O Carnaval nosso de cada ano e a atenção que merece
Findo o Carnaval em sua edição 2023 ficam as lições para as próximas. Ensinamentos importantes para o desenvolvimento dos potenciais (distintos) carnavalescos Brasil afora.
Em todas as caras do Carnaval brasileiro, e são muitas faces, o elemento econômico necessita ser entendido, até porque, para o bem ou para o mal, influi sobre o quesito cultural/artístico da manifestação (espontânea em seus primórdios).A despedida dos prazeres carnais é, formalmente, um dia só, precisamente situado na véspera da Quaresma, tempo contrito iniciado na Quarta-Feira de Cinzas, a ingrata. O feriado religioso, dia referencial, é apenas na terça-feira.
Imprensada, a segunda-feira antes da Quaresma foi sugada pela carne em fúria, e por tabela, o domingão também, assim como o sábado – data em que Zé Pereira, desde tempos imemoriais, batia seu bumbo para anunciar o começo real da esbórnia.
E aos três dias foram acrescidos mais alguns pelo conceito das prévias, dos pré-carnavais, particularmente fortes na maioria das cidades brasileiras não cobertas pelos principais epicentros carnavalescos: Rio, Recife e Salvador.
Nesses muitos locais da antecipação foliã, as coisas têm se resolvido a contento, com razoável harmonização entre os investimentos públicos e privados; mas o período carnavalesco propriamente dito precisa de mais atenção.
Como tudo na economia brasileira, o investimento público é o principal indutor dos negócios privados também no Carnaval. E a história dos desfiles das Escolas de Samba, iniciados em 1932, deu um pulo a partir de 1935, com a entrada do erário na Avenida.
Sem os aportes públicos, as iniciativas privadas carnavalescas não seriam tão pujantes como se vê nos sambódromos carioca e paulista; nem nas ruas, becos e praças de Olinda e Recife; nem eletrizariam tanto os trios soteropolitanos.
Lógico que não existem recursos disponíveis para todos os lugares com a mesma intensidade, e a forma de investimento precisa ser bem definida para evitar o sufocamento de fórmulas carnavalescas genuinamente locais e originais.
Em termos dos carnavais espontâneos, num canto pode ser a divulgação do destino, noutros a doação de instrumentos musicais, o transporte dos grupos, o lanche; umas oficinas de adereços ou de dança podem ser o necessário para algumas comunidades.
Atenção e planejamento são iniciativas sempre bem-vindas. Em Alagoas, cito (de passagem) os exemplos de Marechal Deodoro e Ilha do Ferro (Pão de Açúcar), bem diferentes entre si, mas que merecem ser estudados, ampliados e replicados.
Marechal, com dezenas de blocos populares, outras tantas orquestras de frevo, shows de palco e trios elétricos, a prefeitura organizou a folia contemplando essas muitas agremiações, harmonizando as demandas contemporâneas e do Patrimônio Histórico-Cultural. A bucólica Ilha do Ferro, com um único bloco, e mais a visita de uma bandinha de frevo enviada pela prefeitura, fez a festa numa comunidade que se transforma em polo turístico-cultural sem perder as características próprias. Em ambas, ocupação total da rede receptiva. São lições importantes, insisto.
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