Tic Tac Tic Tac / Por Enio Lins

* Este texto não reflete necessariamente a opinião do Em Tempo Notícias

Traição com digital exposta

29/09/2022 08h08
Traição com digital exposta

Briga familiar faz parte da história da luta pelo poder, em todos os tempos. Roma, por exemplo, testemunhou o punhal de Brutus descendo sobre seu padrinho César, nos idos de março do ano 44 a.C., e em junho de 1497 o assassinato de Giovani Bórgia gerou suspeitas sobre seus irmãos César e Godofredo (os três eram filhos do Papa Alexandre VI). Não foram grandes surpresas.

Na França moderna, talvez o grande escândalo político/familiar tenha sido a reação da madame Le Pen às provocações machistas de seu ex-marido, que a mandou arranjar uma colocação de empregada doméstica. Ela procurou a revista Playboy e se propôs a fazer um ensaio erótico, nua, como numa faxina. Publicado na edição de 10 de junho de 1987, sujou a carreira de Jean-Marie Le Pen, então astro do neofascismo francês. Apesar da criatividade do gesto, alguma incisiva resposta dela era esperada.

O clã do Jair se abalou com a guerra entre ele e a ex-esposa 02, Ana Cristina Valle, que se sentindo lesada na separação, em 2007, acusou formalmente Jair Messias de várias falcatruas, como lhe furtar um cofre de banco, ocultar patrimônio, receber pagamentos não declarados e agir “com desmedida agressividade”. Ela pediu apoio diplomático para deixar o País como forma de garantir a própria vida. Em 2018, num acordo com o ex, voltou ao Brasil para tentar a carreira política, sem sucesso até agora. Mas os conflitos do casal eram notórios, sem surpresas.

Em Alagoas, o deputado Arthur Lira vive um tumultuado processo pós-separação de Jullyene Lins, sua ex-esposa e atual candidata a deputada federal, que apresenta um extenso rol de acusações – e que está impedida por decisões judiciais de fazer essas denúncias durante a atual campanha –, mas esse quadro também não é novidade.

Novidade mesmo é um pai tentar impedir a eleição do filho, até então seu correligionário e apoiador. Luís teve Paulo como auxiliar na presidência da Assembleia durante anos, depois o apoiou como seu substituto no Legislativo, depois o prestigiou como governador-tampão, foi prestigiado de volta, e, sem aviso, tentou um cavalo-de-pau na reta de chegada. O inesperado ataque tem a digital bolsonarista bem visível, e não teve efeito significativo sobre a liderança de Paulo Dantas, que segue como primeiro colocado, mas é uma prova do que os seguidores do mito podem fazer em termos de golpes e traições – inclusive familiares.



NOTAS

# O derradeiro debate na TV entre os candidatos ao governo de Alagoas, “não influiu nem contribuiu”, como se dizia antanho.

# A briga principal nesta eleição para o governo alagoano segue sendo travada entre o segundo e o terceiro colocado: Collor x Cunha, ou vice-versa.

# Importante assinalar que, mesmo com as tensões típicas – pelo menos até ontem – a guerra pelo voto em Alagoas segue sem maiores sobressaltos.

# Nas bolsas de apostas sobre os resultados alagoanos, o que tem motivado a jogatina não é o campo majoritário, mas sim o proporcional.

# Incertezas para a Câmara Federal e Assembleia Legislativa agitam a galera. Para o Senado, Renan Filho é tido como líquido e certo, e Paulo Dantas mantém o favoritismo para o Governo.



HOJE NA HISTÓRIA


29 de setembro de 1941 – Começa o massacre de Babi Yar, cometido pelo exército nazista e colaboracionistas ucranianos contra moradores judeus e gentios comunistas. Se estima que nesse local tenham sido assassinados, por fuzilamento, cerca de 100 mil pessoas, a maioria de origem judaica. Integrante então da União Soviética, a Ucrânia foi invadida por Hitler em uma ação militar que contou com o apoio da Organização dos Nacionalistas Ucranianos – liderada pelo direitista Stepan Bandera –, grupo ultranacionalista que participou ativamente das prisões e massacres no restante do país e em regiões da Polônia e Tchecoslováquia. Por divergências entre os nazifascistas, Bandera passou uma temporada detido pelos alemães, sendo liberado para combater o Exército Vermelho em 1944. Durante a guerra fria, Stepan foi morto por agentes soviéticos na cidade de Munique, em 1959, aos 50 anos.