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Saúde do Trabalhador

Brasileiros estão entre os mais tristes e irritados no trabalho na América Latina

Pesquisa revela que 46% dos trabalhadores do país enfrentam altos níveis de estresse.

Por Redação com Folhapress 23/09/2024 14h02
Brasileiros estão entre os mais tristes e irritados no trabalho na América Latina
Foto: ilustrativa/Freepik

Uma pesquisa da Gallup, intitulada "State Of The Global Workplace", revelou um cenário preocupante sobre a saúde emocional dos trabalhadores brasileiros. Entre os mais de 128 mil entrevistados em 160 países, os brasileiros ocupam o quarto lugar na América Latina em sentimentos de raiva e tristeza, e o sétimo em estresse.

Dos trabalhadores brasileiros consultados, 46% afirmaram ter experimentado estresse no dia anterior à pesquisa. Embora o índice seja elevado, o Brasil ainda está atrás de países como Bolívia (55%), República Dominicana (51%), Costa Rica (51%), Equador (50%), El Salvador (50%) e Peru (48%) neste quesito. Paraguaios (34%) e jamaicanos (35%) são os menos estressados da região.

No entanto, quando se trata de raiva, 18% dos brasileiros se disseram afetados, ficando atrás apenas de Bolívia (25%), Jamaica (24%) e Peru (19%). Em termos de tristeza, 25% dos trabalhadores do país relataram o sentimento, superados apenas por Bolívia (32%), El Salvador (26%) e Jamaica (26%).

Para especialistas, fatores externos contribuem significativamente para essa situação. "O trabalho molda aspectos importantes da subjetividade, que não ficam restritos ao ambiente profissional, mas se estendem à vida privada e familiar", explica Nilton Ota, professor do departamento de Psicologia Social e do Trabalho da USP. Segundo ele, problemas no ambiente de trabalho podem impactar diretamente a dinâmica familiar, gerando novos significados para as emoções envolvidas.

A precarização das relações de trabalho, como o aumento da pejotização, também é apontada como um fator crítico. “Essas vulnerabilidades interrompem a continuidade da proteção ao trabalhador e geram uma trajetória instável no mercado, alternando entre emprego e desemprego, sem acesso a direitos trabalhistas”, destaca Ota.

A pandemia de Covid-19 também deixou marcas profundas. "Mesmo após dois anos, o trauma coletivo permanece", comenta Lucia Barros, criadora do primeiro curso de mindfulness e ciência da felicidade na ESPM. Para ela, é fundamental não rotular emoções como raiva, tristeza e estresse como negativas, mas sim como desafiadoras. “Se uma emoção é negativa, tendemos a evitá-la, achando que algo está errado. Mas as emoções são apenas informações que indicam se uma situação é confortável ou desconfortável”, argumenta Barros.

O psiquiatra Arthur Danila, coordenador do Programa de Mudança de Hábito e Estilo de Vida do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, ressalta que o estresse é uma resposta biológica ao aumento do hormônio cortisol. “A desregulação do estresse pode nos deixar em um estado ineficiente, e a raiva e a tristeza acabam surgindo como resultado final desse estresse mal gerido”, afirma. Ele aponta que o Brasil estar em sétimo lugar em estresse, mas em quarto em tristeza e raiva, pode indicar que o estresse é menos reconhecido no país.

A pesquisa da Gallup mostra que fatores econômicos e sociais afetam diretamente a saúde mental dos trabalhadores. Para Nilton Ota, políticas públicas são essenciais para proteger os trabalhadores. “Sem essas políticas, retrocederíamos a um modelo em que a responsabilidade pela proteção era delegada moralmente ao empregador, sem amparo jurídico”, alerta o especialista.

Enquanto isso, práticas de gestão de estresse, como mindfulness e meditação, podem ajudar a mitigar o impacto emocional. "A colaboração e o cultivo de relacionamentos saudáveis são fundamentais para promover o bem-estar. Encontrar e nutrir um propósito de vida, especialmente no trabalho e nas conexões sociais, pode também proporcionar um sentido de realização e felicidade", conclui Barros.

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