Quando os irmãos Thiago, Caroline e Gustavo Félix engataram uma conversa despretensiosa no apartamento da mãe em Maceió, ainda em 2015, o trio não imaginava que oito anos depois estaria à frente de um dos negócios mais bem sucedidos da região Agreste de Alagoas, o Félix Supermercado.

A empresa já é bem popular entre os arapiraquenses. Muitos clientes estrearam no universo das compras online de supermercado por meio do Félix, bem antes desse tipo de serviço só chegar para o comércio em geral com a pandemia. Em 2018, o negócio dos três irmãos aderiu ao Site Mercado, plataforma de venda online com delivery que já era conhecida no eixo Sul/Sudeste, mas uma grande incógnita para os consumidores de uma cidade cravada no interior do Nordeste.

“Ao implementar de vez o varejo da nossa loja no bairro Baixão, em 2018, iniciamos nossa caminhada às feiras de supermercado, e em umas delas, em São Paulo, nos deparamos com uma plataforma de e-commerce para supermercados, o Site Mercado. Sua tecnologia possibilita realizar compras de itens de supermercado de forma online, e nós levamos isso para Arapiraca. Posteriormente, aderimos a outros market places e o Site Mercado também acabou sendo adquirido pelo Ifood”, lembra Thiago Félix, o irmão que hoje comanda o negócio.

“O desafio no início foi gigantesco. Ninguém realizava esse tipo de serviço, culturalmente a população ainda desconfiava muito da prática, que já é bastante comum no Sudeste há algum tempo. Lembro como hoje quando ouvimos o alerta sonoro com o primeiro pedido. A partir daí sabíamos que, ao ter um primeiro cliente, então nós tínhamos um negócio. Nossas questões estavam voltadas para operação, separação dos itens, o tempo de entrega, a logística, o pós-venda, etc. Tudo isso e também para treinar a equipe, que não entendia como operar essa novidade”, completa.

Quando a pandemia bateu à porta de todo mundo, o Félix Supermercado já tinha experiência com as vendas online e o negócio já estava pronto para receber esse tipo de demanda, mas os irmãos não esperavam que ela fosse tão alta. “Foi o período de maior incidência de pedidos online dentro da pequenina loja de 80m². Acredito ser um dos pontos altos do nosso negócio. Em um momento de necessidade da população, a nossa loja estava preparada para esse novo formato online, que posteriormente iria e está predominando em diversos segmentos de comércio e serviço”, diz.

Thiago afirma que tem orgulho de falar sobre o pioneirismo. “Fomos o primeiro a vender online em Arapiraca e ter realizado, até hoje, mais de 100 mil pedidos online, seja nos canais do nosso próprio market place, ou no Ifood, Quero Delivery, WhatsApp e Zé Delivery, sendo que este último nós somos exclusivos em Arapiraca”, comemora o empresário.

Desafio

Desde a abertura do negócio, o momento mais desafiador para o empresário também foi a chegada da pandemia. Se no atendimento online o supermercado já estava vários passos à frente da concorrência, nos demais aspectos o peso foi igual ao enfrentado por quase todo mundo quando a Covid-19 desembarcou em Alagoas.

“O momento pandêmico foi marcado por muitas mudanças. Novas formas de agir, de lidar com o negócio. Nosso setor era considerado essencial, então havia o fluxo de pessoas, mesmo com orientação de evitar o máximo possível, e por isso sempre oferecíamos realizar as entregas online. Mas foi bastante difícil para os nossos colaboradores, saírem de suas casas e trabalhar, o fluxo laboral pelos atestados, as perdas de pessoas próximas, as incertezas sobre o futuro em vários contextos, desde o biológico ao psicossocial e em interface ao cenário econômico”, relembra Thiago.

“Nossa adaptação foi oferecer o serviço que já estávamos preparados para oferecer, e somos muito felizes de ter contribuído com a população na época, bem como tomar as medidas de segurança possíveis no momento, aliada a fé inabalável em Deus para atravessar aquele período”, observa.

Expansão

Atualmente, o negócio trocou o bairro Baixão por outro local, um pouco maior, para atender melhor os clientes. Agora, o supermercado está situado na AL-220, no bairro Senador Arnon de Melo, e conta com 35 colaboradores e dois estagiários.

“Nossos planos estão em cada vez mais oferecer o melhor serviço, com uma experiência prática e prazerosa. Nosso intuito é oferecer produtos de qualidade e originais, que muitas vezes nosso consumidor não acha na região. Focamos em várias frentes, desde o atendimento, as vantagens para o cliente através da adesão ao Clube X, que é o clube de descontos do Félix”, revela.

