CAPITÃO PANTALEÃO E SEUS PEDROS BÓS
Figuras patéticas, por mentirosas, não faltam ao desgoverno do Jair e várias dessas estrelas cadentes sequer ficam candentes ao mentir deslavadamente. Lorotam mais que o Pantaleão – personagem criado por Chico Anysio baseado no protagonista de “Alexandre e outros heróis”, este por sua vez criação de Graciliano Ramos. Falsear, adulterar a verdade, espalhar fake news, são traços característicos do bolsonarismo, aí incluso com destaque o próprio ex-capitão. Os personagens do Chico, entretanto, não mentiam por maldade ou instinto criminoso, era humor e não horror.
Jair, o neo Pantaleão, mente com tamanha desfaçatez que muita gente nem liga mais. Mas, no dia 1º de abril deste ano, as redes sociais bombaram com a hashtag #bolsonaroday relembrando as falsidades dele. E a agência de checagem “Aos Fatos” listou que em 1.185 dias na presidência da República, o “mito” mentiu em 5.145 declarações, inclusive sobre sua “imbrochabilidade” – essa a única mentira engraçada, reconheça-se.
Pantaleão, o personagem fictício, era acompanhado na embromação por Terta, sua mulher, e por Pedro Bó, um apalermado fã do patrão. Ambos davam sustentação às cascatas do dono da casa, um nada-faz sempre escanchado numa cadeira de balanço. Ao inútil (real) da faixa verde-amarela fazem companhia hoje cascateiros e cascateiras do mais baixo nível como Damares Alves, que já chegou na equipe trazendo a estória do “Cristo na goiabeira”, visão relatada por ela “aos 10 anos” e que em função dessa aparição “pensou em se suicidar” – sendo a primeira vez que uma epifania cristã teria ocorrido num pé de goiaba e provocado um desejo tão mórbido. Aqui temos uma Terta tentando superar seu Pantaleão.
E os Pedros Bós? São vários. Mas o mais notável é Paulo Guedes, ministro que derrubou o Brasil da 11ª para a 13ª posição entre as maiores economias do planeta e que diz “está tudo bem no País”, e que “todo mundo está com dinheiro para viver”. Pedro Bó Guedes cascateou essas asneiras com a maior cara de pau durante evento na Bahia, segunda-feira, 26. “Não tem mais ninguém nos sinais vendendo água, [nem] nos estádios de futebol”, vangloriou-se Paulo Bó – só que o IBGE informa que o Brasil contabilizou 39,2 milhões de pessoas sobrevivendo de bico (trabalho informal) no trimestre móvel de maio a julho deste ano, o que representa o maior número já registrado pela série histórica iniciada em 2015. A fome campeia em todo Brasil e ele não sente nada, nem dó.
Saudade do Chico Anysio e de Pantaleão, Terta e Pedro Bó; saudade da mentira que era comédia e não tragédia, chiste e não cinismo.
NOTAS
# Ainda repercute as falas do ex-deputado Luís Dantas, que depois de toda uma vida de parceria política com o filho, descobriu desqualidades nele nas vésperas dessa eleição.
# O bolsonarismo contagia, virou pandemia, e a traição familiar é vírus característico dos Bozos, mas até Jair, pelo menos, parece poupar os filhos de suas rasteiras.
# A esquerda e simpatizantes ou concentram seus votos em Paulão ou vão ficar sem representante na Câmara Federal. A coisa não está fácil.
# As turmas da Educação e do Desenvolvimento estão perto de garantir uma cadeira na Câmara Federal com Rafael Brito, mas também precisam concentrar seus votos.
HOJE NA HISTÓRIA
28 de setembro de 1864 – Fundada a Associação Internacional dos Trabalhadores, a “Primeira Internacional”, englobando representações operárias e/ou esquerdistas de toda Europa e dos Estados Unidos. Todas as tendências revolucionarias e sindicais estavam presentes. Karl Marx chegou a ser um dos dirigentes da organização. Além de apoiar greves e sublevações contra as classes dominantes mundo afora, como a Comuna de Paris, se posicionou ao lado da União na Guerra da Secessão americana. A redução da jornada para 8 horas diárias foi uma de suas bandeiras mais conhecidas, ao lado da melhoria das condições de trabalho para mulheres e crianças. As disputas internas entre as muitas correntes de esquerda levaram à divisão da Associação, em 1872, com os anarquistas alinhados a Bakunin formando a Internacional de Saint-Imier, enquanto os grupos mais próximos às ideias de Marx, reunidos em torno do Conselho Geral, transferiram-se para Nova Iorque e encerraram suas atividades em 1876, enquanto a seção anarquista de Saint-Imier fechou as portas em 1877.
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