Tic Tac Tic Tac / Por Enio Lins

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Vacina: conquista da humanidade que precisa ser valorizada

Por Enio Lins 04/03/2023 09h09 - Atualizado em 04/03/2023 10h10
Vacina: conquista da humanidade que precisa ser valorizada

Sobre o ato (sagrado) de vacinação, duas imagens se espalharam pelas redes nas últimas semanas, ambas com a mesma mensagem. A diferença entre as duas é que uma é teatralização e a outra real.

Imagem mais importante é a cena teatralizada, mais educativa. Histórica mesmo. Na cenografia, José Serra simula vacinar Lula, na cena real Alckmin vacina Lula. A primeira tem 25 anos, a segunda algumas semanas.

Serra vacinando Lula é a imagem mais significativa pois foi produzida voluntariamente, para comprovar que as duas principais forças políticas nacionais, naquele tempo, estavam unidas no esforço de vacinar toda população brasileira.

Momento fotografado no dia 27 de abril de 2008, num posto de saúde em São Bernardo do Campo. Lula era presidente da República, tendo derrotado o PSDB e Serra estava como governador de São Paulo, derrotando o PT.PSDB e PT eram adversários ferozes e fidagais, e a cena foi uma saudável lição de civilidade, democracia, respeito ao povo e atenção à ciência. O esforço, há ¼ de século visava a vacinação nacional contra a gripe.

Lula não recebeu a injeção de Serra porque este não era profissional da saúde, como reza o figurino. Médico, Alckmin cravou a agulha no braço de Luiz Inácio, injetando a vacina bivalente contra a Covid19. Assim deve ser a dita civilidade pública.

Durante o quadriênio nojento, de 2019 a 2022, o Brasil foi mergulhado na cloaca da incivilidade, com o meliante que ocupava a presidência da República escrachando a vacinação diuturnamente e propagandeando remédios ineficazes, mentido profissionalmente e promovendo um genocídio em meio à pandemia de Coronavírus.

Jair, o vagabundo, deixou uma herança maldita também no item desrespeito à ciência, impulsionando um aumento terrível do preconceito popular contra as vacinas, revivendo um mal que se acreditava vencido desde 1904.Nos idos de 1904 o Brasil, mais especificamente, a Capital Federal, o Rio de Janeiro, explodiu por conta da reacionária Revolta da Vacina, com o povo enfrentando nas ruas as equipes de vacinação e as forças policiais. Imaginem a danação.

Rodrigues Alves, então presidente da República, havia concedido plenos poderes ao médico Oswaldo Cruz para que o gravíssimo problema da varíola e da febre amarela fosse resolvido e o grande sanitarista centrou fogo na vacinação em massa.

Se entende a revolta em 1904, afinal vacina era novidade mundial e a pessoa recebia uma lancetada dolorosa com uma dose de algo que se dizia retirado do pus de uma vaca (como se sabe o termo “vacina” vem mesmo de “vaca” e das doentes mesmo).“Vacina obrigatória” naquele tempo era termo exato, literal, pois se a pessoa reagisse era agarrada à força e imunizada na marra. O pau quebrou pesado entre 10 e 16 de novembro de 1904 com bondes capotados, prédios vandalizados, brigas generalizadas.

Ao fim e ao cabo, no muque, a população carioca foi vacinada contra a varíola naqueles revoltosos dias. Depois, com campanhas de esclarecimento público e com a evidente redução dos casos da doença, a vacinação se espalhou em relativa paz por todo o Brasil.

Durante o período das trevas, de 1964 a 1985, os militares no poder realizaram várias, e notáveis, campanhas de vacinação em massa, sendo uma das mais marcantes a que enfrentou e venceu um surto de meningite nos anos 70. Apesar de ter ocorrido, no governo Figueiredo, nos anos 80, um entrevero com o Doutor Sabin, sobre a campanha contra a Poliomielite, os milicos se saíram bem no item imunização.

No governo Sarney, em 1986, foi criado o personagem Zé Gotinha, destinado a massificar entre as crianças uma imagem simpática e acolhedora para a vacinação, e as campanhas educativas nacionais ganharam nova força.

Collor apostou na imunização e ousou importar de Cuba preciosos lotes de vacinas; o médico alagoano Luiz Romero Farias, então secretário-executivo do Ministério da Saúde foi quem fez a diplomacia com Havana, diretamente com Fidel Castro. Itamar manteve a linha vacinal.

Fernando Henrique Cardoso ampliou o esforço imunizante e participava presencialmente da abertura de cada campanha. Lula seguiu no mesmo caminho de aposta na vacina, assim como Dilma, e Temer da mesma forma. Ou seja, quem cingiu a faixa verde-amarela, desde 1904, investiu em vacinação, menos um.

Esse esforço nacional pela vida está de volta, e esta é uma das mais importantes conquistas da relocação da civilidade à presidência da República, depois de quatro anos de barbaridades genocidas. Que as campanhas de vacinação em massa se espalhem pelo Brasil.