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Injustiça

Influenciadoras condenadas por contestar desinformação sobre diabetes

Divulgadoras científicas vão recorrer de decisão que determina indenização a nutricionista por contestar ligação entre diabetes e vermes.

Por Redação com Site* 22/09/2024 09h09 - Atualizado em 22/09/2024 10h10
Influenciadoras condenadas por contestar desinformação sobre diabetes
Foto: Reprodução Internet

https://www.youtube.com/watch?...As divulgadoras científicas Ana Bonassa, bióloga, e Laura Marise, farmacêutica, criadoras do canal “Nunca Vi 1 Cientista”, foram condenadas a pagar R$ 1 mil de indenização por danos morais ao nutricionista André Luis Lanza. A decisão veio após as influenciadoras contestarem publicamente uma postagem de Lanza que associava diabetes à presença de vermes no corpo. O caso ganhou grande repercussão nas redes sociais e gerou debate sobre os limites da liberdade de expressão e o combate à desinformação científica.

“Estamos cansadas, porque apesar de o público estar a nosso favor, um processo é exaustivo”, afirmou Bonassa em entrevista à Folha de S. Paulo. Segundo ela, o objetivo agora é expor o problema. “Não fomos as primeiras e nem seremos as últimas a serem processadas, mas é nossa responsabilidade mostrar que esse tipo de decisão está sendo tomada no Judiciário.”

A controvérsia teve início em junho de 2023, quando as divulgadoras publicaram um vídeo no Instagram alertando sobre um conteúdo de Lanza, dono do perfil “Dr. Lanza” e da clínica Lanza Saúde Integrativa, em Jundiaí (SP). O nutricionista havia repostado uma publicação do terapeuta holístico Jaime Bruning, que sugeria que “vermes que atacam o pâncreas” seriam a causa do diabetes. Na postagem, Lanza reforçou a afirmação dizendo que “diabetes é verme” e convidou seus seguidores a comentar “quero” para conhecer um tratamento de desparasitação.

O vídeo de Bonassa, que foi removido pelo Instagram, explicava que não há nenhuma relação entre diabetes e parasitas. “Se você vir alguém propagando isso, denuncie e bloqueie. Porque isso é desinformação e está chegando forte para vender curso”, alertou a bióloga na gravação.

O caso evoluiu para uma ação judicial quando Bonassa comentou na postagem de Lanza, apontando a desinformação, e foi bloqueada pelo nutricionista. Em setembro de 2023, as divulgadoras foram processadas. “Quisemos expor o caso para evitar que aconteça novamente. É muito perigoso para o trabalho dos divulgadores de ciência e outras pessoas que combatem desinformação que haja uma condenação por isso”, ressaltou Laura Marise, acrescentando que “qualquer divulgador que passe por isso não deve ficar calado”.

A decisão foi proferida pela juíza Larissa Boni Valieris, da 1ª Vara do Juizado Especial Cível de São Paulo. Para a magistrada, a exposição feita pelas divulgadoras causou “vergonha e tristeza” a Lanza, resultando em uma “mancha” na sua imagem e prejuízos financeiros “na venda de seus serviços”. O perfil do nutricionista, que tinha mais de 60 mil seguidores, foi deletado após o ocorrido, mas ele já criou outra conta, agora com 16 mil seguidores, onde promove cursos e vende e-books.

Entidades médicas como a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) e o Conselho Federal de Nutrição (CFN) divulgaram uma nota pública de esclarecimento. No documento, as organizações reforçam que o diabetes é uma “condição clínica, crônica e sem cura, que pode ser acompanhada de complicações impactantes” e que “é de suma importância que essas pessoas estejam totalmente engajadas no tratamento adequado”.

A advogada Gisele Truzzi, especialista em direito digital e presidente da Truzzi Advogados, que não está envolvida no caso, avalia que o uso de informações do perfil de Lanza pode ter sido um ponto relevante para a decisão judicial. “O uso pode ter sido extrapolado no vídeo das cientistas, e a presença de informações pessoais pode ter influenciado o magistrado”, disse, referindo-se ao número de CRN (Conselho Regional de Nutrição) e à cidade de atuação do nutricionista, dados que estavam no perfil público dele.

No entanto, Truzzi destaca que, por se tratar de um perfil público, não há violação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). “Presume-se que a pessoa está ciente de que ela pode perder o controle sobre aquele conteúdo”, afirmou.

Enfrentando o processo há um ano, as divulgadoras continuam ativas em suas redes sociais, focando no combate à desinformação. “Não vamos parar”, garantem.


Veja o vídeo.

* ICL NOtícias

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