Cultura

Do Recôncavo Baiano

Cantor e compositor, Caetano Veloso completa 80 anos neste domingo (7)

Ainda jovial, Caetano Emanuel Viana Teles nasceu em Santo Amaro da Purificação

Por Mauro Ferreira/G1 07/08/2022 11h11
Cantor e compositor, Caetano Veloso completa 80 anos neste domingo (7)
Caetano Veloso chega aos 80 anos - Foto: Filipe Costa

Caetano Veloso é leonino. Embora pautado pelo mito de Narciso, como os leoninos, Caetano Emanuel Viana Teles Veloso é um eternamente novo baiano de Santo Amaro da Purificação (BA) que sabe olhar para além do próprio espelho e que, ainda jovial na música e na vida, parece desmentir os 80 anos que completa hoje, 7 de agosto de 2022.

Sim, aos 80 anos, Caetano Veloso ainda é um leão que mantém os olhos bem abertos para capturar e traduzir o Brasil no cancioneiro que cria desde meados dos anos 1960. Basta ouvir o mais recente álbum de músicas inéditas do cantor e compositor, Meu coco (2021), para identificar em Caetano a habilidade para radiografar o país através da grande obra.

Para a massa, o último grande sucesso autoral de Caetano é o samba-reggae A luz de Tieta (1996), apresentado há 26 anos na trilha sonora de filme dirigido por Cacá Diegues com base em livro do escritor baiano Jorge Amado (1912 – 2001).

Para os nichos que consomem discos e shows de ícones da MPB projetados na década de 1960 na era dos festivais, o artista ainda oferece biscoitos finos como Não vou deixar (2021), o funk do vovô nervoso com os rumos do Brasil. Como típico leonino, Caetano é do tipo apaixonado que organiza os movimentos e toma a frente de tudo, sinalizando tendências.

Como nunca quer sair de cena, pela própria natureza narcísica, o artista procura jamais perder o bonde, elogiando novos artistas com frequência, sobretudo astros populares de importância minimizada pelos críticos de música e pelas elites culturais.

Principal arquiteto da Tropicália, movimento que derrubou muros e (pre)conceitos entre 1967 e 1968, Caetano Veloso atravessou o exílio mandando notícias e músicas do mundo de lá. Na volta ao Brasil, em 1972, lançou um disco de banda, Transa, hoje alçado ao status de cult, e se travestiu de Carmen Miranda (1909 – 1955), abrindo portas para artistas andróginos como Ney Matogrosso, furacão e revelação de 1973.

Sem nunca ter deixado de fornecer (grandes) canções para as vozes de Gal Costa e Maria Bethânia, Caetano soube pavimentar a própria trilha de sucesso sem deixar de fazer pulsar a veia da experimentação.

Os cinco luminosos álbuns gravados com A Outra Banda da Terra – Muito (Dentro da estrela azulada) (1978), Cinema transcendental (1979), Outras palavras (1981), Cores, nomes (1982) e Uns (1983) – enfileiraram sucessos nas playlists da época e, no caso dos dois primeiros, se tornaram quase greatest hits do cantor.Ciente de que o passado pode se tornar roupa velha que não nos serve mais, como disse ao Brasil um compositor cearense em fase divina e maravilhosa, Caetano andou sempre para frente. 

Fez alianças com a geração 80 do pop rock brasileiro no álbum Velô (1984), revisou de certa forma a Tropicália ao passar canções brasileiras pelo filtro norte-americano dos produtores musicais do álbum Estrangeiro (1989) e se permitiu usar traje de gala ao ressignificar para o Brasil o cancioneiro hispânico no songbook latino Fina estampa (1994).

Quando pareceu senhoril ao lançar heterodoxo songbook da canção norte-americana no álbum A foreign sound (2004), após a frustração com o abafamento da revolução ansiada em Noites do norte (2000), Caetano virou o jogo, o disco, se juntou com jovens músicos de indie rock e se renovou, renovando também o público, na fase com a BandaCê.

Foram dez anos nessa vibe jobial. Seguiram-se então show e disco revisionistas com Gilberto Gil – o amigo de fé e irmão camarada de Caetano – e um espetáculo com os três filhos homens e músicos, todos talentosos. Moreno Veloso, Tom Veloso e Zeca Veloso são filhos que Caetano protege com a fúria de leão orgulhoso da cria.Em todos os momentos, Caetano Veloso nunca deixou de ser Caetano Veloso. 

O álbum e o corrente show Meu coco mostram uma cabeça ainda fervilhante de ideias tropicalistas e pronta para, olhando através e além do espelho, ampliar a obra antropofágica que se tornou uma das mais completas traduções das belezas, males e contradições do Brasil.

Vamos comer Caetano aos 80 anos!

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