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Pesquisa dos EUA

Mortes relacionadas ao álcool dispararam durante a pandemia

Por Alessandra Corrêa/BBC News com Em Tempo Notícias 28/03/2022 08h08 - Atualizado em 28/03/2022 17h05
Mortes relacionadas ao álcool dispararam durante a pandemia
Aumento do consumo de álcool pode estar gerado ao estress, diz pequisa - Foto: Divulgação

Nos EUA, número de mortes envolvendo álcool passou de 78.927 em 2019 para 99.017 em 2020, um aumento de 25,5%; pesquisa observou alta também no Brasil. O primeiro ano da pandemia de covid-19 foi marcado por um salto no número de mortes relacionadas ao abuso de álcool nos Estados Unidos. 

Segundo pesquisadores do Instituto Nacional sobre Abuso de Álcool e Alcoolismo (NIAAA, na sigla em inglês), divisão dos Institutos Nacionais de Saúde, agência de pesquisa biomédica do governo americano, o número de mortes envolvendo álcool passou de 78.927 em 2019 para 99.017 em 2020, um aumento de 25,5%. Isso inclui desde casos de intoxicação pelo consumo excessivo de álcool até casos de falência hepática relacionada à bebida.

Quando considerada a taxa por 100 mil pessoas, o aumento foi 25,9%, passando de 27,3 mortes em 2019 para 34,4 em 2020. Nos 20 anos anteriores, de 1999 até 2019, a média de crescimento foi de 2,5% por ano. Os dados foram apresentados em um estudo publicado em 18 de março no Journal of the American Medical Association (JAMA), revista científica da Associação Médica Americana, e refletem um fenômeno também registrado em outros países, como o Brasil. 

De acordo com um levantamento divulgado no ano passado pela organização independente de saúde pública Vital Strategies, com base em dados Ministério da Saúde brasileiro, de 2019 para 2020 houve aumento de 18,4% em mortes no Brasil relacionadas a "transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool". 

O levantamento no Brasil usou critérios diferentes do estudo americano, mas o salto no primeiro ano da pandemia também ficou muito acima da média da década anterior, quando foram registrados aumentos pequenos ou até queda em alguns anos.

Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, o aumento desses números pode estar relacionado ao estresse gerado pela pandemia, na qual muitas pessoas enfrentaram isolamento e mudanças abruptas na rotina, no trabalho e nos hábitos de consumo, além de adiarem tratamentos de saúde física e mental. 

"Maior consumo de álcool para enfrentar fatores de estresse relacionados à pandemia, mudanças de políticas relacionadas ao álcool e interrupções no acesso a tratamento são possíveis fatores que contribuíram (para o aumento)", dizem os pesquisadores americanos.

Aumento no consumo 

O principal autor do estudo americano, o neurocientista Aaron White, que é conselheiro científico sênior do diretor do NIAAA, diz à BBC News Brasil que não esperava ver um salto tão grande nos óbitos. "Estávamos preocupados com a possibilidade de um aumento grande nas mortes, porque sabemos que as pessoas tendem a beber mais quando estão sob estresse, e a pandemia é uma enorme fonte de estresse", observa White.

"Mas não antecipávamos que fosse ser uma mudança tão grande. Até então, nos últimos 20 anos, o maior aumento anual havia sido de cerca de 5%", ressalta. Os pesquisadores decidiram medir o aumento no número de mortes por álcool depois que estudos indicaram um salto no consumo de bebidas alcóolicas para lidar com o estresse durante a pandemia.

Homens e mulheres de todas as idades 

Para chegar aos resultados, White e seus colegas analisaram certidões de óbito de pessoas com 16 anos ou mais em que o álcool foi listado como causa principal ou fator que contribuiu para a morte. Estão incluídas mortes resultantes de doenças do fígado associadas ao álcool, de transtornos mentais e de comportamento relacionados ao consumo de álcool e de overdose de drogas envolvendo também álcool, entre outras causas.

O estudo revelou aumento nos óbitos por álcool de homens e mulheres de todas as idades, com os maiores saltos nas faixas etárias de 35 a 44 anos (39,7%) e de 25 a 34 anos (37%).

Os pesquisadores ressaltam que, em 2020, um total de 2.042 certidões de óbito listaram tanto álcool como covid-19 entre as causas de morte, sendo que em 1.475 delas a causa principal era covid-19. "Apenas uma pequena proporção do aumento de mortes relacionadas ao álcool envolve covid-19 diretamente", afirmam os cientistas.

Crescimento sem precedentes 

Os impactos da pandemia de covid-19 nos Estados Unidos são vistos não apenas nos óbitos diretamente causados pela doença, que já deixou quase 1 milhão de mortos no país, mas também podem estar ligados a aumentos históricos em diversos outros tipos de mortes. O país enfrenta um crescimento sem precedentes na taxa de homicídios, com salto de 29% de 2019 a 2020 segundo o FBI (a polícia federal americana), maior aumento de um ano para o outro desde que dados nacionais começaram a ser coletados, em 1960.

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