Populações originárias e o futuro
Depois do longo intervalo provocado pelo Covid-19, o Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas retornou a seu tradicional programa de formação intelectual através de seminários e cursos, com um ciclo de debates sobre os povos originários.
Com a denominação de “Os Indígenas e as histórias de Alagoas” o circuito de formação se estendeu pelos dias 9, 10 e 11 de maio, em seis palestras e seus respectivos debates, com participação especial de equipes de estudantes do IFAL.
Rita Santos (UFPB) e Jorge Vieira (CESMAC) abordaram o tema “Coleções Etnográficas”; Karina Melo (UPE) e Anderson Lopes (UNEAL), “Presença Indígena”; Amaro Leite (IFAL) e Aldemir Barros (UNEAL), “Luiz Sávio e Indígenas em Alagoas”. Professores Doutores, todos.
DÉBITO HISTÓRICO
Ao longo dos séculos, o estudo das populações originárias foi feito – quando foi feito – com muita timidez, quase como postura heroica e, vez em quando, escorregando para certa visão folclórica – como no caso do nativismo integralista (vide o “Anauê!”).
Para o bem ou para o mal, o desenho indígena foi romantizado a partir da literatura, mesmo sem chegar à indignidade de generalizar a população nativa de forma tão abjeta como nossos vizinhos ao Norte e seus filmes de faroeste. Mas lá e cá, o genocídio índio é fato.
Para o mal ou para o bem, nos Estados Unidos a crônica da matança salvou e preservou informações fundamentais, como as contidas no Smithsonian Institute. Aqui nem sabemos ao certo se “Caeté” quer dizer uma tribo ou simplesmente “povo da mata”.
Importante dizer que o Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas é guardião de um dos melhores acervos etnográficos de todo Brasil, a Coleção Jonas Montenegro – que reúne peças preciosas das populações originárias amazônicas, somadas a objetos das tribos alagoanas.
CIDADANIA MULTIÉTNICA
Só recentemente a questão da diversidade étnica brasileira passou a ser encarada como algo além da compaixão pela vida indígena e tem sido redesenhada a noção sobre os direitos gerais dessas populações originárias e suas descendências.
Nos tempos em curso as questões da autodeterminação e da integração passa por revisões importantes, avançando no campo da defesa da intocabilidade das populações ainda em estágio tribal puro, e da instrução dos grupos incorporados à contemporaneidade.
Em Alagoas, não existindo mais tribos em condição selvícola pura, se tem avançado na formação intelectual das populações originárias e seus descendentes, com as universidades locais abrindo importantes espaços para estudantes indígenas.
Graduação, mestrado e doutorado começam a ser usufruídos por integrantes das tribos alagoanas, o que é de extrema importância para a Democracia real e para a inserção socioeconômica, política e intelectual dessas etnias originárias.
No seminário em questão, não por acaso no tema Sávio de Almeida, brilharam – com intervenções do mais alto nível – os intelectuais Maynami Xuxuru-Cariri e Cícero Geripankó, ambos pós-graduados e militantes destacados em suas etnias.
OLHANDO O HORIZONTE
Não é possível recuperar, nem corrigir o passado. Mas é factível mexer no presente e consolidar novos rumos para o futuro. Recordando novamente Luiz Sávio de Almeida, para escrever uma nova história é indispensável investir no intelecto.
Sávio era muito rigoroso nisso, insistente e até cabuloso de tanta pressão que fazia para uma aprofundada e diversificada formação científica da militância, especialmente indígena. Criticava a esquerda por não se empenhar mais junto à Academia – e estava certo.
Além de Cícero Geripankó e Maynami Xucuru-Cariri, mais intelectuais estão se formando e trabalhando suas realidades étnicas. Allyne Jaciara (povo Koiupanká), de Inhapi, por exemplo, foi destaque nacional em seu mestrado sobre educação indígena em 2021.
Em termos de Brasil, de 2011 para 2021, o número de indígenas nas faculdades pulou de 9.764 para 46.252: quintuplicou. Mas, do 1,4 milhão identificados como índios, apenas 3,3% frequentam o ensino superior – dados do IBGE/INEP sobre o Censo 2022.
Alagoas está razoável nessa fita, é certo; mas precisamos melhorar muito mais. Quem venham mais e mais seminários como esse organizado pelo IHGAL.
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