagem, e eu tinha muitas dúvidas). Ele me respondeu que existia mais gente boa do que ruim no mundo, mas a gente perde muito tempo pensando e falando das ruins, que a gente esquece dessas outras que são tão boas, e acaba não saindo do lugar”, relembrou a mochileira.

Iana ainda o encontrou em na Guatemala, quando se hospedou no mesmo lugar onde ela estava trabalhando. “Aprendi uma grande lição do mochilão com ele, a de que existe mais gente boa do que ruim no mundo. Quando a gente está em casa ficamos na nossa bolhinha, no nosso conforto, sabendo a hora de ir, para onde ir, e como voltar. A gente não tem ideia de como o mundo é”.


Outra história que marcou o casal aconteceu em uma estrada da Costa Rica. Iana e Francisco esperavam o ônibus para Monteverde quando um homem parou a caminhonete e lhes ofereceu carona. Disse que tinha dois filhos com a idade deles, e, que se eles estivessem em outro país, na mesma situação, gostaria que alguém fizesse uma boa ação. O bem feitor se apresentou como médico e disse que atuava em um posto de saúde próximo ao local onde estavam. Para convencê-los, usou um pouco de psicologia reversa: alegou que entenderia se não quisessem a carona, mas que a estrada era perigosa e ele corria o mesmo risco ao dar carona a dois desconhecidos, “vocês poderiam me assaltar, mas...”, disse o homem. Os brasileiros saídos de Alagoas se olharam e aceitaram a proposta. Como bônus, o médico encomendou ao pessoal da rodoviária que assim que o transporte chegasse, os avisasse para não perderem a viagem.

Entre as milhares de histórias vivenciadas ao longo de mais de 12 meses de um mochilão, encontrar alimentos seguros se mostrou um dos desafios da temporada na Índia. “Passamos muita fome não por não ter dinheiro para comer, mas por não ter que comer. A cada parada de ônibus apareciam vendedores de água de pote e alimentos expostos em um tipo de buffet. A gente sabia que a chance de uma infecção intestinal era grande, por isso optamos por consumir comida industrializada e refrigerante ou água lacrados. Isso quando encontrávamos, pois, em muitos vilarejos, esses produtos simplesmente não eram vendidos. Até fruta era complicado, pois não havia água confiável para lavá-las”, relembrou Francisco Lyra.

Planejamento, cuidados com a saúde, documentos em dia fazem o sucesso de um mochilão. “Tínhamos uma média de 32 dólares para gastar por dia. E o dinheiro era para tudo: comida, transporte, e acomodação. Caso contrário, a viagem teria que ser mais curta. Ficamos um mês em Tulum, então foram 30 dias sem pagar hospedagem, sem gastar com transporte. Foi quando juntamos o dinheiro necessário para comprar uma passagem de avião para Cuba, um dos países mais difíceis de navegar como mochileiro, pois tudo é muito engessado”, finalizou a mochileira.

Quando voltaram para o Brasil, o casal não sabia bem o que fazer com toda a experiência vivida, mas decidiu montar uma pousada em Serrambi, na região de Porto de Galinhas. Com a mãe, Iana abriu a Cafundó, loja especializada em artesanato do Sertão de Alagoas e com unidades em Porto de Galinhas e Piranhas. Ainda em Piranhas, o casal abriu o restaurante “O Sertão Vai Virar Mar”, onde usam elementos da viagem para dar um ar abstraído ao ambiente. 

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