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Travessia difícil: A esquerda só é solidária no câncer?

A ode ao sofrimento, talvez seja a única história socializada nas empreitadas políticas recheadas de conspiração

Por Marcelo Firmino 27/10/2024 11h11 - Atualizado em 27/10/2024 11h11
Travessia difícil: A esquerda só é solidária no câncer?

“O mineiro só é solidário no câncer”. A frase é atribuída ao “imortal” da Academia Brasileira de Letras, Otto Lara Rezende. Mas tornou-se uma espécie de meme nas crônicas do carioca Nelson Rodrigues.

Solidariedade, atualmente, é algo cada vez mais raro. O cotidiano das pessoas tornou-se personalíssimo e o sentimento de coletividade ficou ainda mais distante, possivelmente pendurado em algum cabide do passado.

Se é assim na vida da maioria, é muito mais ainda no espectro político, onde os interesses pessoais se sobrepõem enormemente aos do coletivo.

A esquerda brasileira bem sabe disso, mas não externa. O que vive hoje o PT é um emblema desse estado do ser mais eu do que nós. É bem verdade que a esquerda nunca foi tão unida, considerando as inúmeras correntes egocêntricas e conflituosas em seu mundo.

Em Alagoas, por exemplo, o desgaste e as relações entre os líderes das diversas tendências do Partido dos Trabalhadores têm pontuado de forma assoberbada, quando deveriam estar construindo caminhos e pontes para travessias e conquistas futuras.

Ora, a construção do caminho já é uma luta ferrenha com as tendências unidas, imagine com elas divididas, se atacando, com uns e outros agindo no subterfúgio para derrubar comandos que aos seus olhos não lhes interessam?

Isso tem sido quase que uma ode ao sofrimento. Talvez, a única história socializada, de fato, nas travessias das empreitadas políticas que surgem. Mas, no fundo, os olhos da esperteza só estão voltados mesmo para a conspiração (ainda mais comum em partidos à direita), contra comandos que julgam indesejados.

Digo isso por que nunca escondi que sou de esquerda – com orgulho – e acompanho a história política nesta terra há 40 anos, inclusive, na trincheira de luta no Sindicato dos Jornalistas de Alagoas, durante a ditadura militar.

Há hoje muito mais de oportunismo e profunda escassez de diálogo para o entendimento por parte de pseudos socialistas. Muitos, inclusive, pulando de galhos quando conveniente. Há muito de xiitismo e nenhum sinal de sensatez para o planejamento futuro, com os pés no chão, visando o crescimento coletivo.

Na referência da esquerda, o PT é, obviamente, o partido mais empoderado. Em Alagoas poderia ser ainda mais se a altivez fosse uma concepção coletiva. Mas não é. E assim o futuro é duvidoso. Mas, pode estar bem à conveniência de quem trabalha pelos subterrâneos da política.

Política, aliás, cada vez mais cancerígena. Mas, segue a luta, sem medo de ser feliz.