Tic Tac Tic Tac / Por Enio Lins

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MITOS DO MITO: CULTO À IGNORÂNCIA

Por Enio Lins 07/10/2022 08h08
MITOS DO MITO: CULTO À IGNORÂNCIA

Religião e eleição, normalmente, é mistura explosiva. Certamente porque crença e política foram a mesma coisa ancestralmente, sendo o deífico usado para o exercício do poder nas comunidades primitivas. Sem as tábuas mosaicas a sociedade hebraica não teria permanecido unida e capaz de enfrentar tantas provações ao longo dos séculos, assim como sem seus panteões de deuses, deusas e semideuses a civilização greco-romana não teria se organizado, nem o fulgor faraônico teria brilhado no delta do Nilo sem as normas tidas como ditadas pelas divindades meio humanas/meio animais.

Nas eleições modernas, as religiões seguem jogando papel importante e, em pleno Século XXI, salvo raríssimas e notáveis exceções, não há candidatura que não apele para a ajuda de seu Deus. No passado, reis e rainhas chegaram a se deificar, como no Egito antigo ou em certo período do Império Romano. O imperador do Japão era celestial até a segunda bomba atômica pipocar em solo nipônico, em 1945. E agora um ser tido como demoníaco aparece na soleira do templo de fel de Jair Messias, agitando o debate.

Não deveria surpreender, mas surpreende, a presença do velho e supostamente mau Baphomet (Bafomé) na campanha. Esse ser sobrenatural foi inventado na Idade Média, na primeira década do século XIV e veio ao mundo dos vivos para justificar a morte dos Cavaleiros Templários, poderosa ordem monástica/militar que praticou horrores em nome do Cristianismo na chamada Terra Santa e foi depois levada em massa à fogueira com aval do Santo Padre Clemente V, em 1314. O nome foge das denominações usuais dos demônios judaicos/cristãos, pois foi criado para lembrar Maomé (Memehet) numa difamação ao Islamismo, termo posteriormente convertido em sinônimo do conhecimento do oculto.

Justiça seja feita, o demo Bafomé nunca foi uma figura tão pecaminosa como o vigarista que hoje usa a faixa verde-amarela. Ambos mitos. Mas sua chegada ao pedaço serve para lembrar que o ex-capitão nada tem a ver com o Cristianismo. Todas as falas e gestos de Jair, ao longo de sua vida pública, são de pura contestação ao Novo Testamento. Incompatibilidade absoluta. Na verdade, a práxis (perdoem o termo) bolsonarista não se enquadra em nenhum dos escritos sagrados mais conhecidos, seja do Cristianismo, seja Judaísmo, Islamismo, Budismo, Xintoísmo, Xamantismo, ou qualquer outra crença em alguma divindade justa e misericordiosa. O bolsonarismo é puro ódio, arrogância e culto à ignorância.