Geral
Aumento do vício em apostas sobrecarrega atendimento no sistema público de saúde
Cresce a demanda por tratamento para dependência em jogos, mas Caps enfrenta falta de recursos e especialistas.
A psiquiatra Geisinale Dias, 33, observa de perto o impacto das apostas online na rede pública de saúde. Atuando há três anos no Caps AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) de Americana, no interior de São Paulo, ela atende um número crescente de pacientes com vício em jogos. “A maioria demora pra vir por vergonha dos prejuízos financeiros e pessoais”, relata Dias. Segundo ela, a maior barreira no tratamento da ludopatia, compulsão por jogos de azar, é a falta de recursos. “É necessário investimento, principalmente diante do volume alarmante de jogos disponíveis.”
Outros profissionais de saúde do Caps, ouvidos pela Folha, confirmam a insuficiência de estrutura para lidar com o crescente número de dependentes. A falta de especialistas e até de espaço físico nas unidades agrava a situação. O aumento no número de casos é reflexo da popularização dos sites de apostas no Brasil, impulsionada pela Lei nº 13.756 de 2018, que autorizou as apostas esportivas. Desde então, jogos como o Tiger Fortune, conhecido como "jogo do tigrinho", também ganharam popularidade.
Dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostram que os brasileiros gastaram R$ 68 bilhões em jogos online no primeiro semestre deste ano, resultando em 1,3 milhão de pessoas inadimplentes por causa das apostas. Para Ciro Jorge, 32, médico no Caps da Mooca e no infanto-juvenil de Mauá, essa explosão de novos apostadores piorou o quadro de saúde mental dos pacientes. “Pacientes com transtornos pré-existentes, como depressão ou alcoolismo, que aderiram aos jogos, passaram a apresentar agravamento dos sintomas”, explica Jorge.
O médico ainda aponta a escassez de psicólogos e medicamentos específicos para controle de impulsos, complicando o tratamento. “Estamos com dificuldades de estabilizar novamente esses pacientes”, acrescenta. A recomendação do Ministério da Saúde é que pessoas com sinais de dependência busquem as unidades do Caps, onde o tratamento da ludopatia é oferecido.
Para a psicóloga Mirella Mariani, supervisora do Pro-Amjo (Programa Ambulatorial do Jogo) do Instituto de Psiquiatria da USP, a carência de profissionais especializados no Caps limita o atendimento. “Profissionais de saúde mental treinados, utilizando metodologia baseada em evidências, teriam condições de realizar a avaliação, mas não são muitos os que possuem essa formação”, afirma. Mariani defende a implementação de rotinas de avaliação médica, psicológica e social, além do envolvimento familiar, para aumentar a eficácia do tratamento.
Outro desafio enfrentado é a ausência de dados precisos sobre a ludopatia no sistema público. O SUS não registra de forma obrigatória os casos de “jogo patológico”, dificultando o mapeamento do problema. Em nota, o Ministério da Saúde informou que ampliou a Raps (Rede de Atenção Psicossocial), com a criação de 117 novos Caps, totalizando 2.953 unidades no país, e participa de um Grupo de Trabalho Interministerial para tratar do jogo patológico junto ao Ministério da Fazenda.
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