Cultura
Válvula de escape: Jovem escritor transforma a dor em poesia
João Vitor Ferreira já lançou dois e-books: ‘Do avesso ao Verso’ e ‘Quíron em Escorpião’
Desde pequeno, João Vitor Ferreira tinha acesso à literatura e aos livros de poemas de sua mãe. Ler aqueles versos e a forma como os poetas brincavam com as palavras lhe encantava. Começou então a praticar em casa e na escola, e um de seus primeiros poemas foi escrito quando ele tinha apenas nove anos.
“Lembro-me de estar sentado em uma cadeira de balanço, por volta dos oito, lendo uma coletânea de poesias da minha mãe, que reunia textos de Álvares de Azevedo, Cecília Meireles, Cora Coralina, Drummond de Andrade, entre outros”, conta.
Quando cresceu, João se formou em Jornalismo pela UNIT/AL, e não abandonou a veia poética. Em 2020, ele lançou “Do Avesso ao Verso”, seu primeiro livro de poesias. Em 2021, lançou o segundo livro: “Quíron em Escorpião”. Ambos estão disponíveis pelo Amazon Kindle.
“Os dois livros têm muito em comum. Talvez a maior ligação entre eles seja o fato de que é o mesmo João falando sobre suas vulnerabilidades e expondo sentimentos como solidão, medo, angústia, tristeza e desamor. Nos dois livros, pode-se encontrar poemas que falam da boemia, da escuridão da noite, dos dias em que o sol não entrou pela janela do quarto. A maior diferença está na forma como os versos foram escritos e nas referências usadas. No segundo, por exemplo, usei muitas expressões da astrologia e mitologia grega e romana para intitular poemas ou descrever situações”, explica o autor.
Ele cita ainda que o lançamento digital do livro promoveu um alcance maior para o público, por ser mais acessível e barato. Além disso, há a possibilidade de ler no celular, tablet ou no próprio aparelho Kindle. “Eu, particularmente, adoro livros físicos. Folhear e sentir o cheiro das páginas é uma sensação mágica. Mas o livro digital é uma boa oportunidade para escritores que estão começando e que não têm contrato com uma editora”, comenta.
Poesia como válvula de escape
Os livros de João falam sobre temas como a depressão, especialmente acentuada e tão debatida durante a pandemia. O autor cita que não tem medo de falar de suas cicatrizes e camadas mais profundas e se pode ajudar outras pessoas falando dessa temática, já fica contente. Para ele, é fato que ainda há muito tabu em torno de transtornos psiquiátricos, e quanto mais falarmos, mais aniquilamos esses preconceitos.
“Durante a pandemia da Covid-19, muitas pessoas tiveram que olhar para dentro de si mesmo e tiveram contato com feridas que muitas vezes já doíam, mas estavam disfarçadas. Acredito que nunca falamos tanto sobre saúde mental como agora, e isso é ótimo, pois o tema não deve ser lembrado apenas no 'Setembro Amarelo' ou 'Janeiro Branco'. Tenho uma amiga que tem depressão, mas escondeu por muito tempo. Depois que ela leu meu livro, chegou para mim e disse: “Ei, João! Você me fez criar forças para buscar ajuda’. Senti que cumpri meu papel”, finaliza.
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