“Exploramos o horário de funcionamento, pois é a única loja aberta de 7h à meia-noite, de segunda a sábado, e até 23h aos domingos. Somos a primeira loja também a implantar o Cupom Verde, um aplicativo sustentável que possibilita o cliente resgatar seu cupom fiscal direto no aplicativo, sem precisar imprimir aquela grande quantidade de bobina. Também estamos com self checkout, para otimizar as compras dos clientes, onde eles podem realizá-las individualmente, tornando uma experiência rápida e prática”, conta Thiago.

O empresário adianta também que planeja deixar a loja mais funcional, passando a operar no modelo 24 horas sem precisar de colaboradores para o atendimento ao público.

“Nós já trabalhamos com portas automáticas, e a ideia é que o cliente cadastrado no nosso Clube X seja reconhecido por seu ID facial e realize as suas compras mesmo após o fechamento convencional da loja. A ideia ainda está em maturação, mas é um dos próximos projetos junto às etiquetas eletrônicas. Sobre expandir para outros estados, como estamos apenas desde 2021 nessa nova loja, a ideia é aprimorar esses processos e torná-la um modelo de franquia, para que de fato o Félix possa ser replicado em mais lugares”.

Para dar continuidade a essa jornada, o empresário conta com o apoio do Sebrae Alagoas por meio da realização de consultorias específicas em diversas áreas do negócio.

“O Sebrae sempre nos ajudou e nos apoiou em diversas frentes. Desde a participação em consultorias, onde o Sebrae arca com a maior parte do valor e a gente entra com um valor menor. Tem também as participações do ALI, os Agentes Locais de Inovação, consultorias e treinamentos disponibilizados pela própria instituição. Inclusive, nos últimos dois meses, tivemos alguns treinamentos. O último foi de liderança, e no final deste mês de agosto a gente teve treinamento de vendas e atendimento ao cliente”, revela.

Negócio familiar

A história de criação do Félix Supermercado é a de um negócio tão de família que até mesmo o imóvel que abrigou a primeira loja tem raízes consanguíneas. “Um ponto comercial de propriedade da família de nossa mãe estava disponível para aluguel. E não era qualquer ponto. Foi o lugar onde minha avó, minha mãe e minhas tias residiram por mais de 35 anos, e ao lado da pequena casa existia a bodega do nosso falecido avô, o Seu Walter”, conta Thiago.

“O lugar é extremamente simbólico e especial. Então, despretensiosamente, manifestamos a ideia de alugar para nós, os irmãos. Na euforia do momento, a frase dita foi: liga pra ela e diga que queremos o ponto. Feito isso, nos questionamos: o que vamos fazer lá agora?. Nós sempre fomos muito unidos e almejávamos realizar algo juntos, embora nossas formações acadêmicas tenham levado a um caminho não tão convergente. Minha irmã é formada em Odontologia, meu irmão em Administração de Empresas e eu em Psicologia”, destaca.

Ancorados no know-how do irmão administrador, que trabalhava à época na Ambev, surgiu logo a ideia de montar um depósito de bebidas. “Realizamos um modesto plano de negócios e apresentamos a ideia ao nosso pai, Aloísio, que já trabalhava no comércio varejista/atacadista de alimentos há muitos anos. Sua percepção era que o ramo de bebidas, assim como outros, é extremamente competitivo e não possui as melhores margens de lucro”, diz.

“Então, sugeriu inserir cereais e outros itens para compor o mix da loja. Nesse caso, a empresa familiar que ele possuía junto à matriarca, nossa avó Cristália, forneceu as primeiras mercadorias do estabelecimento”, completa Thiago.

O ano era 2015. Durante as obras, no mês de novembro, aconteceu um acidente que abalou toda a família: a mãe dos irmãos morreu num grave acidente de carro, no caminho de Arapiraca à Maceió.

“Ali perdemos nosso chão, e a euforia daquele nosso sonho quase não se concretiza. Porém, decidimos continuar com a ideia, principalmente para simbolizar a nossa união, que tanto a nossa mãe admirava e pela qual ela era responsável junto ao nosso pai. O nome Félix é sobrenome dela, e esse é o maior orgulho que temos do nosso empreendimento, realizar algo juntos e levar o nome de nossa mãe por toda região”, relembra, com emoção, o empresário.